Era Dia das Mães quando a aposentada Maria da Conceição Nunes da Rocha, de 61 anos, deu entrada no pronto-socorro sentindo fortes dores no pé direito. Com o diabetes descontrolado, o médico que a atendeu só deu uma opção: “Ele disse que eu precisava amputar. Depois disso, eu danei a chorar, foi uma tristeza só”, contou.
Já se passaram um ano e dois meses, aproximadamente, desde que a aposentada perdeu parte do membro. Contudo, o drama para voltar a ter uma vida normal ainda não chegou ao fim.
Maria da Conceição entrou para a fila das pessoas que aguardam por uma prótese oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que, de acordo com o gerente da Rede Complementar da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), André Menezes, atualmente é composta por 1.500 pessoas, de 113 municípios do interior de Minas e de Belo Horizonte. “As maiores demandas dessa fila são de órteses, cadeiras de rodas e palmilhas ortopédicas”, comentou.
Logo após a cirurgia, a aposentada contou que recebeu um andador para se locomover, iniciou sessões de fisioterapia e pegou os papéis para dar entrada ao pedido de prótese. Entretanto, foi no fim do mês passado que a aposentada provou pela primeira vez a peça. “Demorou demais. Meu filho foi ao posto várias vezes para cobrar, e eles disseram que só tinha um fornecedor e muitas pessoas na minha frente”, disse.
O gerente explicou que o fluxo de atendimento segue a demanda dos pacientes e, por isso, é dinâmico. “O tempo médio de espera na fila é de seis meses, mas depende das especificidades de cada caso. Hoje temos quatro Centros de Reabilitação (Creab) onde os pacientes passam por uma avaliação e seguem o fluxo até receberem o equipamento”, disse.
Incertezas
Sem perspectiva de receber qualquer tipo de auxílio, a família do aposentado Valdivino Francisco Amaral, 58, que amputou parte da perna há três meses, conta com ajuda de terceiros para se adaptar à nova vida.
“Até agora não recebemos nenhum tipo de ajuda do governo. Ganhamos uma cadeira de rodas de uma amiga”, contou a filha dele, Ludmila Stefane Batista Amaral, de 20 anos.
De acordo com a jovem, o pai fez a amputação no hospital Julia Kubitschek, na região do Barreiro, e não recebeu as orientações para solicitar a prótese.
Resposta
Procurada pela reportagem, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) informou, por meio de nota, que, após ter recebido alta, o paciente recebeu o encaminhamento para retornar à sua Unidade Básica de Saúde (UBS), onde, segundo o comunicado, seria direcionada ao Creab de sua regional.
Em Belo Horizonte, atualmente existem cinco fabricantes de órteses, próteses e outros equipamentos de auxílio à locomoção que fornecem as peças para o SUS. Segundo a SMSA, quatro dessas empresas são privadas.
A Associação Mineira de Reabilitação (AMR), que é habilitada pelo Ministério da Saúde, é a única instituição filantrópica que atualmente presta o serviço ao SUS.
“Depois de feito o pedido de próteses, temos um acordo contratual com as empresas de um prazo de até 60 dias para entrega”, contou. As peças têm garantia de um ano após a entrega.
Qualidade das peças
Em 2012, o aposentado Waldir José da Silva, 72, que é diabético, precisou amputar parte da perna esquerda. Ele chegou a receber a prótese da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) após meses da cirurgia de amputação, mas, segundo ele, não se adaptou ao material. “Parece uma caixa de concreto, usei por apenas dois meses e não aguentei mais”, contou.
Na época, os familiares dele fizeram uma vaquinha para comprar outra próteses de uma empresa particular. “Já estou procurando outra para comprar, a minha está folgada, tenho medo de cair”, revelou.
Segundo o gerente da Rede Complementar da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), André Menezes, atualmente as peças oferecidas pelo SUS estão com mais qualidade do que as que eram oferecidas no passado. “A gente não fornece a última tecnologia, mas estamos acima da média do mercado”, garantiu.
A doméstica aposentada Irani Lopes, 51, desistiu de usar a prótese do SUS em 2010 depois que a peça provocou ferimentos na perna direita dela. Porém, o constante uso de muletas sobrecarregou o restante do corpo. “Resolvi voltar porque me disseram que agora está melhor”, afirmou.
Quanto custa? Entre R$ 1.500 e R$ 7.000 é o valor que as próteses fornecidas pelo SUS podem custar. Em 2018, 6.700 peças, aproximadamente, foram entregues pelo SUS em Minas.
Tecnoologia
Uma prótese de alta tecnologia pode chegar a custar R$ 80 mil ao paciente. “Esse valor é de uma prótese eletrônica, com joelho que se adapta ao paciente”, explicou o diretor da empresa Ipo Brasil na capital mineira, Fabrício Damião.
Segundo o diretor, o valor da peça vai depender de diversos fatores, como características dos pacientes e do produto. “O preço vai variar de acordo com o nível de amputação, a idade de quem vai receber a peça, quais atividades vai desempenhar, além dos materiais utilizados na confecção”, explicou.
Ainda de acordo com Damião, a maioria das próteses é feita de fibra de carbono, titânio e alumínio e pode custar a partir de R$ 2.000.
Com Super Notícia