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Análise contratada pela Backer não detecta dietilenoglicol na água

Mesmo que o Ministério da Agricultura tenha constatado contaminação na água utilizada pela cervejaria Backer na produção das suas cervejas, a análise feita por um químico da UFMG contratado pela empresa mostra que não foi encontrado dietilenoglicol na água da cervejaria. As amostras enviadas para a análise, contudo, foram coletadas pela própria empresa e enviadas ao perito contratado. A hipótese de vazamento também pode ser descartada pela empresa. Na análise contratada pela Backer, foi verificado que a intoxicação se daria se a pessoa consumisse mais de 16 garrafas da bebida.

Bruno Botelho, professor do departamento de química da UFMG./ Foto: João Leus/O TempoBruno Botelho, professor do departamento de química da UFMG./ Foto: João Leus/O Tempo

Segundo Bruno Botelho, professor do departamento de química da UFMG, amostras da água vieram das caixas d’água, do restaurante, do tanque e do trocador de calor. “De acordo com as amostras não foi detectado o die e o mono. Eu não tive acesso aos laudos do ministério. Os meus resultados deram como não detectado. As amostras foram enviadas pela Backer. Normalmente, todas as análises que eu faço, os clientes que mandam as amostras. É o procedimento padrão. Independente se é da Backer ou do cliente, as amostras são enviadas”, disse.

Sobre a diferenciação na análise do Ministério, de acordo com Botelho, o resultado diferente é fruto do processo de metodologia. “Eu não sei qual é o método analítico que eles estão usando, não sei qual o procedimento feito para a análise, então não posso afirmar se é o resultado esperado ou não. Eu utilizei cromatografia a gás com espectrometria de massas. Todo método analítico tem um parâmetro que chama limite de detecção. Eu não sei qual o limite de detecção do Ministério. Não é para rebater. Eu realizo as análises para a cervejaria”, afirmou.

Vazamento

O químico ainda apresentou a análise de comparação da presença do dietilenoglicol nas cervejas. Segundo ele, em quatro lotes examinados, a concentração da substância foi diminuindo ao longo do tempo, o que pode representar que não houve vazamento.

Lote L21348 - produzido em 11/11 - concentração: 0.83g/100g

Lote L21354 - produzido em 22/11 - concentração: 0.67g/100g

Lote L21557 - produzido em 24/12 - concentração: 0.41g/100g

Lote JB10 - produzido em 03/01 - concentração: 0.21g/100g

“A quantidade de dietilenoglicol nas amostras foi diminuindo ao longo do tempo. Isso pode indicar que a contaminação não foi constante ao longo do processo. Eu não poderia descartar o vazamento, mas as concentrações indicam um decaimento, o que indica que ela está diminuindo. Se houvesse um vazamento, esperaria-se que fosse um vazamento constante. Sem conhecimento das práticas de produção eu não consigo afirmar se é um indício de fraude, de vazamento ou de falha de processo”, afirmou Bruno Botelho.

Dietilenoglicol: 166 quilos por tanque

O estudo apresentado mostra ainda que foram encontrados 4,98 gramas de dietilenoglicol em uma garrafa de 600 ml da cerveja. Ou seja, a cada 100 ml de bebida ingerida, a pessoa estaria ingerindo 0,83 gramas da substância. Na análise, Bruno Botelho mostrou que geralmente produtos químicos são adquiridos em bombonas de 200 ou 400 quilos. Na prática, uma bombona de 200 quilos teria 166 quilos de dietilenoglicol. Para que a contaminação apresentada fosse feita, seria preciso jogar 166 quilos em um tanque de 20 mil litros de cerveja para concluir a quantidade de gramas por ml na bebida.

A dose tóxica, contudo, que poderia levar à morte, na análise apresentada pelo químico com base em estudos sobre o tema, seria de 83 gramas para uma pessoa de 70 quilos (ou 1,1 grama da substância por quilo), o que significa que a pessoa precisarei ingerir 16 garrafas da cerveja.

A análise, contudo, contradiz alguns depoimentos de familiares de pessoas que notificaram a intoxicação. Muitas afirmaram que algumas vítimas ingeriram mais de uma garrafa da cerveja. Segundo o químico, essa é uma análise toxicológica. “Isso aí são aspectos de toxicologia, envolve bioquímica, e eu não saberia opinar se é possível ou se não é. Não tenho conhecimento sobre essa área para fornecer uma opinião embasada”, afirmou.

Para o químico é pouco provável que determinadas garrafas tenham maior concentração da substância, uma vez que se trata de uma substância simples, muito solúvel em água. “A tendência é se distribuir de forma homogênea”, disse.

Com O Tempo



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