A reforma de um banheiro se tornou uma dor de cabeça para Viviane de Freitas*, de 58 anos, que alega ter sido vítima de estelionato após solicitar um empréstimo consignado de R$ 10 mil. Os problemas no cômodo foram solucionados, mas a moradora do bairro Horto, na região Leste de Belo Horizonte, acumulou outros bem maiores. É que ela contraiu uma dívida de cerca de R$ 120 mil, que estaria sendo desfrutada por outra pessoa. O caso ocorreu há dois anos.
A mulher, que terá a identidade preservada por ser suspeita de estelionato, posta fotos de viagens frequentemente nas redes sociais. Apesar da dona de casa não ter acesso ao Instagram, o dia a dia dela é visto pelos filhos, que acompanham a suspeita na internet.
Segundo dona Viviane, três anos após o falecimento do seu marido, ela precisou de realizar uma reforma em seu banheiro que estava com uma infiltração. Um pastor da igreja que ela frequentava no bairro Santa Inês acabou recomendando sua filha, que trabalhava à época em uma empresa de empréstimos consignados no Centro da capital.
“‘Irmã, se a senhora precisar de algum empréstimo, minha filha trabalha com isso, em menos de uma semana ela consegue esse dinheiro para a senhora’. Como meu esposo já mexia com o consignado há muitos anos, eu falei com ele: ‘pastor, eu não quero mexer com isso’. Porque a minha intenção era esperar a pensão sair. Mesmo assim, eu fui ao depósito, olhei preço de material e tudo, fiz um orçamento pra ver se eu conseguiria comprar no cartão ou boleto, alguma coisa assim. O valor ficou aproximadamente R$ 10 mil”, contou.
Por ser pensionista e não ter limite de crédito no cartão, a dona de casa decidiu procurar a mulher para entender como funciona o empréstimo. Durante a conversa, Viviane contou que deixou claro que gostaria apenas de um empréstimo de R$ 10 mil dividido em dez parcelas.
Contrato ‘assinado’ por foto
Segundo ela, o contrato foi assinado por meio de uma fotografia, o que gerou estranheza. No entanto, a suspeita justificou que agora “todos os bancos trabalham com o digital”. Como ela é filha de um pastor conhecido, ela realizou o procedimento. Além do rosto, ele teve seus documentos fotografados.
Dona Viviane disse que apenas um dos seus filhos estava trabalhando à época, recebendo meio salário mínimo. “Então você pensa o quê? É uma saída eu arrumar esse banheiro com o consignado. E, como já iria vir descontando na pensão, iria ficar mais tranquila”, disse.
Na ocasião, ela foi informada pela mulher que as parcelas seriam descontadas em dois ou três meses no valor da pensão. “Aí eu falei assim: não, então vai ser até melhor, porque aí a gente faz algo tranquilo, porque eu posso fazer uma feirinha aqui pra casa com as primeiras pensões que eu receber, porque eu demorei seis meses para receber minha primeira pensão. E assim foi. Com uns oito, nove dias, caíram R$ 10 mil na minha conta”.
A princípio, teria dado tudo certo, porém, após 15 dias, o primeiro valor não solicitado caiu em sua conta. “Quinze dias após esse primeiro depósito, novos valores começaram a cair na minha conta. Inicialmente, vieram R$ 12 mil. Fiquei desesperada. Liguei para ela para saber o que estava acontecendo e ela disse que era um erro do INSS e que eu poderia fazer a devolução do dinheiro. Cinco dias depois, caiu mais R$ 16 mil. Três dias depois, mais R$ 22 mil. A orientação foi a mesma. Bastava eu devolver para o INSS e, para isso, ela geraria um boleto, no valor dos depósitos não solicitados”, disse.
Dona Viviane contou que procurou a mulher para falar sobre o ocorrido, que tentou tranquilizá-la sobre a situação. “‘Não se preocupe dona Viviane. É só a gente devolver para o INSS e eles cancelam a dívida da senhora’”, teria dito o suspeita. A dona de casa então deixou o dinheiro no banco e seguiu as orientações da filha do pastor.
Viviane pegou os boletos com a mulher para quitá-los – o que seria a suposta devolução ao INSS. Depois que foi ao banco, procurou novamente a mulher e disse que pagou os boletos. “Nos meses seguintes começaram a vir os descontos – mais de R$ 1,3 mil”, desabafou a dona de casa, que decidiu procurar o “pastor oficial” da igreja para comentar sobre o ocorrido. Foi ele quem a orientou a procurar a polícia. A dona de casa então seguiu para a delegacia e registrou boletim de ocorrência.
“No mês que veio o desconto eu procurei por ela. Falei assim: você disse que não viria desconto na minha pensão e veio. Eu não tenho como pagar esse valor que eles descontaram, se não eu vou ficar sem comprar remédio, comida aqui em casa e tá todo mundo desempregado. ‘Dona Viviane, eu sou uma mulher de palavra. E eu prometi pra senhora que a senhora não vai ficar no prejuízo. Eu vou devolver esse dinheiro pra senhora’,” teria prometido a suspeita.
