Após 60 dias de uma complexa investigação sobre a contaminação das cervejas da Backer e intoxicação de consumidores, a Polícia Civil de Minas Gerais informou em coletiva de imprensa, nesta sexta-feira, que nos testes de sangue feitos pela corporação foram diagnosticados 11 casos positivos para dietilenoglicol, substância responsável pela intoxicação. Este número inclui quatro das seis pessoas que vieram a óbito pela intoxicação.
Ao todo, Polícia Civil investiga 38 casos que podem estar ligados ao consumo de cervejas da Backer contaminadas com dietilenoglicol. No entanto, segundo o Delegado Flávio Grossi, responsável pela investigação este número pode aumentar.
“Agora, em acordo com o a Secretaria de Saúde, haverá uma extensão da janela temporal de contaminação e uma classificação das contaminações”, explicou.
Grossi ainda disse ainda que na próxima semana vai ser iniciado o trabalho final com as vítimas de intoxicação.
Em relação à perícia de engenharia conduzida na cervejaria, localizada no bairro Olhos D’Água, na região metropolitana de BH, passa a compor os trabalhos nesta fase final de investigação o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN) do Ministério da Ciência e Tecnologia, localizado na UFMG.
Segundo o superintendente de polícia técnico-científica e médico legista, Thales Bittencourt, já houve uma visita do CDTN à Backer nesta sexta. Na próxima semana, será concluída a primeira fase da perícia, que é a análise dos eventuais vazamentos dos tanques através de uma partícula que não vai se confundir com o mono ou dietilenoglicol.
“É uma metodologia extremamente sensível, que avalia os vazamentos de até uma parte por trilhão”, o que, segundo Bittencourt, permite dar celeridade aos trabalhos investigativos.
A fábrica da Backer foi interditada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), que também determinou recall de cervejas.
Banida
Ainda nesta sexta-feira, o Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas) abriu um processo para descredenciar a Backer em função de uma declaração dada, em audiência pública na Câmara Municipal de Belo Horizonte, pelo advogado da Cervejaria, Estêvão Nejim.
O defensor disse, na ocasião, sem entrar em detalhes, que laudos e análises identificaram “traços, chamados de sinais instrumentais, de mono e dietilenoglicol em várias outras marcas de cerveja”.
De acordo com o vice-presidente do Sindbebidas, Marco Falcone, não houve ainda o descredenciamento da Backer porque o estatuto prevê que ela seja notificada primeiro para apresentar a sua defesa.
A Backer foi procurada pela reportagem, mas ainda não se manifestou sobre o assunto.
Impasse
Nessa quinta-feira (05), a 23° Vara Cívil de Belo Horizonte exigiu que a Backer comprovasse, dentro de 48 horas, o pagamento das despesas médicas e demais gastos das vítimas de intoxicação por dietilenoglicol.
A cervejaria chegou a dizer que não tem condições de bancar as despesas porque a própria Justiça bloqueou os bens da empresa em fevereiro, durante audiência pública realizada na Câmara de Belo Horizonte. O valor pode chegar à quantia máxima de R$ 100 milhões.
A decisão judicial partiu de uma nova manifestação no processo por parte do Ministério Público, que afirmou que “a Backer, mais uma vez, demonstra na mídia e perante todos os órgãos públicos sua falta de sensibilidade e tenta, de várias formas, enganar a população com declarações inverídicas e sem qualquer fundamento”.
De acordo com o MP, a alegação de estar impossibilitada de cumprir as determinações judiciais, em razão de bloqueio de bens, não procede, tendo em vista o alto lucro obtido nas nove sociedades componentes do Grupo econômico familiar Khalil Lebbos.
Ainda segundo o órgão, as empresas se movimentam na tentativa de ocultar e dilapidar o patrimônio, além de descumprirem as determinações judiciais.
Com isso, o Ministério Público solicitou a aplicação de multa de R$ 1 mil para cada uma das 13 vítimas cadastradas no processo, bem como a inclusão de outras duas pessoas.
Procurada, a empresa informou que ainda não foi notificada de nenhuma decisão nesse sentido.
Com O Tempo