Quase sete anos após o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, e com três anos de atraso, a Fundação Renova, criada pelas mineradoras (Vale, BHP Billiton e Samarco) responsáveis pela tragédia para reparação dos danos, anunciou nesta quarta-feira (19) que as primeiras famílias serão reassentadas no “novo” Bento Rodrigues no começo de 2023. A comunidade foi uma das destruídas pela tragédia, que deixou 19 pessoas mortas em 5 de novembro de 2015.
Durante a coletiva de imprensa da entidade, criada para a reparação dos danos provocados pelo rompimento da barragem, alguns moradores do antigo Bento protestaram contra a forma de atuação da Renova. A entrevista foi suspensa.
“Estão fazendo cômodo que não cabe uma cama de casal, isso é um absurdo (…) A Renova só tem dinheiro para a Renova. Para o reassentamento, nós estamos abandonados”, afirmou José Nascimento de Jesus, conhecido como Zezinho do Bento, um dos manifestantes.
No novo Bento, 71 casas estão prontas atualmente. A previsão da Renova, criada para a reparação dos danos provocados pelo rompimento da barragem, é de que 121 residências sejam concluídas até o fim deste ano. No total, 196 famílias aguardam o reassentamento.
De acordo com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o prazo inicialmente informado pela Fundação Renova para a entrega das casas era março de 2019. Depois, a partir de decisão judicial, foi fixado o dia 27 de agosto de 2020. Por fim, uma nova determinação da Justiça definiu fevereiro de 2021 para a entrega das casas.
O sentimento entre as famílias, que estão vivendo em casas alugadas, é de frustração. Segundo eles, 47 moradores de Bento Rodrigues já morreram durante o processo.
“Me sinto impotente e frustrado. Afinal, são sete anos de espera, sem que se tenha um vislumbre de uma solução a curto ou médio prazo”, disse o comerciante Mauro Marques da Silva, que está tendo dificuldades para concluir o projeto da nova casa com a Fundação Renova.
A casa da bacharel em direito Mônica dos Santos também não foi construída pela Renova. Segundo ela, o empecilho é a restituição de um fogão a lenha, que a família tinha na antiga casa e perdeu com a tragédia.
“Não tenho esperança de ver minha casa pronta”, afirmou.
De acordo com Mônica, preocupa os moradores o fato de parte das famílias serem reassentadas enquanto as obras continuam.
“A gente ainda está num canteiro de obras, são 3.000 homens trabalhando, o fluxo de veículos, de caminhão pesado e de máquina é muito grande, então como fica a segurança dessas famílias?”, questiona.
No novo Paracatu de Baixo, outro distrito destruído pelos rejeitos de minério da Samarco, nenhuma casa está pronta. Segundo a Fundação Renova, 56 estão em construção, e a expectativa é que, até o fim do ano, pelo menos 47 sejam concluídas.
Outras 179 famílias atingidas pela tragédia optaram pelo reassentamento familiar, em que as pessoas escolhem uma casa ou um terreno em outro local, fora dos reassentamentos coletivos. De acordo com a Renova, 21 desses casos foram concluídos.
Conforme a Renova, em Gesteira, distrito de Barra Longa, na Região Central de Minas, que também foi afetado pelo rompimento da barragem, das 37 famílias atingidas, 31 serão colocadas no reassentamento familiar. Os outros casos estão sendo discutidos na Justiça.
Sem prazo
De acordo com o diretor-presidente da Fundação Renova, André de Freitas, não há data para a conclusão de 100% das casas.
“Nós tivemos um impacto forte da pandemia e da complexidade de todo esse processo, que é um processo desenhado de maneira extremamente participativa”, falou.
De acordo com a Renova, para que as pessoas possam começar a ocupar o novo Bento, o ritmo das obras será reduzido, com controle de horário e de ruídos e reforço na limpeza. Haverá instalação de câmeras e início dos trabalhos da segurança pública, além de apoio para a implantação de comércios.
A Fundação Renova firmou uma parceria com a prefeitura para o início dos serviços municipais, como escola e posto de saúde, que estão com as obras concluídas.
Com g1