O prédio que tombou na cidade de Betim, em Minas Gerais, deverá começar a ser demolido neste sábado (21). Ainda em fase de construção, o terreno do prédio cedeu e comprometeu permanentemente a estrutura da construção. Felizmente, não havia ninguém no prédio no momento do acidente.
A prefeitura informou que entrou com uma ação na Justiça, nesta quinta-feira (19), pedindo que a empresa responsável pela obra arque com todas as despesas que as famílias prejudicadas tiverem, como o pagamento de alimentação, hospedagem e deslocamentos, e indenize os moradores que foram afetados direta ou indiretamente pelo tombamento do prédio. Além disso, o município também exige na Justiça que a Construtora Abrahim Hamza Construções Eireli, responsável pela obra, faça o ressarcimento aos cofres municipais do valor gasto para custear o laudo e a demolição do edifício.
“O parecer dos engenheiros é de que a edificação está ancorada e não deve desabar sozinha. Mas nós fizemos contato com os advogados da construtora e não obtivemos um retorno positivo. Eles nos informaram que o proprietário do imóvel, um investidor de 67 anos que teria outros empreendimentos na cidade, teve um infarto ao saber do ocorrido e que, por isso, eles estão com dificuldades de tomar as devidas providências. Por isso, a prefeitura decidiu entrar com essa ação judicial exigindo a demolição do prédio e a realocação das famílias. Como eles não se manifestaram, a prefeitura tomará as medidas cabíveis”, disse o procurador geral de Betim, Bruno Cypriano.
Ainda de acordo com a prefeitura, a construção estava com toda a documentação em dia, no entanto, os técnicos e os engenheiros que estiveram no prédio acreditam que possa ter havido uma falha na execução do projeto. “Mas ainda é muito cedo para falarmos sobre o que causou tudo isso. O que queremos, agora, é garantir a segurança e o bem-estar dos cidadãos. A expectativa é que até sábado (21) os trabalhos sejam concluídos, e as 15 famílias que moram no entorno do prédio possam retornar para suas casas em segurança.
De acordo com Jacob Alves de Souza, da empresa Demolidora Solum, a proposta é que seja utilizada uma escavadeira com um “braço” estendido de 22 metros para demolir o imóvel. “Vamos apresentar o laudo e a proposta de técnica de demolição para a prefeitura nesta sexta (20). Caso seja aprovada, se o prédio vir a atingir um colapso, não atingirá o equipamento. Os trabalhos serão feitos com toda a segurança, visando proteger, ao máximo, as construções que ficam no entorno do prédio. Nossa proposta é que o processo de demolição para tirar o risco de desabamento dure dois dias. Depois disso, será feita a retirada do entulho do local”, explicou.
Novos abalos
Entre a noite de quarta (18) e a madrugada desta quinta (19), técnicos da Defesa Civil de Betim relataram ter ouvido novos estalos na edificação, que apresentou novas trincas e rachaduras. Parte de uma parede do prédio também caiu no início desta tarde, e acendeu ainda mais o alerta das equipes de monitoramento. “O prédio se encontra fora do centro de gravidade e esse deslocamento coloca em risco toda a estrutura do prédio. Vamos continuar monitorando o local até a solução do problema, dando apoio aos moradores do prédio e dos imóveis do entorno”, afirmou o coronel Walfrido de Assis Lopes, da Defesa Civil de Betim. A Guarda Municipal também fará rondas no local para garantir a segurança das residências que foram desocupadas.
Sofrimento
Moradora de uma casa que fica em frente ao prédio que tombou, a manicure Ellem Camila Souza disse que teve que sair de casa desde que o edifício tombou e que está morando de favor na residência de uma vizinha. “É complicada essa situação, porque ninguém da empresa aparece para nos dar um posicionamento. Temos crianças, temos nossos pertences. A única coisa que a gente quer é voltar para casa em paz, porque nem dormir mais nós conseguimos”, lamentou.
Já a dona de casa Luciana Silva, que mora no imóvel que fica ao lado do prédio, ainda está se recuperando do susto. “Estava em casa com meu marido e minhas duas filhas. Chovia muito no momento e estávamos sem energia elétrica. Então, decidimos todos irmos dormir, quando ouvimos os barulhos. Uma viga caiu no quarto das minhas filhas e subiu muita poeira. Meu marido saiu correndo, acordando as meninas para que pudéssemos sair logo de casa. Só quando saímos na rua que vimos que o prédio havia tombado”, contou.
Segundo Luciana, ela e a família, assim como outros vizinhos, passaram a madrugada na rua, de baixo de chuva, sem saber o que fazer. No dia seguinte, eles foram abrigados pelos vizinhos e, até então, não tiveram nenhum retorno dos representantes da construtora. “Eu desejo que o senhor responsável pelo prédio se recupere logo e fique bem. Sabemos que ele é boa pessoa e, pelo o que víamos durante a construção, isso não foi culpa dele. Deve ter sido algum erro de quem estava fazendo mesmo a obra. Não queremos confusão com ninguém, nem estou preocupada com os danos materiais que tivemos. Só quero que tudo isso se resolva para que eu possa voltar logo para minha casa em segurança”, desabafou.
Sem retorno
Por diversas vezes, ao longo desta quinta (19), a reportagem tentou contato com os advogados da construtora, mas as ligações nem as mensagens foram respondidas. Até o fim da tarde desta quinta (19), nenhum representante da construtora esteve no local para acompanhar a situação.