A traumática queda do Cruzeiro abriu os olhos para como a conta chega depois de anos e anos de irresponsabilidade financeira dos clubes de futebol. Como se o poço já não fosse fundo, a falta de pagamento de dívidas – no caso o empréstimo do volante Denilson quatro anos atrás – causou a perda de seis pontos na série B em uma competição que já seria difícil.
Por isso agora os clubes brasileiros têm um exemplo inegável de como seus pecados podem ser cobrados. E uma das equipes que tem mais a aprender é o Atlético, que também não está bem financeiramente e por pouco também não perdeu pontos por calote em negociação. Só que a situação do Galo é completamente ímpar.
Dívidas, problemas e… otimismo?
O ano do Atlético começou de forma trágica. O time foi eliminado da Copa do Brasil pelo Afogados e da Sul-Americana na primeira fase. O técnico Rafael Dudamel, trazido com pompa, foi demitido. O impacto nas finanças dessas duas eliminações, especialmente da Copa do Brasil pela bolada que é distribuída, foi imensa.
Solução: trazer um treinador ainda mais caro. Jorge Sampaoli custa os olhos da cara. Especula-se que ele e sua comissão custam mais de 1 milhão por mês. E exige contratações de peso e tão caras quanto ele. O Santos basicamente gastou todo o dinheiro da venda do atacante Rodrygo para o Real Madrid em reforços para 2019. O resultado esportivo foi bom, não ótimo (não teve títulos). O financeiro foi trágico. E muitos dos jogadores que chegaram não tem potencial de revenda.
O Atlético sabe disso e está fazendo um pouco melhor: comprou Marrony, que pode ser vendido por um bom valor e Guilherme Arana (antes da chegada de Sampaoli), que não deu certo na Itália e Espanha, mas ainda é jovem. Porém, Keno, com 30 anos e R$11,8 milhões, dificilmente trará retorno financeiro com venda, só técnico.
Com um técnico desse nível e um elenco que se reforça, será normal ver o Atlético sendo bem cotado em sites como o Sportsbets.io quando os jogos do Brasileirão começarem. Claramente à frente hoje só dá para citar o trio Flamengo, Palmeiras e Grêmio.
Tudo isso seria lindo e maravilhoso se o Atlético não devesse dois meses de salário para o elenco e dois meses de direito de imagem. O crescimento do endividamento foi brutal nos últimos anos passando de 569 milhões em 2017 para 746 milhões em 2019.
O presidente Sette Camara começou seu mandato apertando o cinto, mas com o atual ano eleitoral não só jogou o cinto longe como ainda entrou em um rodízio. Como?
Aí que entra a situação sui generis do Atlético. O clube está aceitando a ajuda de “doadores”, atleticanos de bolsos fundos que estão colocando dinheiro em contratações. Rubens Menin, dono da MRV, que está construindo o estádio do clube, e Ricardo Guimarães, do Banco BMG.
Todo o discurso oficial é que se tratam de doações, mas que nem no discurso são doações porque os empresários abrem o jogo que o dinheiro será retornado nas vendas. Mas não será cobrado juros. Alguma vez isso deu certo no futebol brasileiro? A Crefisa no Palmeiras começou colocando dinheiro da mesma forma, mas foi punida pela Receita e decidiu mudar seu modelo. Não é o que acontece no Atlético.
Continuando na situação única do Galo, há também argumentos pró: o time é dono de metade de um shopping bem-sucedido em Belo Horizonte. E o estádio saindo será uma fonte de receitas.
Tudo isso entra na panela e se coloca intrigas políticas como tempero em ano de eleição e o coronavirus. Temos pronto um cenário completamente bizarro e perigoso. O endividamento é grande, o time segue gastando horrores, mas tudo com o argumento que há uma rede de segurança, que pode sumir. E os doadores/investidores são atores esquisitos que na história do futebol brasileiro sempre geraram dores de cabeça por anos.
Dito tudo isso, o Atlético ainda tem situação melhor que outros clubes igualmente endividados e sem ativos, como o Botafogo, por exemplo. Mas estamos falando de mais um clube mineiro que preocupa. E muito.
Da Redação