A iniciativa de uma aluna de 10 anos foi o suficiente para uma corrente do bem se formar entre crianças e pré-adolescentes servirem como “mensageiros da paz” em cartas enviadas aos profissionais da saúde que têm atuado na linha de frente do combate à Covid-19. “Queremos formar uma corrente do bem e cuidar das pessoas que cuidem de nós. Esse é um jeito de praticar a nossa gratidão, vocês topam?” propôs Lara Duarte aos colegas do quinto ano da escola.
A iniciativa de uma aluna de 10 anos foi o suficiente para uma corrente do bem se formar entre crianças e pré-adolescentes servirem como “mensageiros da paz” em cartas enviadas aos profissionais da saúde que têm atuado na linha de frente do combate à Covid-19. “Queremos formar uma corrente do bem e cuidar das pessoas que cuidem de nós. Esse é um jeito de praticar a nossa gratidão, vocês topam?” propôs Lara Duarte aos colegas do quinto ano da escola.
A ação, comunicada por Lara ao Colégio Logosófico no bairro Funcionários, região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi aderida pela instituição que incentivou o ato a outras turmas. De acordo com a diretora da instituição, Liara Salles, cerca de 150 cartinhas já foram recebidas e direcionadas a médicos, enfermeiros e hospitais da capital e da região metropolitana. “A gente teve o Hospital Madre Teresa, Hospital da Unimed, Lifecenter, Hospital Belo Horizonte, Ipsemg, João XXIII, Odilon Behrens, Santa Casa, Samu, e aí a gente enviou para vários médicos também”, contou Liara.
Orgulhosa, a diretora vê o sentimento de gratidão espalhado pelas cartas. “É uma geração que está se formando com essa visão mais generosa. Pensam neles mesmo, mas também pensam no outro. É um incentivo ao lado bom que todo mundo tem dentro. Todos nós temos uma boa parte que precisa de estímulo, de um ambiente propício para que apareça. As crianças ao enviarem essas mensagens, estão promovendo esse ambiente”, avaliou.
Príscilla Duarte, mãe de Lara, disse que iniciativa aconteceu depois de uma conversa que tiveram em casa sobre o que poderia ser feito para levar um pouco de bem-estar a quem está trabalhando durante a pandemia. “Aí ela empreendeu a ideia, eu coloquei no grupo das mães para compartilhar e acabou tomando essa proporção. Fiquei muito grata a Deus por ter uma filha que presta atenção dessa forma e orgulhosa de saber que ela está se movimentando e formando essa corrente com esse tipo de preocupação neste momento”, disse.
O aluno do ensino infantil 5, Eduardo Chagas, de cinco anos, também participou da ação. O início na aprendizagem da leitura não o impediu de enviar a homenagem aos profissionais da saúde. Ele fez dois desenhos para médicos e enfermeiros. “Eles estão sendo muito valentes e muito corajosos para sair de casa e ir para o hospital”, disse a criança ao explicar para a reportagem as ilustrações feitas por ele.
Mãe de Eduardo, Renata Chagas, diz que tem procurado proteger o filho para que ele receba informações adequadas para a idade dele. Ela tem explicado se tratar de um novo vírus em que os médicos e cientistas estão aprendendo a combatê-lo e para ajudar, é necessário ficar em casa. “Ele se preocupa muito com os idosos, pois sabe que para eles é mais perigoso. Às vezes, pergunta como estão os bisavós. Explicamos que eles estão bem e quietinhos em casa também, e que todos estão colaborando para proteger a todos e principalmente aos idosos. Fazemos ligações e vídeo com os avós e os bisavós com frequência”, contou Renata.
Ela chegou a mostrar a reação dos médicos para o filho. “É de emocionar ver a fisionomia dele feliz em ter feito o bem. Assim também trabalhamos no dia a dia em casa. As atitudes de colaboração, conciliação, alegria, criatividade que ele tem, são valorizadas para que ele tenha consciência de como está contribuindo e de como pode contribuir nesse momento que estamos vivendo”, completou.
As correspondências também foram enviadas por pré-adolescentes aos profissionais da saúde. Taís Veiga, mãe de Laís Veiga, 13, e Ian Veiga, 12, disse que ambos têm ciência do que está acontecendo e, até certo ponto, da gravidade causada pelo coronavírus. No entendimento da mãe, essas cartas servem para despertar nos profissionais da saúde e outros que estão na rua, como da segurança pública, o sentimento de força e de incentivo. “Vai tocar a parte que eles têm de bom e que vão poder continuar esse trabalho para o bem da comunidade. Se forem focar só no problema, a vontade é de ficar em casa o tempo todo. Mas quem tem que ficar na rua, as cartas incentivam a um propósito maior”, afirmou.
Agradecimentos
Em vídeo enviado como resposta às cartas, enfermeiras do Hospital Madre Teresa agradeceram a homenagem e se emocionaram. “Foi um minuto de paz, de alegria, de conforto e que deu muito estímulo para continuar os nossos trabalhos. Vermos crianças solidárias desde pequenas com a humanidade, pensando no outro, nos faz acreditar em um futuro melhor, com adultos também mais solidários”, diz uma das enfermeiras que espera, um dia, poder abraçar algumas das crianças como futuros colegas e trabalharem juntos.
Já na Santa Casa, uma espécie de reunião antes do início da jornada foi feita entre os encarregados pela higienização do local. A responsável pela equipe leu duas cartas de alunos que reconheciam a importância dos profissionais da limpeza no ambiente hospitalar. As homenagens foram respondidas com aplausos e com um discurso da importância do reconhecimento do trabalho e de ter pessoas dando força em um momento tão complicado.
Redes Sociais
Nem sempre é possível enviar e receber as cartas fisicamente durante a pandemia. Aproximar quem tem que ficar distante, acaba sendo um grande desafio. Pensando nisso, duas comunicadoras criaram um perfil no Instagram chamado Carta-19, uma referência ao nome da doença Covid-19. A página compartilha as mensagens escritas para aqueles que estão atuando no enfrentamento ao vírus.
A ideia surgiu depois que Iara Musa, artista e fotógrafa, recebeu uma carta de uma colega enfermeira elogiando o seu trabalho. “Então pensei em retribuir o carinho a respeito do trabalho que ela faz. Pensei em criar um espaço para compartilhar cartas da população para as pessoas que tem que trabalhar para manter os serviços básicos”, lembrou Iara.
Angel Jackson, que idealizou o projeto ao lado de Iara, disse que esse é um momento para encontrar formas de aproximação e afeto que ultrapassem as barreiras físicas. “Pensar nessas pessoas como seres humanos e não super heróis, apesar de muitas vezes acharmos muito bonito coloca-los nesse lugar. Precisamos olhar pelo outro lado e entender que são seres humanos assim como nós e precisamos enxergar essa humanidade neles”, disse.
Com O Tempo