Em abril de 2020, no início da pandemia, o gerente de vendas Cassio Amadigi, de 35 anos, resolveu tirar o dinheiro de aplicações e comprar um lote, de 1.100 m², num condomínio localizado no Vale da Serra da Moeda, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “A gente tinha intuito de sair do grande centro e construir uma casa para morar num lugar mais tranquilo, onde pudesse criar um filho”, diz Amadigi. Dois meses depois, houve um boom do mercado imobiliário, e o terreno valorizou cerca de 120%. “Hoje, chega a custar 200% a mais do que paguei na época, algo em torno dos R$ 600 mil”, revela. Segundo um levantamento de agosto da Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano de Minas (Aelo-MG), o número de loteamentos vendidos no segundo trimestre foi 46,7% maior que nos primeiros meses do ano. Dados da Câmara do Mercado Imobiliário e o Sindicato de Habitação – (CMI/Secovi-MG), mostram que o valor médio dos lotes vendidos também aumentou, de R$ 605.234 em 2022 para R$ 620.907 em 2023.
“No primeiro trimestre, foram vendidos mais lotes em condomínio fechado do que em bairros. Eu penso que é um resquício da pandemia, uma tendência do consumidor em buscar por mais qualidade de vida, segurança e estar próximo à natureza”, explica Flávio Guerra, presidente da Aelo-MG. Segundo o também diretor de loteamentos do CMI/Secovi, o preço médio de um lote aberto é de R$ 150 mil e os terrenos dentro de condomínios chegam a R$ 300 mil.
Além dessa busca por qualidade de vida, o que chamou a atenção de Cassio para adquirir seu lote no Boavista Residencial foi justamente a proposta totalmente sustentável: há placas de energia solar, rede elétrica subterrânea, autonomia de água com poços artesianos, quadras diversas para esporte, hortas comunitárias, bosque preservado e até galinheiro caipira.
Nicácio Diegues Júnior, de 46 anos, operador do mercado imobiliário, investiu R$ 350 mil num terreno de 1.000 m² na mesma região, em 2021, e o vendeu na última semana por R$ 580 mil, um aumento de quase 40%. “Foi um excelente negócio pela infraestrutura que entregaram e a qualidade das casas que estão sendo construídas. Só coisa grandiosa. Mas já comprei gato por lebre muitas vezes: empresa quebrou ou obras não finalizaram… Tem que conferir a topografia, a localização dentro do empreendimento”, observa.
Segundo ele, o mercado de alto luxo está tendo uma demanda grande, mas os empreendimentos de classe média estão parados. “Acredito que é pela falta de crédito. O cliente de alto luxo não depende de banco para fazer a movimentação, já os outros dependem de financiamento”, detalha Júnior.
Flávio Guerra, da Aelo, conta que novos empreendimentos serão lançados no segundo semestre na região metropolitana e no Sul de Minas e a expectativa é de melhores vendas. “O potencial de valorização do lote é muito grande. Você compra antes da obra iniciar e quase dobra o valor. É um ativo seguro. Às vezes têm investidores que não querem Bolsa e o lote é uma excelente alternativa. É difícil no segmento do mercado imobiliário uma valorização tão grande quanto ele tem”, observa.
Apesar da expectativa positiva, Guerra avisa que pode ser que falte lote no mercado. Não existem projetos aprovados para lançar por agora e Guerra diz que a morosidade neste processo, por parte do poder público, é um dos culpados. “Em média, são três a quatro anos para aprovar um projeto. Isso dificulta a cadência de lançamentos das loteadoras”, explica. Outro motivo é uma certa desaceleração de investimento das próprias empresas devido às incertezas comuns a todo início de um novo governo.
Valor médio dos lotes vendidos em Minas:
2019 – R$ 583.300
2020 – R$ 534.245
2021 – R$ 712.309
2022- R$ 605.234
2023 – R$ 620.907
Com O Tempo