Nos três primeiros meses, ele recebeu da mulher uma transferência por PIX com a quantia descontada. Já no quarto mês ela sumiu. “Tentava ligar, não conseguia, o telefone não existia, caía na caixa postal. Eu sei que eu não tive mais nenhum contato com essa menina”, afirma.
Os primeiros advogados que defendiam dona Viviane tentaram conversar amigavelmente com o pastor e a filha, mas ambos não compareceram ao local. “O ‘pastor oficial’ tentou ligar para eles, mas o outro pastor alegou que a filha não era estelionatária”.
Mulher foi intimada
A suspeita não compareceu nas duas vezes que foi intimada. Porém, Viviane disse que ela recebeu os documentos. A dona de casa se recorda de quando ela, o pastor e o companheiro foram até sua casa dizendo que eram honestos.
Foi nesta época que ela percebeu que o dinheiro havia caído na verdade em nome do homem que estava com a suspeita. “Quando nós fomos ao banco que o gerente entrou lá pra ver onde tínhamos mandado os valores dos boletos que pagamos, o que apareceu na tela do banco foi o endereço e CPF desse homem”, contou.
Crise de pânico e convulsões
No meio dessa confusão, Viviane revela que precisou ser medicada e que um dos remédios custa R$ 478. “Descontrolou minha saúde toda, minha pressão subiu, tive crise de pânico e de convulsão. Minha saúde foi para o brejo”, desabafou.
Agora, com novos advogados, ela busca rever o dinheiro da dívida que ela acumulou sem solicitar. “Assinei uma procuração dando a eles a autonomia para eles entrarem com esse processo. Porque até então, os outros não fizeram nada e diante do INSS é como se eu tivesse pego um empréstimo, feito consignado, sendo que eu nem fiz, nem vi a cor do dinheiro. E é muito chato”.
A reportagem procurou a suspeita pelas redes sociais e aguarda retorno. Além disso, entrou em contato com a empresa onde a mulher trabalhava, que disse que ela não está no local “faz tempo”. A reportagem segue aberta para que os envolvidos possam se manifestar.
Em nota, a Polícia Civil destacou que “instaurou Inquérito Policial para apurar o fato e a investigação encontra-se em andamento a cargo da 1ª Delegacia de Polícia Civil Leste, situada à Rua Pouso Alegre, 417 – bairro Floresta”.
Com Itatiaia
A reforma de um banheiro se tornou uma dor de cabeça para Viviane de Freitas*, de 58 anos, que alega ter sido vítima de estelionato após solicitar um empréstimo consignado de R$ 10 mil. Os problemas no cômodo foram solucionados, mas a moradora do bairro Horto, na região Leste de Belo Horizonte, acumulou outros bem maiores. É que ela contraiu uma dívida de cerca de R$ 120 mil, que estaria sendo desfrutada por outra pessoa. O caso ocorreu há dois anos.
A mulher, que terá a identidade preservada por ser suspeita de estelionato, posta fotos de viagens frequentemente nas redes sociais. Apesar da dona de casa não ter acesso ao Instagram, o dia a dia dela é visto pelos filhos, que acompanham a suspeita na internet.
Segundo dona Viviane, três anos após o falecimento do seu marido, ela precisou de realizar uma reforma em seu banheiro que estava com uma infiltração. Um pastor da igreja que ela frequentava no bairro Santa Inês acabou recomendando sua filha, que trabalhava à época em uma empresa de empréstimos consignados no Centro da capital.
“‘Irmã, se a senhora precisar de algum empréstimo, minha filha trabalha com isso, em menos de uma semana ela consegue esse dinheiro para a senhora’. Como meu esposo já mexia com o consignado há muitos anos, eu falei com ele: ‘pastor, eu não quero mexer com isso’. Porque a minha intenção era esperar a pensão sair. Mesmo assim, eu fui ao depósito, olhei preço de material e tudo, fiz um orçamento pra ver se eu conseguiria comprar no cartão ou boleto, alguma coisa assim. O valor ficou aproximadamente R$ 10 mil”, contou.
Por ser pensionista e não ter limite de crédito no cartão, a dona de casa decidiu procurar a mulher para entender como funciona o empréstimo. Durante a conversa, Viviane contou que deixou claro que gostaria apenas de um empréstimo de R$ 10 mil dividido em dez parcelas.
Contrato ‘assinado’ por foto
Segundo ela, o contrato foi assinado por meio de uma fotografia, o que gerou estranheza. No entanto, a suspeita justificou que agora “todos os bancos trabalham com o digital”. Como ela é filha de um pastor conhecido, ela realizou o procedimento. Além do rosto, ele teve seus documentos fotografados.
Dona Viviane disse que apenas um dos seus filhos estava trabalhando à época, recebendo meio salário mínimo. “Então você pensa o quê? É uma saída eu arrumar esse banheiro com o consignado. E, como já iria vir descontando na pensão, iria ficar mais tranquila”, disse.
