Os custos com a paralisação de atividades, perda de empregos, redução de arrecadação e medo trazido pela crise pela qual passa o setor de mineração e barragens agora traz prejuízo direto ao contribuinte mineiro, além de risco ao meio ambiente.
Consideradas as mais perigosas de Minas Gerais, as barragens 1 e 2 da Mina de Engenho D’Água, em Rio Acima, na Grande BH, começam a ser descomissionadas pela Copasa, ao custo inicial de R$ 7,8 milhões. Um alto preço, em um momento em que o estado enfrenta dificuldades para honrar compromissos básicos, como salários e benefícios para o funcionalismo público, além de restrições para investimentos em outros setores. Em 2017, a Copasa assumiu as estruturas que pertenciam à falida Mundo Mineração e que retêm resíduos da extração e beneficiamento de ouro, podendo conter substâncias extremamente nocivas à vida, como o arsênio, que pode matar mesmo em pequenas concentrações.
As formas construtivas e a situação de estabilidade das estruturas de retenção de rejeitos, abandonadas pela mineradora em 2012, são desconhecidas. Outro agravante é que os reservatórios se encontram a apenas 2,5 quilômetros de vales que desembocam no Rio das Velhas, o principal manancial de abastecimento da Grande BH. Caso atinja esse curso hídrico, os detritos tóxicos teriam de percorrer apenas 7,5 quilômetros até chegar à Estação de Tratamento de Água de Bela Fama, em Honório Bicalho, em Nova Lima, onde a Copasa capta cerca de 60% da água consumida por Belo Horizonte e perto de 50% do que é utilizado para matar a sede da Grande BH.
De acordo com a Copasa, as obras para o descomissionamento das barragens 1 e 2 da Mina do Engenho D’água foram licitadas e estão em andamento. Já há operários e técnicos trabalhando no terreno da Mina Engenho D’Água e foi iniciada a montagem de uma estação de tratamento de água (ETA) pré-fabricada, com capacidade para tratar até 40 litros de rejeitos por segundo. “Esses trabalhos (de instalação da ETA) estão previstos para ser concluídos nesta semana e na próxima será iniciado o tratamento dos rejeitos”, informou a companhia de abastecimento e tratamento de água, por meio de nota.
Paralelamente a essas ações, a Copasa informou que está adotando os barramentos de instrumentação geotécnica necessária para monitorar a estabilidade das estruturas abandonadas há sete anos. “Estão sendo instalados piezômetros e inclinômetros para monitoramento do maciço, além de iniciados os trabalhos de tratamento das encostas. O empreendimento envolve recursos de R$ 7,8 milhões, que estão sendo aplicados no tratamento dos rejeitos, no envelopamento dos resíduos, na drenagem de área, na revegetação da área, entre outros serviços. A previsão para conclusão é de 10 meses”, informou a companhia.
Em evento do gabinete de crise da sociedade civil, instituído para agir e cobrar ações no contexto da crise deflagrada após o rompimento das barragens 1, 4 e 4A da Mina Córrego do Feijão, operadas pela mineradora Vale, em Brumadinho, na Grande BH, ambientalistas demonstraram extrema preocupação com a situação dessas represas de rejeitos de Rio Acima.
A área, no Alto Velhas, é onde estão as águas de melhor qualidade do rio, segundo o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano. “Há um conjunto de barramentos nas cabeceiras dos rios nessa região. No caso da Mundo Mineração, ainda temos um agravante de a Copasa estar investindo milhões, e estamos vivendo uma insegurança hídrica absurda. Não há um plano de contingência se ocorrer o rompimento durante o descomissionamento. Como fica isso? Teremos de esperar romper para agir? Nada tem sido dito e essa situação afeta as pessoas, afeta diretamente o abastecimento”, alerta.
Desde março, o Estado de Minas questiona a Copasa sobre que resultados os estudos pagos pela empresa apontaram sobre os tipos de resíduos químicos depositados nas barragens abandonadas de Rio Acima, e se parte desse material vazou, atingindo mananciais ou lençóis subterrâneos. Contudo, tais questões têm sido simplesmente ignoradas. O silêncio é criticado pelo presidente do comitê de bacia do Velhas. “Precisamos de ações do poder público. Precisamos saber o que há dentro dessas barragens. Há arsênio? Há mercúrio?”, indaga Polignano, citando elementos tóxicos comumente usados na mineração de ouro.
Para o engenheiro Euler Cruz, do Fórum Permanente do Rio São Francisco, em cuja bacia se insere o Rio das Velhas, a situação é de uma gravidade muitas vezes subestimada. “Mesmo as barragens consideradas estáveis podem se romper, como todas as que se romperam assim eram consideradas. Imaginem o problema que representam essas barragens da Mundo Mineração, que estão sobre o Rio das Velhas. São estruturas de alto risco e alto potencial de dano socioambiental no estado”, alerta.
Nova captação no Rio Paraopeba
Em meio à preocupação sobre os riscos ao abastecimento de água na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a mineradora Vale concordou com projeto de construção de nova captação no Rio Paraopeba para abastecer a Grande BH. O acordo foi firmado na noite de ontem, entre representantes da mineradora e do Ministério Público, Defensoria e Copasa, no Fórum Lafayette, na capital. De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, o novo ponto de captação deverá ser acima do ponto em que os resíduos liberados pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, entram no curso d’água. A previsão é de que a obra fique pronta em setembro de 2020. O estado ficou com a responsabilidade de apressar autorizações e licenciamentos para a intervenção. Desde 25 de janeiro, dia do rompimento da represa de rejeitos, foi suspensa a retirada de água no rio para abastecimento da população.
Com Estado de Minas