O novo coronavírus avança pelo interior de Minas com a confirmação de casos da doença em 31 municípios mineiros. A concentração do número de casos confirmados em Belo Horizonte, 163 dos 261, de acordo com o último informativo epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (SES), não pode tirar o foco do enfrentamento à COVID-19 nos municípios pequenos. Dezesseis cidades registraram os primeiros casos confirmados para a doença. “Cidades menores mostram essa progressão, universalização do vírus no nosso país”, afirma Estêvão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia.
Ainda de acordo com o último informativo epidemiológico, a primeira morte confirmada em Minas foi de uma mulher de 82 anos residente em Belo Horizonte. A SES investiga se outras 23 mortes no estado foram causadas pelo novo coronavírus e já descartou, por meio de testes, 19 óbitos suspeitos. Foi verificado aumento no número de casos suspeitos, que passaram para 29.724, e no número de casos confirmados: 261.
Bom Despacho, na Região do Alto São Francisco, com população de 50 mil habitantes, é um dos 16 municípios mineiros que tiveram o primeiro caso confirmado. O prefeito Fernando Cabral (PPS) informou tratar-se de uma mulher, com idade próxima aos 50 anos, e a filha, com idade por volta dos 25. As duas fizeram um cruzeiro na Europa e, ao retornar ao Brasil, apresentavam sintomas da doença.
A coleta do material para a realização do teste foi feita em Belo Horizonte, onde mãe e filha também ficaram para se tratar. “Esse caso não representa perigo para Bom Despacho do ponto de vista epidemiológico”, afirmou o prefeito. Segundo ele, elas se recuperam bem da doença. O prefeito lembra que, como a filha mora em Belo Horizonte, não entrou na estatística de Bom Despacho.
O prefeito informou que estão sendo tomadas todas as medidas preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com a adoção do isolamento social. O comércio foi fechado, foram proibidos eventos que aglomerem pessoas; fiscais e policiais militares alertam os moradores para não saírem às ruas e guardar a quarentena. “Compartilhamos da opinião dos que acreditam que a situação é muito grave. Estamos adotando medidas restritivas fortes para que o sistema de saúde não vá à falência e morra mais gente”, afirma.
O prefeito disse, porém, que “está preparando a casa para o pior momento”. Foram montados 20 leitos isolados para cuidar dos pacientes mais graves. No entanto, a cidade não tem ventiladores mecânicos em quantidade suficiente. “Neste momento, os casos mais graves tenho que mandar para BH. Ao todo, temos sete respiradores. Não são suficientes. Enviamos dois casos para BH: para um deles o exame deu negativo. O outro caso, mais grave, está ainda sem resultado”, disse. O município fez parceria com o Hospital de Santa Casa da cidade para instalar cinco respiradores. Mas o prefeito informou que solicitou ajuda aos governos federal e do estado para que enviem os equipamentos hospitalares. Segundo ele, o município tem leitos novos, que, se equipados, podem atender os pacientes não só de Bom Despacho, mas de toda a região. O município também prepara 100 chalés para usar como unidades de isolamento caso seja necessário.
O município de Campo Belo também registrou o primeiro caso confirmado da Covid-19. O secretário municipal de Saúde, José Assunção, informou que o paciente de 48 anos está bem e teve apenas sintomas leves. Ele afirmou que o município tem seguido as recomendações da OMS para o isolamento social. Foi montada uma barreira epidemiológica na entrada da cidade, comércio e escolas estão fechados. O município dispõe de 11 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI).
Também estão sendo preparados mais 10 leitos na Santa Casa do município. “As unidades de saúde estão funcionando bem. As consultas eletivas foram remarcadas. Estamos reforçando a importância do isolamento social e da adoção das medidas de higiene”, afirma.
Curva controlada
Infectologistas analisam que, em Minas, os casos são crescentes, mas a curva está controlada por ora. “Em Minas, a minha ideia é que os casos estejam evoluindo crescentes, progressivos, mas numa curva controlada. Temos vários exames a serem liberados, uma certa subnotificação. É um relato que tem vieses porque não temos o número exato de casos em mão, mas a tendência é achar que estamos tendo crescimento, que é ruim, mas controlado, o que é bom”, afirmou Estêvão Urbano.
Análise é confirmada pelo diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Ernesto Ferreira Starling, que considera que o número de casos do novo coronavírus está dentro do esperado. “É um crescimento compatível com o isolamento social”, afirmou. De acordo com o infectologista, embora o número de casos com diagnóstico por exame seja baixo, pode-se observar um crescimento lento. “Mesmo com deficiência na testagem, a amostragem é significativa.”
Com Estado de Minas