Na ocasião, ela foi informada pela mulher que as parcelas seriam descontadas em dois ou três meses no valor da pensão. “Aí eu falei assim: não, então vai ser até melhor, porque aí a gente faz algo tranquilo, porque eu posso fazer uma feirinha aqui pra casa com as primeiras pensões que eu receber, porque eu demorei seis meses para receber minha primeira pensão. E assim foi. Com uns oito, nove dias, caíram R$ 10 mil na minha conta”.
A princípio, teria dado tudo certo, porém, após 15 dias, o primeiro valor não solicitado caiu em sua conta. “Quinze dias após esse primeiro depósito, novos valores começaram a cair na minha conta. Inicialmente, vieram R$ 12 mil. Fiquei desesperada. Liguei para ela para saber o que estava acontecendo e ela disse que era um erro do INSS e que eu poderia fazer a devolução do dinheiro. Cinco dias depois, caiu mais R$ 16 mil. Três dias depois, mais R$ 22 mil. A orientação foi a mesma. Bastava eu devolver para o INSS e, para isso, ela geraria um boleto, no valor dos depósitos não solicitados”, disse.
Dona Viviane contou que procurou a mulher para falar sobre o ocorrido, que tentou tranquilizá-la sobre a situação. “‘Não se preocupe dona Viviane. É só a gente devolver para o INSS e eles cancelam a dívida da senhora’”, teria dito o suspeita. A dona de casa então deixou o dinheiro no banco e seguiu as orientações da filha do pastor.
Viviane pegou os boletos com a mulher para quitá-los – o que seria a suposta devolução ao INSS. Depois que foi ao banco, procurou novamente a mulher e disse que pagou os boletos. “Nos meses seguintes começaram a vir os descontos – mais de R$ 1,3 mil”, desabafou a dona de casa, que decidiu procurar o “pastor oficial” da igreja para comentar sobre o ocorrido. Foi ele quem a orientou a procurar a polícia. A dona de casa então seguiu para a delegacia e registrou boletim de ocorrência.
“No mês que veio o desconto eu procurei por ela. Falei assim: você disse que não viria desconto na minha pensão e veio. Eu não tenho como pagar esse valor que eles descontaram, se não eu vou ficar sem comprar remédio, comida aqui em casa e tá todo mundo desempregado. ‘Dona Viviane, eu sou uma mulher de palavra. E eu prometi pra senhora que a senhora não vai ficar no prejuízo. Eu vou devolver esse dinheiro pra senhora’,” teria prometido a suspeita.
Nos três primeiros meses, ele recebeu da mulher uma transferência por PIX com a quantia descontada. Já no quarto mês ela sumiu. “Tentava ligar, não conseguia, o telefone não existia, caía na caixa postal. Eu sei que eu não tive mais nenhum contato com essa menina”, afirma.
Os primeiros advogados que defendiam dona Viviane tentaram conversar amigavelmente com o pastor e a filha, mas ambos não compareceram ao local. “O ‘pastor oficial’ tentou ligar para eles, mas o outro pastor alegou que a filha não era estelionatária”.
Mulher foi intimada
A suspeita não compareceu nas duas vezes que foi intimada. Porém, Viviane disse que ela recebeu os documentos. A dona de casa se recorda de quando ela, o pastor e o companheiro foram até sua casa dizendo que eram honestos.
Foi nesta época que ela percebeu que o dinheiro havia caído na verdade em nome do homem que estava com a suspeita. “Quando nós fomos ao banco que o gerente entrou lá pra ver onde tínhamos mandado os valores dos boletos que pagamos, o que apareceu na tela do banco foi o endereço e CPF desse homem”, contou.
Crise de pânico e convulsões
No meio dessa confusão, Viviane revela que precisou ser medicada e que um dos remédios custa R$ 478. “Descontrolou minha saúde toda, minha pressão subiu, tive crise de pânico e de convulsão. Minha saúde foi para o brejo”, desabafou.
Agora, com novos advogados, ela busca rever o dinheiro da dívida que ela acumulou sem solicitar. “Assinei uma procuração dando a eles a autonomia para eles entrarem com esse processo. Porque até então, os outros não fizeram nada e diante do INSS é como se eu tivesse pego um empréstimo, feito consignado, sendo que eu nem fiz, nem vi a cor do dinheiro. E é muito chato”.
A reportagem procurou a suspeita pelas redes sociais e aguarda retorno. Além disso, entrou em contato com a empresa onde a mulher trabalhava, que disse que ela não está no local “faz tempo”. A reportagem segue aberta para que os envolvidos possam se manifestar.
Em nota, a Polícia Civil destacou que “instaurou Inquérito Policial para apurar o fato e a investigação encontra-se em andamento a cargo da 1ª Delegacia de Polícia Civil Leste, situada à Rua Pouso Alegre, 417 – bairro Floresta”.
Com Itatiaia