BELO HORIZONTE (02/03/09) – A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG) participa de um projeto para o cultivo de pinhão manso consorciado à braquiária, que está sendo desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Refinaria Nacional de Petróleo Vegetal, a empresa Fusermann e a Universidade Federal de Viçosa (UFV). O objetivo é associar o cultivo da planta, de cujo fruto se extrai o óleo para fabricação de biocombustível, à pecuária leiteira. O sistema traz vantagens adicionais para o produtor familiar, ao proporcionar diversificação de renda, segundo técnicos especialistas. O programa é financiado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), que investiu R$ 45 mil.
Segundo o coordenador técnico regional da Emater-MG de Juiz de Fora, Antônio Domingues de Souza, tudo começou a partir de uma parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Fusermann, empresa sediada no município de Barbacena. Há 15 anos, a refinaria procurou a Embrapa, que trabalha com sistemas silvipastoris (pastagens consorciadas com espécies arbóreas/arbustivas), para propor um convênio de cooperação técnico-científica, com vistas a aprofundar conhecimentos referentes à viabilidade da associação do pinhão manso com a produção de forragem. De acordo com o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Carlos Renato Tavares de Castro, membro da equipe responsável pelo projeto, a intenção “é gerar informações que possam esclarecer sobre a polêmica de que áreas destinadas à cultura de matéria-prima para biocombustíveis competem, ou não, pelo espaço destinado à produção de alimentos para a sociedade”.
As atividades do projeto começaram no mês de janeiro, com o plantio consorciado de pinhão manso e braquiária, numa área de dois hectares e meio, em um campo experimental da Embrapa, no município de Coronel Pacheco, Zona da Mata mineira. No local, estão sendo testados diversos espaçamentos do consórcio. Tanto pelo método tradicional (semeadura a lanço) ou conforme os preceitos da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, conhecida nos meios técnicos como ILPF, em que se aplicam subdoses de herbicida na pastagem já existente e faz-se o plantio direto na palha (no caso, a semeadura do milho), sem arar nem gradear o solo.
A proposta é que a área destinada à pesquisa seja utilizada como unidade demonstrativa para treinamento dos extensionistas da Emater-MG e em futuras visitas técnicas de produtores rurais. As atividades estão sendo negociadas entre os parceiros envolvidos no projeto, segundo informações da Embrapa. A empresa considera que o pinhão manso é uma das mais promissoras espécies oleaginosas passíveis de utilização como matéria-prima para fabricação de biodiesel.
Para o coordenador técnico regional de Meio Ambiente da Emater-MG, o engenheiro florestal Gilberto Malafaia, além dos aspectos econômicos e estratégicos envolvidos, o uso de combustíveis de origem não fóssil é uma das formas de preservação ambiental. “A liderança brasileira na produção e o uso de biocombustíveis já é reconhecida internacionalmente”, argumenta. “Ademais, o sistema de consorciação proposto é de adoção viável para a agricultura familiar, possibilitando a diversificação de renda, por meio da obtenção de dois produtos: animal e florestal”, reforça o pesquisador a Embrapa, Carlos Renato Tavares de Castro.
Segundo o coordenador da Emater-MG, apesar de o subproduto da extração do óleo de pinhão para fabricação de cosméticos (torta), ser tóxico para os animais, é rico em proteína e já existem estudos para torná-lo viável ao consumo animal. “Existem resultados parciais promissores quanto ao desenvolvimento de técnicas de destoxificação desse material para viabilizar o seu uso na alimentação animal”, informa.
De acordo com os técnicos envolvidos no projeto, o os resultados do projeto deverão ser conhecidos num prazo de até três anos e caberá à Emater-MG divulgar o sistema silvipastoril entre os produtores rurais. “Vamos avaliar se a alternativa é realmente interessante para o pecuarista e, se for, vamos divulgar”, informa o coordenador da Emater-MG, Antônio Domingues. Segundo ele, os extensionistas irão receber treinamento específico sobre a nova cultura e orientação sobre o manejo do sistema proposto, para posterior divulgação da tecnologia e assistência técnica aos produtores interessados em adotá-la.
Pinhão Manso
De acordo com a publicação “Cultivo de pinhão manso para produção de óleo combustível”, de Luiz Antônio dos Santos Dias e colaboradores, a planta pertence à família Euphorbiaceae, a mesma da mandioca, mamona e seringueira, sendo um arbusto de crescimento rápido, que pode atingir de três a cinco metros de altura. Ao ser consorciado com pastagens, o gado pode ser inserido no sistema tão logo as plantas atinjam altura de 50 cm.
Essa espécie arbustiva libera látex, um líquido leitoso que é tóxico e pode queimar a pele. Mas segundo o pesquisador da Embrapa, Carlos Renato Tavares de Castro, a presença do látex pode estar relacionada ao fato de os animais não consumirem as folhas quando ainda verdes e presas à planta mãe, vantagem adicional ao sistema por possibilitar a introdução precoce dos animais nas áreas consorciadas, sem necessidade de proteção das mudas contra pastejo ou danos físicos causados pelos animais. Ainda, relatos de pecuaristas que já possuem o Pinhão Manso em suas pastagens atestam que as folhas secas, caídas ao chão, são frequentemente consumidas pelos animais, não lhes causando qualquer problema aparente.
Segundos técnicos da área, os lucros obtidos com a cultura de pinhão manso variam conforme a região de cultivo devido a flutuações nos valores de insumos, mão-de-obra e mudas. Na região de Barbacena, o Projeto Jatropha, que incentiva o plantio de pinhão manso, e é liderado pela Fusermann, vem analisando o cultivo da planta desde 2005. Foi observado que o lucro do produtor deve girar em torno de R$ 963/ha/ano com a exploração da cultura destinada à produção de biodiesel.