O queijo, um importante produto econômico e cultural em Minas Gerais e no Brasil, tem na ciência um aliado significativo. As pesquisas e estudos para identificar as características das regiões produtoras dos diversos tipos de queijos artesanais em Minas Gerais contribuem para valorizar o produto e aprimorar a renda dos produtores. Esse é o caso da família Modesto, que há várias gerações está envolvida na produção do queijo Paiol Velho, na região de Juiz de Fora, localizada na Zona da Mata mineira.
Juiz de Fora está localizada na Região das Serras da Ibitipoca, reconhecida pelo Governo de Minas como produtora de Queijo Minas Artesanal em 2020. “Essa caracterização foi fundamental para os produtores locais. Sem esse processo, seríamos apenas mais um produto sem identidade. Hoje, fazemos parte de um grupo”, reconhece o produtor Luiz Eugênio Modesto.
O nome do queijo, Paiol Velho, foi inspirado no antigo local onde a família costumava se reunir, no sítio dos avós, fortalecendo laços e a esperança de viver da atividade”, conta Luiz Eugênio. Esse sonho se tornou realidade. O negócio vem se modernizando, novos produtos foram introduzidos, e os rótulos têm conquistado prêmios.
“Antes da caracterização, muitas pessoas não conheciam nosso queijo. Após isso, muitos consumidores e especialistas em queijos passaram a nos procurar, interessados em incluir o produto da região em suas lojas, o que aumentou significativamente a procura. O valor do queijo mais que dobrou desde a caracterização”, observa o médico veterinário André Luiz Souza Modesto, representante da terceira geração da família que acredita e investe na produção familiar de queijo artesanal.
Caracterização
Mais de 30 mil famílias estão empenhadas na produção dos diversos tipos de queijos artesanais em Minas. Diferentes regiões produtoras imprimem nos queijos sabores e aromas particulares, que caracterizam e diferenciam sua origem, seja pelos modos de preparo ou pela microbiota.
O processo de caracterização começa com um estudo feito pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), órgão vinculado à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), que resgata e identifica os aspectos históricos de produção, volume e famílias que se dedicam à atividade, além das características de clima, solo e paisagem da região.
Com a conclusão favorável do estudo, indicando que a região é produtora tradicional de queijo artesanal, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), também vinculado à Seapa, faz a publicação dos atos normativos específicos, com o reconhecimento da região produtora.
Pesquisas
Além do trabalho de caracterização, o Governo de Minas investe em pesquisas relacionadas aos queijos artesanais. Nos últimos cinco anos, a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) aplicou mais de R$ 18,3 milhões em estudos realizados nas universidades e centros de pesquisa, abordando aspectos diversos, como a promoção da sustentabilidade e a melhoria da qualidade em toda a cadeia produtiva.
“As pesquisas financiadas pela Fapemig ajudam tanto a caracterizar melhor as regiões já reconhecidas como a identificar novos tipos de queijo artesanal e novas regiões. Isso agrega muito valor e pode tornar esse queijo um produto de exportação, com alto valor agregado”, comenta o presidente Paulo Beirão.
Cândido Tostes
O Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT) em Juiz de Fora, uma unidade da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) focada em estudos relacionados ao leite e seus derivados, está conduzindo diversos projetos de desenvolvimento de queijos artesanais com o apoio financeiro da Fapemig.
De acordo com Junio de Paula, pesquisador da Epamig/ILCT, esse respaldo é crucial. “Somente por meio da pesquisa poderemos aumentar a segurança, reduzir falhas e valorizar esses produtos. Apenas com o apoio da Fapemig conseguimos alcançar os produtores e as regiões onde esses queijos são fabricados”, afirma.
Na Região das Serras da Ibitipoca, reconhecida há dois anos como produtora de Queijo Minas Artesanal, a Epamig/ILCT está conduzindo estudos específicos sobre o queijo dessa região. A família Modesto destaca a importância dessas pesquisas para aprimorar a qualidade da produção. “Participamos de um projeto da Epamig/ILCT no qual acompanhamos a produção do queijo durante as estações de águas e secas. Análises do leite, do ‘pingo’ (fermento natural) e da água foram realizadas. Possuímos todos esses parâmetros que contribuem para melhorar a qualidade do nosso queijo”, explica a produtora Andrea Modesto.
Segundo o pesquisador da Epamig, os investimentos em pesquisa têm gerado retornos significativos. “Essas famílias estão obtendo maior valorização e rendimento de seus produtos à medida que a qualidade e a projeção desses queijos aumentam. Uma região, suas características, um produto, uma tendência e uma cultura estão sendo valorizados”, afirma Junio.
Regiões Caracterizadas
Em Minas Gerais, o modo de fazer o Queijo Minas Artesanal é registrado como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Atualmente, o estado possui dez regiões caracterizadas como produtoras deste tipo de queijo: Araxá, Campo das Vertentes, Canastra, Cerrado, Diamantina, Entre Serras da Piedade ao Caraça, Serra do Salitre, Serras da Ibitipoca, Serro e Triângulo Mineiro.
Além delas, Minas também conta com cinco regiões caracterizadas como produtoras de outros tipos de queijos artesanais: Vale do Suaçuí, Serra Geral, Alagoa, Mantiqueira e Jequitinhonha.
Da Redação com Agência Minas