Mesmo com a melhora da pandemia, transplantes de órgãos seguem em queda no Brasil. Setembro é o mês dedicado à campanha nacional de incentivo à doação de órgãos e só em Minas Gerais cerca de seis mil pessoas aguardam na fila pelo transplante e pela chance de renascer.
Com o intuito de diminuir o tempo de espera e potencializar o número de doações, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) irá realizar um encontro com transplantados e pacientes em fila de espera nesta terça-feira (27), Dia Nacional da Doação de Órgãos. A instituição é um dos maiores centros transplantadores de Minas Gerais e realiza transplantes de coração, fígado, rins, medula óssea e córneas.
“A fila de espera por um órgão atualmente no estado de Minas é realmente muito grande. Nós temos cerca de 5.900 pessoas esperando por um órgão e/ou tecido. As maiores filas são de rim com 2.900 pessoas e de córnea com 2.900 pessoas esperando”, explicou o diretor do MG-Transplantes, Omar Lopes.
Na pandemia o procedimento de doação de órgãos ficou muito restritivo, então as doações caíram muito. Mas, segundo o diretor, o cenário está melhorando. “Os anos de pandemia foram muito ruins para doação de órgãos e tecidos em Minas e no Brasil. Mas, a partir deste ano, com a melhora dos números da pandemia, nós estamos vendo uma retomada dos números de doações – mas ainda aquém do melhor ano de doação, 2019. Mas segue em ascensão”.
‘Eu tenho uma vida totalmente diferente’
Raíne Vitória Medrado, de 20 anos, começou a ter problemas nos rins aos 4 anos de idade. Durante o tratamento, ao longo da vida, chegou a ficar três anos internada e tomando 28 medicamentos por dia. Ela conta que o transplante feito no ano passado de um doador pós-morte salvou sua vida.
“Eu fazia hemodiálise, estava muito debilitada e tinha muita coisa que eu não conseguia fazer. Depois do transplante, tudo mudou. Eu tenho uma vida totalmente diferente. Se eu não contar, ninguém nem fala que eu sou transplantada e que um dia eu tive alguma doença. Hoje é totalmente diferente”, contou.
Ela reforça que a doação é fundamental. “Todo mundo deveria pensar um pouco sobre isso e respeitar quando a família deseja doar”, disse. Ela conta que recebeu a órgão da família de uma criança de nove anos. “Uma criança salvou a minha vida”, completou.
O atleta e professor Fernando Tyson passou por um transplante de rim há cinco anos. Ele era um esportista de alta performance e teve que parar tudo por problemas nos rins. Após o transplante de um doador morto, ele voltou ao esporte e é medalhista. “A partir do momento em que eu fiquei doente, eu tive que interromper. Hoje, eu pratico tênis e natação”, contou.
No mês de setembro, ocorreu o segundo campeonato dos Jogos Brasileiros de Transplantados, que ocorreu em Curitiba, no Paraná. “Eu trouxe de lá duas medalhas para o nosso estado. Fiquei com a medalha de bronze no tênis e em primeiro lugar na natação no estilo costas”, completou.
O encontro
Pacientes e familiares, equipe médica e interessados na causa se encontrarão no estacionamento do Campus Saúde, que fica no bairro Santa Efigênia, na região Leste de Belo Horizonte, onde acontecerá roda de conversa com médicos das equipes transplantadoras, apresentação musical e outras atividades.
Haverá soltura de balões na cor verde representando as várias vidas já salvas pelo gesto de amor que é a doação de órgãos.
Seja doador Para ser doador após a morte, a família já deve ter sido comunicada previamente do desejo do ente querido em doar os órgãos. A família tem o poder de autorizar ou não o processo após a comprovação da morte encefálica. É fundamental que, ao longo da vida, o doador tenha manifestado este desejo. Um único doador pode salvar ou melhorar a vida de 20 a 50 pessoas.
Ciência
Nesta semana, ocorre o o “VII Seminário sobre Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes”, encontro online organizado pela unidade de saúde, entre 26 e 29 de setembro, com o objetivo de discutir o cenário atual dos transplantes e da doação de órgãos em Minas Gerais.
O encontro é gratuito, aberto à comunidade científica e sociedade por meio do Programa de Extensão da UFMG. Haverá certificado para os participantes que assinarem a lista de presença on-line.
A programação visa ampliar e aprofundar discussões de interesse na área de doação e transplantes de órgãos que passam por aspectos éticos, humanização dos serviços de saúde e acolhimento familiar no luto; a importante e oportuna doação de tecidos oculares; aspectos técnicos relativos à doação e transplantes; resultados e impacto na vida das pessoas transplantadas.
Com Itatiaia