Apesar de trotes serem proibidos na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), na Região Central de Minas Gerais, a Polícia Civil está investigando o caso de um estudante que entrou em coma após ser vítima da prática em uma república federal.
A UFOP tem 59 repúblicas federais destinadas a moradias estudantis, mas quem cuida do processo de seleção para acesso a esses espaços não é a instituição, são os próprios estudantes.
Entenda como funciona:
Como é a gestão das repúblicas federais? Os estudantes têm gastos?
As repúblicas federais são geridas pelo sistema de gestão compartilhada. A UFOP realiza a cessão de uso para estudantes matriculados na graduação ou na pós-graduação, e os próprios moradores são responsáveis pela conservação e manutenção dos imóveis. Os alunos não precisam pagar aluguel, mas devem arcar com os demais custos da casa, como internet, energia e alimentação.
Quem é responsável pela seleção de novos moradores das repúblicas?
Os próprios moradores realizam o processo de seleção. Cada república conduz esse processo de forma independente. À UFOP, cabe o cadastro dos moradores e o acompanhamento pedagógico.
As repúblicas devem cumprir alguma regra nos processos de seleção?
Sim. Segundo a UFOP, os processos de seleção devem ter duração máxima de três meses e avaliar “o espírito de solidariedade e senso de comunidade” dos candidatos.
A resolução 1.540 do Conselho Universitário da universidade determina, ainda, que os estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica provenientes de municípios distintos de Ouro Preto e Mariana sejam priorizados no ingresso às repúblicas.
Como são os processos de seleção?
Isso varia entre as repúblicas. Em alguns casos, os estudantes devem cumprir algumas tarefas domésticas, como recolher o lixo, abrir a porta e lavar a louça.
Em outros casos, de acordo com o coordenador-geral do Diretório Central Estudantil (DCE) da UFOP, Pedro Miguel, há “batalhas” pelas vagas envolvendo, por exemplo, consumo excessivo de bebida alcoólica. Segundo ele, ao contrário do que determina o Conselho Universitário, a situação socioeconômica dos alunos não é levada em consideração.
O Conselho também proíbe o trote estudantil e as batalhas nas repúblicas.
Em 2019, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação civil pública para que a UFOP seja obrigada a adotar critério exclusivo de avaliação socioeconômica para o preenchimento de vagas nas repúblicas federais. Segundo o órgão, para conseguir vaga definitiva na república, os calouros passam por humilhações e torturas psicológicas.
O que é considerado trote?
A UFOP considera trote atividades que:
envolvam ou incitem agressões verbais, físicas, psicológicas ou morais;
promovam, causem ou resultem em atos lesivos ao patrimônio público ou privado, ou causem qualquer transtorno ao bom andamento de atividades didáticas e acadêmicas;
envolvam qualquer forma de coação física ou psicológica que implique ridicularizarão ou humilhação de discentes ou, ainda, menosprezo à dignidade da pessoa humana;
obriguem ou coajam qualquer discente à ingestão de álcool e outras drogas ou a fazer uso de outras substâncias que atentem contra sua saúde;
obriguem ou coajam qualquer discente a utilizar vestimentas, acessórios que lhe causem constrangimento;
evidenciem qualquer forma de opressão, preconceito ou discriminação;
estabeleçam e/ou reforcem situações de hierarquia definidas por tempo de residência, tempo de universidade, gênero e sexo, cursos e áreas de formação, dentre outros, imprimindo relações de subordinação e desrespeitando a diversidade;
evidenciem qualquer intolerância política, ideológica ou religiosa;
produzam qualquer ação que obrigue os discentes a praticarem atos que configurem situação vexatória ou outras formas de humilhação e constrangimento.
A UFOP atua de alguma forma para tentar impedir os trotes e as batalhas?
A universidade disse que trabalha na “conscientização dos alunos ingressantes a partir da apresentação das normativas institucionais pelo Programa Bem-vindo Calouro” e que todos os novos moradores de repúblicas são informados sobre a proibição do trote.
Segundo o diretor da Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto (Refop), Lucas de Paulo, as batalhas não existem mais, e os estudantes não precisam competir entre si por uma vaga nas repúblicas.
De acordo com ele, atualmente, o processo de seleção é, na verdade, um período de adaptação, em que os antigos moradores conhecem os novos e os calouros passam a realizar atividades da casa.
Quais as penalidades previstas em caso de trotes?
A resolução do Conselho Universitário prevê que a prática de trote pode “implicará aplicação de penalidades de advertência, suspensão ou desligamento”.
Quantos estudantes vivem nas repúblicas federais de Ouro Preto?
As 59 repúblicas federais da UFOP têm capacidade total para 794 estudantes. Atualmente, segundo a universidade, abrigam 525.
Com g1