Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo Situação Mundial
Na Argentina, cada vez mais se confirma uma grande safra, decorrente de condições climáticas muito favoráveis, situando a produção de milho já no patamar acima de 20 milhões de toneladas, confirmando as projeções oficiais liberadas no mês passado. Esta convergência das estimativas indica que a safra argentina será, com toda certeza, também excepcional, em função principalmente das condições climáticas muito favoráveis. Esta situação fornece um sentimento de conforto no que diz respeito ao abastecimento mundial de milho, pois este excedente será encaminhado para o exterior (devido a seu consumo relativamente reduzido, a maior parte da produção de milho na Argentina é exportada).
Esta situação favorável nos Estados Unidos e na Argentina criam condições para aumento na quantidade exportável nestes países, o que pode afetar o mercado externo de milho do Brasil. Por outro lado, começaram a aparecer notícias relativas a restrições de grandes importadores com respeito à qualidade do milho americano (prejudicado pela colheita tardia). Importadores do Japão que se abastecem quase que em sua totalidade de milho americano já iniciaram negociações para compras na Argentina e no Brasil. Em janeiro e fevereiro de 2010, o Japão importou quase 199 mil toneladas de milho do Brasil e é o nosso segundo maior importador (após o Irã). Considerando que nos anos anteriores praticamente não ocorreram negócios com milho entre o Brasil e o Japão poder ser que esta seja uma boa oportunidade se abrindo.
Situação Interna
No Brasil, as notícias sobre a quantidade produzida no verão continuam favoráveis e acabam por deprimir os preços do milho no mercado interno. As condições climáticas foram extremamente favoráveis na região Sul para as lavouras de milho. No Rio Grande do Sul existem municípios que vão fechar a safra com produtividade média acima de 7.500 kg/ha e existem relatos de agricultores que estão obtendo produtividades superiores a 200 sc/ha. As produtividades obtidas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina compensaram com folga a redução na área plantada; no Paraná, quase anularam esta redução. Como a região Sul é a que concentra o consumo brasileiro de milho, isto cria uma situação favorável para o abastecimento regional.
Por outro lado, os estoques disponíveis garantem um abastecimento relativamente folgado do mercado interno. Como resultado, os preços não têm reagido e, para os produtores de milho, resta uma análise cuidadosa da estratégia de comercialização de seu produto, que ainda fica na dependência do desenvolvimento da safrinha. O que não deve ser esquecido é que a redução nos preços dos principais insumos utilizados nas lavouras de milho e este aumento na produtividade, decorrente de fatores climáticos favoráveis, diluem os custos de produção e, quando expressos em termos de custo por saco de milho produzido, fornecem um retrato não tão desfavorável.
O plantio da safrinha está terminado e as informações são de que foi possível o plantio em uma época mais antecipada do que nos anos anteriores, o que pode reduzir as incertezas quanto ao clima, em períodos críticos para as plantas de milho. Dados parciais colhidos pela Associação Paulista de Produtores de Sementes e Mudas indicam que a venda de sementes de milho para a safrinha teve comportamento variado entre os anos de 2009 e 2010. Como os agricultores não compram sementes de milho para guardar, esta pode ser uma boa estimativa sobre o que esperar da área plantada com milho nesta época. Ocorreram reduções de vendas de sementes no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul (em uma quantidade equivalente à necessária para o plantio de cerca de 600 mil hectares). Ocorreram aumentos nas vendas de sementes em Mato Grosso e em Goiás (em uma quantidade equivalente à necessária para o plantio de cerca de 500 mil hectares). Como estes dados ainda são provisórios (referem-se ao período de 01 de janeiro de 2010 até 28 de fevereiro), alguma modificação ainda pode acontecer. No entanto, o crescimento da área no estado de Mato Grosso indica a possibilidade de uma situação semelhante à verificada no segundo semestre de 2009, com a necessidade de realização pela Conab de uma série de leilões para tentar fornecer algum suporte aos preços do milho neste estado. A manutenção dos preços mínimos nos leilões é essencial para manter o interesse por parte dos produtores em participar deles e evitar o ocorrido no leilão efetuado em 23 de março, quando não houve oferta do produto.
Por outro lado, indica que o milho safrinha – definitivamente – passa a fazer parte do sistema de produção em Mato Grosso em sucessão a lavouras de soja. Desta forma, preços baixos não retiram o incentivo para que os produtores plantem milho, considerando os benefícios que este plantio pode oferecer para as lavouras da soja. Caso esta tendência se confirme nos anos futuros está na hora de se considerar alguma forma de gerenciar este problema, seja aumentando o consumo local ou viabilizando infraestrutura para retirada eficiente desta produção da região.
Boletim Informativo do Centro de Inteligência do Milho – Ano 3, Edição 28, março de 2010