Em pouco mais de sete horas, foi aprovado por 273 conselheiros, eleitos e beneméritos, a criação da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Clube Atlético Mineiro. O voto derradeiro para um final melancólico foi dado às 18h23 desta quinta-feira (20).
A votação foi aberta na manhã; estão aptos a votar 409 conselheiros – a aprovação previsava de 273 votos. Foi posto em escrutínio a proposta de criação da SAF, além do modelo a ser feito e dos comandantes deste processo. Os chamados “4R”, representados pelos conselheiros Rafael e Rubens Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador, serão os proprietários da “Galo Holding”, em um esquema dito por seus representantes como ‘a primeira SAF feita por torcedores’.
Antecedentes da SAF
A discussão sobre o que seria uma sociedade anônima do futebol para o Atlético foi, antes de tudo, uma grande farsa. Os atuais gestores não escondiam que era necessário a criação da SAF para salvar o clube da insolvência: R$ 1.800.000.000,00. Dez zeros que representam a dívida do clube, vinda de diversas gestões mas multiplicadas após os últimos quatro anos.
Não obstante, a atual gestão, de Sérgio Coelho, apostou em empréstimos com juros diferentes dos demais, apostando que teriam menor aumento. Ledo engano. As dívidas dispararam. Neste cenário de “terra arrasada”, o Atlético se viu pressionado a vender um dos seu bens mais valiosos para ser solvente, o shopping Diamond Mall, localizado no bairro de Lourdes.
O valor da compra, que se imaginava suficiente, foi uma decepção. O gargalo ficava cada vez mais estreito. Dali apareceu a proposta da SAF.
4R
Apesar da gestão de Sérgio Coelho se autointitular “a mais vitoriosa da história do Atlético”, o poder se concentra na mão dos 4R. No último ano da gestão anterior, o grupo apareceu como a pedra de salvação para evitar o colapso, emprestando “sem juros”, a tom de “filantropia”, nas palavras de Rubens Menin, dinheiro para a associação tocar a vida do futebol.
O futebol foi seguindo, o presidente foi trocado, e em 2021 – já com o nome de “mecenas” – foi montado uma equipe dedicada a ganhar o troféu mais caro à todo e qualquer atleticano sonhava, o de campeão brasileiro. Em uma campanha irretocável, emocionante e inebriante, enfim o torcedor tirou do peito o grito que ficou entalado cinco vezes durante 50 anos.
O céu estava ao toque das mãos. E os “mecenas” viraram os 4R, ganhando apelidos carinhosos como “Vovô Menin”, vindos de torcedores felizes e encantados como enfim milionários atleticanos estavam salvando e fazendo o clube campeão.
Cai o castelo de cartas
2022 não foi um ano vitorioso para o “super Galo” montado pelo mecenato. Em competições importantes, como a Libertadores, o time bateu na trave e o gosto do que poderia ser melhor ficou – enquanto isso, os primeiros problemas do preço de ter um clube vencedor e competindo de igual para igual com potências nacionais estavam chegando.
A SAF aparecia de tempos em tempos, sob a figura de um homem norte-americano chamado Peter Grieve, de um fundo com origem no Zimbábue. Nunca visto em público, nem ao menos procurado por equipes de reportagem, o nome caiu no “folclore” atleticano – enquanto os 4R preparavam a sua incursão no projeto da sociedade anônima.
2023 veio e o dinheiro da “filantropia” já não estava mais disponível para o clube. Era andar com suas próprias pernas – isso se possível, já que a dívida estava galopante. E o futebol começou a definhar: venda de jogadores, atritos com a direção de futebol, troca de téncnicos, resultados medíocres. De “mecenas”, os 4R se apresentaram como os “salvadores da pátria atleticana” em um futuro depauperado. O final da história terminou nesta quinta (20).
Holding
Aprovados pelos conselheiros, a Galo Holding é uma empresa que ficará com 75% das ações de futebol do Atlético, e o restante estará sob a responsabilidade da associação. Esta empresa é captaneada pelos 4R, mais um grupo investidor e uma ‘associação’ de atleticanos interessados em porcentagens da SAF, chamada FIGA. Pelos próximos 30 anos, este será o grupo gestor.
Filipe Felizardo