Há oito anos, o horticultor José Maria Ribeiro, de Capim Branco, tomou uma decisão: substituir o sistema convencional de produção de hortaliças pela hidroponia. Ele conta que a ideia surgiu depois de participar de um Encontro do setor promovido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2014. “Fiquei animado com a possibilidade de economizar água e ter um manejo facilitado, que eram algumas das vantagens destacadas pelos palestrantes.” De lá pra cá, foram muitos os desafios. Mas José Maria, com a ajuda de sua esposa Mônica e dos filhos Daniel, Bernardo e Guilherme, superou todos e hoje é um dos maiores produtores de hortaliças da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O principal entrave era o valor do investimento inicial: cerca de R$ 700 mil. Mas graças ao envolvimento de Daniel, que é Engenheiro de Produção, José Maria não desistiu. “Substituímos o metal das hastes de sustentação das estufas por madeira, por termos maior facilidade de aquisição. Além disso, o próprio Daniel elaborou o projeto e acompanhou a execução da obra, baixando o custo para R$ 500 mil, financiados com recursos do Pronaf”.
Mas a obra só foi mesmo levada adiante depois de Daniel passar seis meses fazendo uma Especialização em Hidroponia na UFSC. “Ele virou um expert no assunto. Foi quando decidimos que realmente valia a pena o investimento”. Tanto cuidado se justifica porque pai e filho perceberam que o segmento não era para amadores. A produção envolve muitos detalhes técnicos e necessidade de atualização constante. “Quem não entende isso pode dar com os burros n’água. Não é uma aventura, não é simplesmente colocar umas mudinhas na água, exige estudo, dedicação e planejamento”.
Retorno vem em dois anos
No sistema hidropônico, a planta se desenvolve numa solução de água e sais minerais. Mas o extensionista agropecuário da Emater, Glauco Francisco Ferreira (foto), explica que a água e as substâncias devem ter quantidades e proporções bem definidas para evitar concentrações potencialmente tóxicas e resguardar a segurança do alimento.
Com 14 anos de experiência na área, Glauco disse que é possível iniciar uma produção, numa área menor que a do Zé Maria, com investimento inicial de cerca de R$ 120 mil, valor que se recupera num período entre um ano e meio a dois anos. Entre as vantagens do sistema, ele cita: menor área de cultivo, menor custo de produção, maior lucratividade, menor necessidade de mão-de-obra, facilidade de manejo e a maior delas: a economia de água. Para se ter uma ideia, no sistema convencional, um pé de alface consome, por ciclo, cerca de 25 litros de água. Se o agricultor optar pela irrigação por gotejamento, usando aspersão, esse consumo pode chegar a 80 litros. No sistema hidropônico, o mesmo pé de alface necessitará apenas de quatro litros.
Outro técnico agropecuário da Emater, Hugo Murta, que atua na região de Montes Claros, reconhece que o sistema seria o ideal para essa parte do estado, predominantemente seca. Mas ele próprio só conhece uns quatro produtores, exatamente, pelo alto custo do investimento. “As pessoas têm receio de investir, de se comprometerem com financiamentos, mas posso afirmar que vale muito a pena, por exigir um consumo de água 80% menor, menos mão de obra, menos gastos com manejo, insumos e maior aceitação e valorização do mercado”.
Produção dez vez maior
A estufa do José Maria no sítio Recanto da Lua tem 4 mil e 500 metros quadrados. Seu investimento inicial, de meio milhão, foi pago em cerca de dois anos e meio. A produção? Pasmem! É dez vezes maior. Com apenas dois funcionários, ele e o filho entregam, para os principais supermercados de Belo Horizonte, mil unidades de alface, rúcula, agrião, espinafre, coentro, salsinha, cebolinha e alecrim. “Há um súbito e espantoso interesse pelo Alecrim”, revelou, em tom de curiosidade.
Outro ponto positivo é a redução de perdas. Enquanto no sistema convencional, segundo ele, aproveita-se cerca de 60% do que foi semeado, na produção hidropônica, o aproveitamento é de 85 a 90%.
Mas as vantagens da hidroponia não são apenas para quem planta. O consumidor também se beneficia ao receber um alimento mais limpo (por não ter contato com a terra), livre de agrotóxicos (a maior parte dos cultivadores não vê necessidade de defensivos) e com um maior tempo de vida útil. Zé Maria explica que, como as plantas são entregues ao varejo ainda com raiz e, em geral, mantidas em recipientes com água, duram muito mais. “Algumas até mais de uma semana”, festeja.
O horticultor não tem do que reclamar: fez bem seu “dever de casa”, planejou o negócio, estudou, buscou conhecimento, pesquisou o mercado e, hoje, consegue trabalhar com conforto, boa lucratividade e a participação de toda a família, uma vez que Mônica e os filhos ajudam no processamento das hortaliças. Como as plantas ficam em canteiros suspensos, feitos com tubos de pvc, as colunas de todos também agradecem. “Ficar agachado, remexendo a terra, ficou para trás”.
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Da Redação com Itatiaia.