Com diversas causas que englobam fatores genéticos, comportamentais e ambientais, é imperativo enfrentar com urgência e prioridade o desafio da saúde pública, de acordo com especialistas. Nos últimos 50 anos, as taxas de obesidade quase triplicaram, afetando indivíduos de todas as faixas etárias e estratos sociais. A situação é ainda mais alarmante entre crianças e adolescentes, com um aumento de quase 500% nesse período, conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). A obesidade possui causas diversas, incluindo fatores genéticos, estilo de vida e o ambiente em que se vive.
Os dados alarmantes mencionados foram objeto de discussão na tarde de segunda-feira, 2 de outubro de 2023, durante o evento intitulado “Ciclo de Debates – Obesidade é doença: o desafio é de todos”, promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A programação do evento continuará no dia seguinte, terça-feira, 3 de outubro de 2023, no Auditório José Alencar, com a participação de especialistas de diversas áreas que discutirão os desafios associados à obesidade.
Autor do requerimento para a realização do ciclo de debates, o deputado Coronel Sandro (PL) coordenou os trabalhos. Segundo o parlamentar, os diagnósticos e propostas apresentados durante o debate poderão subsidiar o poder público, incluindo estado e municípios a fazer leis e políticas públicas de enfrentamento à obesidade.
“Há uma negligência geral com relação a obesidade, do poder público, dos meios de comunicação, da sociedade como um todo. Precisamos aceitar que é uma doença grave com consequências sérias. É preciso enfrentá-la de frente, com coragem, por isso o ciclo de debates. Vamos criar um comitê de representação para dar continuidade aos trabalhos, com a elaboração de medidas efetivas a serem implementadas por todos os segmentos da sociedade.”
A palestra de abertura, intitulada “Obesidade como doença: um problema de saúde pública”, foi conduzida por Kelly Poliany de Souza Alves, do Ministério da Saúde, e Helen Hermana Miranda Hermsdorff, da UFV. Helen Hermsdorff, que também lidera programas de enfrentamento da obesidade em Minas Gerais, destacou que a obesidade tem aumentado na população mineira ao longo dos anos, inclusive em regiões menos desenvolvidas economicamente, como o Vale do Jequitinhonha e o Nordeste do Estado, onde a taxa de obesidade entre adultos cresceu de 10% em 2008 para 25% em 2021. Isso evidencia que o problema não está restrito a áreas economicamente mais prósperas.
“É uma situação bastante preocupante. A análise do consumo alimentar pode nos dar uma explicação. Para se ter uma ideia, descobrimos que entre crianças até 9 anos, 88% delas já consomem alimentos ultraprocessados, com muito açúcar gordura e corante. É o caso dos salgadinhos, refrigerantes, biscoitos recheados. São alimentos não saudáveis reconhecidos como fator de risco para obesidade”, aponta Helen Hermsdorff. Dados do IBGE apontam que no País a obesidade já atinge cerca de 6,7% das crianças e adolescentes.
Mas, de acordo com a especialista, é preciso também enfrentar o estigma da obesidade. “Biologicamente a gente entende que a obesidade vem de um consumo excessivo de calorias frente a um gasto de energia insuficiente. Isso leva a gente a pensar que a pessoa com esse excesso de gordura é a única responsável por esse balanço energético positivo, o que nem sempre é verdade”, aponta.
“Existem vários fatores que podem levar a essa ingestão maior de calorias. Será que essa pessoa tem condições de acesso a alimentos saudáveis? Será que ela tem segurança pública suficiente e espaços disponíveis para fazer uma caminhada, para se exercitar? A obesidade é uma doença complexa, de causa multifatorial, e por isso é preciso também políticas públicas abrangentes para enfrentá-la.” Helen Hermsdorff – Nutricionista
“Antes de tudo é preciso orientar as pessoas que enfrentam a obesidade a buscar um atendimento médico. Isso já é complicado com todo o estigma que cerca o problema. E também precisamos de políticas públicas para, por exemplo, incentivar a prática regular de atividade física, promover uma alimentação mais saudável e garantir acesso ao tratamento mais adequado, inclusive com medicamentos. É um problema de saúde que precisa ser enfrentado como um problema de saúde”, explicou, ainda, a médica Flávia Coimbra Pontes Maia.
Um evento que reúne autoridades e especialistas para discussão abrangente sobre os desafios relacionados à obesidade, com o objetivo de aprimorar e desenvolver políticas públicas efetivas.
- As inscrições online estão encerradas
- Nos dias do evento, será permitida a inscrição de forma presencial na Assembleia
- O número de vagas está condicionado à capacidade do local de realização do evento
Ambientes também pode ser obesogênicos
No ciclo de debates, houve um painel na segunda-feira (2) com duas apresentações. A primeira tratou da promoção da saúde e prevenção da obesidade no ambiente escolar, apresentada pela professora Larissa Loures Mendes, da UFMG. A segunda abordou ambientes obesogênicos no trabalho e na comunidade, com a professora Mariana Carvalho de Menezes, da Ufop e UFMG, destacando a influência desses ambientes na alimentação e na obesidade em adultos.
“O que se percebe muitas vezes é um estigma culpabilizador, como se faltasse ao indivíduo ter mais força de vontade para ter uma vida mais saudável, o que não é verdade. Vivemos num ambiente que leva ao ganho de peso.” Mariana Carvalho de Menezes – Professora da UFMG
Dia Nacional de Prevenção da Obesidade
O Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, comemorado anualmente em 11 de outubro, foi estabelecido pela Lei Federal 11.721, de 2008. Sua finalidade é sensibilizar a população para a importância da prevenção da obesidade, promovendo uma abordagem livre de estigmas e baseada em informações respaldadas pela ciência.
Como parte das atividades em homenagem a essa data, o Palácio da Inconfidência, sede da ALMG, será iluminado de maneira especial nas cores laranja e azul, de 2 a 11 de outubro, a partir das 18 horas.
Da Redação com Assembléia Lesgilativa de Minas Gerais