A pornografia infantil foi o crime mais denunciado na internet em 2018, totalizando 60 mil ocorrências, segundo um levantamento feito pela Safernet, plataforma de denúncias de crimes cibernéticos. Agora, um novo dispositivo, desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), promete ajudar no combate a essa violência. Ele é capaz de identificar imagens que apresentem conteúdos criminosos. Em testes efetuados em um conjunto de dados restrito à Polícia Federal, o mecanismo registrou quase 80% de eficácia.
Segundo o pesquisador João José de Macedo Neto, membro do Programa de Pós-graduação em Ciência da Computação da UFMG, o software desenvolvido utiliza uma técnica combinada que identifica o conteúdo pornográfico por meio da face. O programa também é capaz de estimar a idade do suspeito ou da vítima durante o processo.
“Quando há uma operação policial, milhares de imagens são analisadas visualmente por um agente, uma por uma, o que se toma muito tempo”, explica Macedo, que também é perito da Polícia Federal.
Ele acrescenta que a intenção é aprimorar o programa para a identificação de pornografia por meio de outras partes do corpo, já que os rostos nem sempre aparecem. “Esperamos que a versão atual seja utilizada ainda neste ano pelas Polícias Federal e Civil”, garante.
Como funciona? O software copia a estrutura neural de redes do cérebro humano utilizada na identificação de faces. O sistema artificial agiliza o reconhecimento de rostos presentes em imagens durante investigações da polícia, estejam eles em fotos ou vídeos. Com o programa de Macedo, a análise de cada arquivo dura apenas 0,4 segundo.
O software também classifica quadros de cada cena investigada, resultando na seleção dos cortes mais significativos para a análise em questão. Durante o reconhecimento de uma imagem, por exemplo, o primeiro aspecto observado é a presença potencial de pornografia. Se ela for válida, os rostos identificados são extraídos. Também é possível, durante o rastreamento, fazer uma estimativa de idade das faces analisadas – sejam adultos ou crianças – por gênero e faixa etária.
Segundo Macedo, o programa, atualmente, já é capaz de classificar vítimas e suspeitos de todas as faixas etárias. “No futuro, chegaremos a uma estimativa mais precisa, com idades mais próximas ao limite da restrição legal para a tipificação de crime”, prevê o pesquisador.
Retoques
O software está em fase de avaliação. Segundo o criador, a versão atual passará por melhorias antes de estar totalmente disponível para utilização em operações de investigação.
Computação acelera as investigações
O trabalho de combate à distribuição de pornografia infantil envolve agências policiais, organizações não governamentais e empresas em todo o mundo. Por isso, afirma o pesquisador da UFMG, a tecnologia é fundamental para garantir a eficácia e rapidez nos resultados desse crime tão grave.
“A automatização é importante porque é enorme a quantidade de dados que podem ser armazenados nos celulares e em outros dispositivos. Estamos falando da realização de tarefas de reconhecimento facial consideradas impossíveis 10 anos atrás. São aplicações que têm potencial de transformar todo o processo de investigação”, afirma.
Além da necessidade de que empresas e órgãos públicos estejam atentos às aplicações da tecnologia, Macedo frisa que a realização de boa parte desse trabalho pela máquina, além de poupar tempo, contribui para reduzir o forte impacto psicológico e o estresse causados pela exposição de profissionais a material pornográfico com crianças.
Com O Tempo