O preço do etanol em Minas Gerais registrou seu nível mais competitivo do ano no início de outubro, com uma relação de 63,27% em comparação com a gasolina, conforme o levantamento mais recente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), divulgado na segunda-feira, 9 de outubro. O setor produtivo espera que o etanol continue sendo uma opção vantajosa para os motoristas, pelo menos até o período de entressafra da cana-de-açúcar, em novembro. Geralmente, o etanol é considerado a melhor escolha quando seu preço está abaixo de 70% do valor da gasolina.
Atualmente, a diferença média de preço entre esses dois combustíveis é superior a R$ 2: o etanol é vendido a R$ 3,55, enquanto a gasolina está a R$ 5,61, de acordo com a ANP. A relação entre oferta e demanda é a principal razão por trás da competitividade do etanol nesse momento, conforme explicado pelo presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos.
Do lado da oferta, a fabricação de etanol no Estado alcançou 2,5 bilhões de litros na safra atual até agora, alta de 6% em comparação à safra anterior, segundo os dados da Siamig. A moagem da cana, matéria-prima do combustível, aumentou 11,1%, e a perspectiva do setor é que os bons resultados permaneçam durante o restante da safra.
“Existe uma correlação praticamente perfeita entre o preço da gasolina e do álcool, mas nos últimos meses a gente viu esse descolamento. De julho para cá, o etanol começou a ser mais vantajoso com o aumento da produção”, confirma Eric Gil Dantas, economista do Observatório Social do Petróleo.
Nas últimas semanas, a produção de etanol no Brasil aumentou significativamente. Durante o acumulado desta safra, houve um processamento de cana-de-açúcar 14% maior do que no ano anterior. E, considerando os dados da última quinzena de setembro, a produção do setor foi 77% superior à do mesmo período no ano anterior. Esse aumento na oferta de etanol resultou em uma queda nos preços. O mês passado registrou o maior nível de consumo de etanol do ano, tornando o combustível mais atraente para os consumidores devido à sua maior competitividade de preço.
Além disso, a demanda por etanol tem crescido gradualmente. Em setembro deste ano, as vendas de etanol hidratado aumentaram 18,45%, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica). Isso indica que os consumidores estão redescobrindo as vantagens do etanol, especialmente após a série de flutuações tributárias que afetaram os preços dos combustíveis desde 2021.
O presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) observa que desde o final desse ano, houve várias mudanças tributárias nos combustíveis em geral, com reduções e recomposições de impostos. Agora, com a estabilização dessas mudanças desde junho e julho deste ano, a vantagem do etanol sobre a gasolina está mais clara, pois há menos volatilidade nos preços nos postos.
Nos primeiros seis meses deste ano, a gasolina não foi impactada pelos impostos federais PIS e Cofins. A reintrodução dessas cobranças ocorreu em 29 de junho. Essa decisão de suspender os tributos foi tomada no ano anterior pelo então presidente Jair Bolsonaro, antes do período eleitoral, quando o preço da gasolina aumentou consideravelmente devido ao aumento do petróleo nos mercados internacionais, influenciado pelo conflito entre Rússia e Ucrânia. Embora os impostos devessem ser restabelecidos no início de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou por prorrogar a isenção até o meio do ano.
Devido a essa isenção tributária, o etanol enfrentou desafios significativos em 2023, uma vez que a gasolina permaneceu isenta de tributação durante grande parte do ano. Como resultado, as vendas de etanol de janeiro a agosto deste ano caíram 7,5% em comparação com o mesmo período de 2022, conforme confirmado por Murilo Genari Barco, diretor comercial da Valêncio Consultoria Combustíveis.
O especialista ressalta que a safra da cana-de-açúcar vai até novembro, e durante o período de entressafra, que se estende até abril, é esperado um aumento nos preços do etanol.
“No período de entressafra, a tendência é que o preço do etanol suba, porque não temos produção no principal pólo do país, que é o Centro-Sul, e aí começa a safra no Nordeste. Mas a safra nesta região é muito pequena em relação a de São Paulo, Minas, Goiás e Paraná. A tendência é que o preço suba nesse período para conter realmente a questão de vendas por conta do estoque”.
Ao mesmo tempo, o mercado do etanol tem se preocupado menos com a possibilidade de uma intervenção muito forte do governo federal sobre o preço da gasolina. “Mesmo após anunciar mudanças em sua política de preços, a Petrobras aumentou o preço do combustível fóssil em 16% em agosto em resposta aos preços internacionais. Não digo que a regra adotada é a ideal, mas também não é radical”, afirma Mário Campos, da Siamig.
Possível impacto da guerra em Israel
Uma variável recente a ser considerada é o conflito em Israel. Na semana passada, o preço do petróleo estava em declínio, mas aumentou com o início desse conflito. A duração e a possível expansão do conflito para outros países do Oriente Médio, uma das principais regiões produtoras de petróleo do mundo, podem ter um impacto significativo nos preços do barril. Isso, por sua vez, poderia levar a um aumento no preço da gasolina, dependendo da resposta da Petrobras.
Anteriormente, havia discussões sobre a possibilidade de uma redução nos preços da gasolina nas próximas semanas, mas essa percepção agora parece ter sido adiada, como observa Campos.
Da Redação com O Tempo