Um cabo da Polícia Militar é acusado de ameaçar a proprietária de um templo religioso. Segundo o boletim de ocorrência, o homem teria invadido um culto e mantido sob a mira de um revólver a proprietária do espaço, uma militar da aeronáutica.
O caso ocorreu no sábado (28) em Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, em uma residência, que realiza, uma vez por mês, encontros espiritualistas, com a ingestão do chá Ayahuasca — também conhecido como Santo Daime, a bebida é produzida pela junção de plantas com propriedades psicoativas.
Conforme a responsável pelo encontro, que preferiu o anonimato por medo de represálias, a ameaça teria sido registrada em vídeo por um dos frequentadores do local. Ao perceber que estaria sendo filmado, o PM teria agredido o dono do aparelho celular e apagado o vídeo.
Conforme a ocorrência, o homem teria ficado agressivo após receber a ligação da namorada que havia participado do encontro espiritual, teria feito a ingestão da bebida e, na sequência, estaria passando mal. E por isso, teria pedido para ele ir buscá-la. Ao telefone, o militar teria feito ameaças aos responsáveis pelo encontro acusando-os de terem drogado a namorada dele.
Na sequência, a moça também teria entrado em contato por telefone com os pais que teriam assinado um termo de responsabilidade e teriam retirado a mulher, de 30 anos, do espaço antes mesmo do encontro terminar.
A invasão teria ocorrido horas após a mulher ter sido retirada pelos pais do espaço. O namorado teria invadido o ambiente, interrompido o encontro espiritual armado e apontado o revólver para a responsável pelo encontro e para os frequentadores do local.
O militar teria acusado a responsável pelo culto de ter drogado a namorada. O militar teria se negado em acreditar que a namorada dele estaria ciente dos efeitos colaterais da bebida e que havia assinado um termo de responsabilidade para participar da reunião.
No entanto, após a informação, o policial teria entrado em um dos quartos da residência e rasgado diversos documentos e papéis que tinham relação com o encontro. O arquivo com a assinatura da namorada dele teria sido levado pelo suspeito.
Enquanto o homem rasgava os documentos, a responsável pela reunião teria conseguido se desvincilhar da mira da arma e teria acionado a polícia, que compareceu ao local. Foi feito um boletim de ocorrência. O militar não foi detido e nem teve a arma apreendida.
O que teria sido omitido do Boletim de Ocorrência
Em anonimato, a responsável pelo culto disse que a ocorrência feita teria favorecido o suspeito. Ao perceber a chegada da viatura, o militar teria demonstrado que conhecia todos os policiais, já que ambos trabalhavam no mesmo batalhão. Ao narrar o caso, a responsável pelo encontro teria declarado ter sido vítima de intolerância religiosa, ameaça e cárcere privado, já que o militar não teria deixado mulher sair do imóvel. No entanto, a ocorrência teria sido registrada somente como ameaça.
“Um fato que não teria sido descrito no documento seria que o militar contava com o auxílio de um ‘comparsa’, um homem, que teria ficado na porta do templo enquanto o suspeito me ameaçava com uma arma. Na chegada da viatura esse ‘comparsa’ teria recepcionado os militares que atenderam a ocorrência e teria ficado conversando e rindo com eles na porta do templo por um longo período. Só após o ‘bate-papo’ os policiais teriam entrado no espaço para atender o chamado”, lembrou a responsável pelo culto.
A mulher também lembrou que na própria ocorrência o militar denomina o encontro com diversos termos que menospreza o que os encontros pregam. “Ele usou termos baixos, disse que fazíamos bruxaria e que teríamos amaldiçoado ele. Até na descrição da ocorrência ele praticou intolerância religiosa”, destacou.
A Polícia Militar foi procurada para comentar sobre o caso, mas, até o momento, a corporação não se pronunciou.
Com O Tempo