No início deste ano, a previsão da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) era de um Produto Interno Bruto (PIB) de Minas 3,3% maior em 2019 na comparação com o ano passado. A expectativa caiu por terra após o rompimento da barragem I da mina de Córrego do Feijão, da Vale, no último dia 25. A entidade prevê agora um aumento de 1,7%, quase metade da expectativa inicial. “Estávamos prevendo um crescimento baseado exatamente no incremento da atividade extrativa, mas agora tivemos que rever o cálculo e reduzimos a previsão em 1,6 ponto percentual”, explica a gerente do setor de economia da Fiemg, Daniela Britto.
Para o economista e integrante do Conselho Regional de Economia (Corecon-MG) Adriano Miglio Porto, o impacto do rompimento nas contas do Estado será maior do que nos cofres da mineradora. “A Vale está demandada a dar respostas rápidas de responsabilidade ambiental, mas quem vai sofrer será Minas Gerais, porque eles vão parar a produção é aqui. Minas não tem alternativa econômica, mas a Vale tem, já que tem a produção de Carajás, no Pará”, avalia.
O conselheiro se refere ao complexo SD11 da mineradora, que fica no município de Canaã dos Carajás (PA). “No Pará, a produção é mais moderna e, por isso, mais eficiente em função dos investimentos que foram feitos pela Vale lá”, explica Porto.
A produção de minério dos complexos Minas Itabirito, Vargem Grande (Nova Lima) e Paraopeba (Brumadinho) diminuíram 12,5% entre 2015 e 2017. Já os complexos Itabira, Minas Centrais (São Gonçalo do Rio Abaixo) e Mariana tiveram queda de 3,9% no mesmo período. Por outro lado, o Sistema Norte, no Pará, teve um aumento de produção de 30,5% durante os mesmos dois anos.
Daniela ressalta que o minério do Pará é mais rentável. “Se a tonelada produzida em Minas é vendida a US$ 70, a do Pará custa US$ 126, quase o dobro. O teor de minério no Estado é de 62%, e no Pará, de 65%”, diz. “Por isso, a empresa tem alocado mais investimentos no Pará”, avalia.
A redução da produção de minério que já vinha acontecendo em Minas afetou a balança comercial do Estado. Segundo a Fiemg, as exportações de minério de ferro caíram 17,9% em 2018 ante 2017. O mesmo índice de queda de exportações para a China. Mas a commodity representou 30% das as vendas ao exterior do Estado em 2018.
PROCESSO INJETARÁ R$ 7,35 BILHÕES NA ECONOMIA
Um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) aponta que a cada R$ 100 investidos pela Vale no processo de descomissionamento, a cadeia produtiva como um todo movimenta outros R$ 47. Considerando os R$ 5 bilhões que a Vale empregará no descomissionamento das barragens a montante, durante três anos, a medida vai injetar R$ 7,35 bilhões.
“Se teremos queda de receita por causa da redução da produção, os investimentos no descomissionamento vão compensar com novas receitas”, diz a gerente de economia da Fiemg, Daniela Britto. Para ela, “a produção de minério de Minas não é dispensável para a Vale”, porque o “blend” (mistura) entre os minérios do Pará e de Minas Gerais tem boa aceitação na China. (LP/Queila Ariadne)
Em 2018
Queda. De janeiro a setembro de 2018, a produção da Vale no Pará cresceu 14,9% ante 2017. Já os sistemas mineiros Sul e Sudeste tiveram queda de 4,9% e 5,6%, respectivamente, na comparação.
Com O Tempo