Há alguns anos, a estudante Flávia Amorim, 26 anos, resolveu pintar o cabelo, e fez o que muita gente normalmente faz: foi até uma farmácia, comprou a tinta e pintou os fios em casa, com auxílio da mãe. O que ela não imaginava é que a tinta causaria uma séria alergia, que demandou mais de um mês de tratamento. O produto, entretanto, é um dos que mais exigem atenção e cuidado do consumidor, segundo o Serviço de Medicamentos, Saneantes e Cosméticos da Fundação Ezequiel Dias (Funed).
Além da tintura capilar, o chefe da Divisão de Vigilância Sanitária da Fundação, Kleber Baptista, aponta outros quatro produtos que, considerando o nível de consumo pela população, a forma de utilização e o risco à saúde associado, merecem atenção de quem vai usar.
São eles: sabonetes (em barra ou líquidos), alisantes, shampoos/condicionadores e hidratantes corporais. “Por serem produtos que têm contato direto com a pele, podem causar reações adversas em caso de contaminação ou uma falha no processo de fabricação, por exemplo”, explica.
No caso de Flávia, a experiência causou muitos transtornos. Seu couro cabeludo ficou machucado, e, por recomendação de dermatologista, a estudante teve que fazer dois tipos de tratamento diferentes, até as feridas cicatrizarem e o cabelo voltar ao normal. “Gastei muito dinheiro e meu cabelo demorou a crescer de novo e a ter o volume de antes. Nunca mais pintei o cabelo”, conta.
Por meio do Programa de Monitoramento da Qualidade de Cosméticos, executado pelo Serviço de Medicamentos, Saneantes e Cosméticos da Funed, juntamente com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Vigilância Sanitária de Minas Gerais, desde 2003 são feitas diversas análises sobre a composição e regularidade de diversos produtos disponíveis no mercado, como sabonetes em barra, sabonete íntimo, sabonete líquido antisséptico, alisantes, tintura capilar, repelentes, shampoo, condicionador, gel para cabelo e hidratante corporal.
Em 2015, foram analisados 84 produtos. O objetivo das análises é justamente a prevenção contra eventuais riscos de problemas ou doenças causados por produtos de beleza, assim como a identificação da presença de materiais prejudiciais à saúde. Entre os exames feitos, incluem-se determinação de aspecto, cor e odor do produto; testes de pH, análise de rotulagem, além de contagem de bactérias, bolores e leveduras que podem transmitir doenças.
“Muitas vezes, o problema pode vir desde a fábrica, como contaminação microbiológica, qualidade da matéria prima utilizada ou até mesmo uma falha no processo de fabricação. Mas, o armazenamento incorreto dos produtos também pode causar algum problema ao produto”, ressalta Baptista.
Atenção dobrada
“O consumidor deve sempre observar, no rótulo, os dados do fabricante, data de fabricação e validade e se o produto é registrado na Anvisa”, destaca o chefe da Divisão de Vigilância Sanitária da Fundação, Kleber Baptista.
Além disso, é preciso observar a forma de acondicionamento do produto no estabelecimento e o estado de conservação da embalagem. Ela não deve estar amassada ou estufada, já que esta última característica pode ser um indicativo de contaminação por bactérias. Já ao abrir o produto, o consumidor deve atentar para qualquer odor diferente ou coloração.
O formol, por exemplo, amplamente utilizado em produtos de cabelo, só pode ser utilizado na concentração máxima de 0,1% em produtos de higiene oral e 0,2% para produtos não destinados à higiene oral, que engloba produtos para alisamento capilar. “Dentro deste limite permitido, não seria possível sentir o cheiro do formol. Então, se o produto tiver odor muito forte e incomodar o trato respiratório, o consumidor deve desconfiar”, defende Baptista.
Durante as análises feitas pela Fundação, em amostras enviadas pelo estado do Paraná, já foram encontrados produtos com 7% de formol, concentração 35 vezes maior do que a permitida pela legislação da Anvisa. “O uso contínuo de um alisante com esse teor de formol pode causar irritações na pele, queda de cabelo e até câncer”, diz.
Denúncias
Além das análises periódicas, o Serviço de Medicamentos, Saneantes e Cosméticos da Funed atende demandas de denúncias vindas de órgãos de defesa do consumidor e judiciário. “Na época que tive o problema, eu e minha mãe até guardamos a caixa da tinta, pois desconfiamos do produto. Porém, acabamos não fazendo a denúncia”, relata a estudante Flávia Amorim.
Kleber explica que o consumidor que observar irregularidades no momento da aquisição de um cosmético ou ocorrência de reações adversas após o uso deve apresentar denúncia junto à vigilância sanitária de seu município, do estado (pelo e-mail denuncia.gvmc@saude.mg.gov.br) ou mesmo à Anvisa (cosmetovigilancia@anvisa.gov.br).
Quando o produto tem um resultado insatisfatório, é gerado um Auto de Infração, que precede o Processo Administrativo Sanitário instaurado contra as empresas fabricantes. As penas para as infrações sanitárias podem incluir apreensão do produto, inutilização do produto, suspensão da venda ou da fabricação, cancelamento do registro do produto, interdição do estabelecimento, da atividade e do produto, cancelamento do alvará sanitário, cassação da autorização de funcionamento, intervenção administrativa, proibição de propaganda e multas.
Com Agência Minas