Minas Gerais terminou abril perdendo 88.298 vagas no mercado de trabalho formal, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem pelo Ministério da Economia. Durante o mês a economia do estado foi duramente afetada pela pandemia do novo coronavírus: 60.915 pessoas foram contratadas no estado, mas outras 149.213 foram demitidas. Com isso, o mercado de trabalho mineiro foi o segundo mais afetado pela pandemia de Covid-19 em abril no país, atrás apenas do de São Paulo. De janeiro a abril, Minas acumula um saldo negativo de 76.957 empregos formais: as carteiras de 513.336 trabalhadores foram assinadas, mas 590.293 foram mandados embora este ano.
Os números do emprego no Brasil divulgados ontem quebraram recordes. Segundo o Caged, abril de 2020 teve o pior saldo de empregos formais da série histórica, com 860.503 vagas fechadas. No mês o número de demissões (1.459,099) em todo o país superou o de contratações (598.596) em mais de duas vezes. Esse é o pior desempenho do mercado de trabalho brasileiro para o mês já registrado pelo Caged. Desde 1992, o maior saldo negativo do cadastro para o mês foi registrado em 2015, durante a última recessão, com 97.828 vagas perdidas. Em abril do ano passado, foi registrado saldo positivo de 129.601 empregos.
No acumulado do ano até abril, o Brasil já viu 763.232 vagas de emprego formal fechadas. Com 5.763.213 de demissões e 4.999.981 contratações, esse número também representa o maior saldo negativo para o período na série histórica do Ministério da Economia, que começou em 2010. Nos quatro primeiros meses de 2019, o mercado de trabalho brasileiro criou 313.835 vagas a mais do que cortou. Apenas em março e abril, meses da pandemia no país, foram 1,1 milhão de postos de trabalho com carteira fechados.
Por causa da pandemia, os resultados negativos do Caged já eram esperados, segundo o pesquisador Daniel Duque, da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre). Duque afirma que os recordes de saldos negativos se explicam pela natureza da crise econômica provocada pelo coronavírus, que é diferente das outras recessões. “Normalmente, os agentes econômicos demoram um pouco para responder a uma crise, demora mais para afetar o mercado de trabalho. Com a pandemia, o primeiro efeito foi no consumo das famílias e a resposta do mercado foi muito mais instantânea”, explica.
Para o pesquisador, o trabalho informal está sendo ainda mais impactado do que o formal durante a crise. “Na informalidade é mais fácil para a atividade, como não tem obrigações contratuais”, afirma Daniel Duque. Porém, na avaliação de Duque, o mercado informal deve se recuperar mais rapidamente da crise do que o formal. “As empresas estarão em uma situação financeira pior e por isso vai demorar mais a retomar”, analisa.
Geral
Todos os estados tiveram saldos negativos de emprego formal em abril. São Paulo lidera a lista, com menos 260.902 vagas. O Rio de Janeiro é o terceiro, depois de Minas, com 83.626 vagas fechadas. Já no acumulado de janeiro a abril, Minas é o terceiro estado mais afetado. O mercado de trabalho paulista foi o mais prejudicado no ano, com saldo negativo de 227.670 empregos, seguido pelo Rio de Janeiro, com 125.154. De janeiro a abril, o mercado de três estados criou mais empregos do que extinguiu: Acre (1.403), Mato Grosso do Sul (734) e Roraima (134).
A pandemia também afetou os novos tipos de contrato de trabalho criados pela Reforma Trabalhista, contrato intermitente e jornada parcial. Segundo o Caged, 2.375 empregos intermitentes foram fechados em abril, enquanto 9.148 vagas de jornada parcial foram perdidas. De janeiro a abril, o saldo de trabalho intermitente é positivo em 14.123 empregos. Assim como o trabalho parcial, que registra saldo de 7.710 vagas criadas.
De acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Economia, os empregos dos setores de serviços, comércio e indústria foram os mais impactados pelo coronavírus. Enquanto isso, construção e agricultura não sofreram tanto. Em abril, o setor de serviços registrou saldo negativo de 362.378 vagas. Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas perderam juntos 230.209 empregos. Já a indústria fechou o mês com 195.968 postos de trabalho a menos. A construção terminou o período com saldo negativo de 66.942 vagas. Por outro lado, o saldo negativo da agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura ficou em 4.999.
No recorte de janeiro a abril, o Caged mostra conclusões parecidas sobre os setores. Nos quatro primeiros anos o comércio e a reparação de veículos foram as áreas que mais perderam empregos, registrando saldo negativo de 342.748 vagas. Em seguida, vieram serviços (-280.716), indústria (-127.886) e construção (-21.837). O grupo de atividades da agropecuária é o único que tem saldo positivo no ano, de 10.032 empregos formais. Segundo Daniel Duque, o efeito menor na agricultura se deve a dois fatores. A essencialidade do setor, que continuou produzindo, além da distância do campo dos centros urbanos, o que diminui a necessidade de isolamento social para conter a propagação do coronavírus.
O relatório de abril do Caged também fez um balanço dos resultados do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEM), instituído pela Medida Provisória 936/2020. O programa permite a suspensão do contrato de trabalho ou redução de jornada e salário durante a pandemia, com valores pagos ao empregador pelo governo federal. Segundo o Ministério da Economia, 8.154.997 trabalhadores foram incluídos na medida, que deve envolver o gasto de R$ 14,2 bilhões.
Com Estado de Minas