Os resultados do Censo 2022 revelaram que Minas Gerais abriga 10.524.280 mulheres, representando 51,24% da população do Estado. Apesar de serem a maioria, o número de mulheres ocupando o cargo de prefeitas nos municípios mineiros é significativamente reduzido.
De acordo com informações da Justiça Eleitoral, entre as 853 cidades de Minas Gerais, apenas 64 elegeram mulheres para o cargo de prefeita em 2020, o que corresponde a 7,5% do total de líderes dos Executivos municipais. Essas vitoriosas fazem parte de um grupo de 241 cidades onde houve candidaturas femininas para a posição.
Essa situação se assemelha à eleição anterior: em 2016, também com base nos dados da Justiça Eleitoral, foram eleitas 63 prefeitas em um universo de 200 cidades com candidaturas femininas, o que representa 7,5% e 33%, respectivamente, em relação ao total de municípios mineiros.
Embora as mulheres sejam maioria na população do Estado, elas não estão proporcionalmente representadas em espaços institucionais de poder, não só nas prefeituras – incluindo a capital Belo Horizonte, que sempre foi comandada por homens –, mas também nas câmaras municipais, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e no Congresso Nacional. O Estado também nunca foi governado por uma mulher.
Para a atual legislatura da Câmara dos Deputados, foram eleitos por Minas 44 homens e nove mulheres, proporção de 83% e 17%; na ALMG, foram 62 homens e 15 mulheres, proporção de 80,5% e 19,5%. Já na Câmara Municipal de Belo Horizonte, para a legislatura 2021/2024, foram eleitos 33 homens e oito mulheres, proporção de 80,5% e 19,5%.
Panorama
Dos 5.568 municípios brasileiros, durante as eleições municipais de 2020, 3.515 não apresentaram candidaturas femininas para o cargo de prefeito. Em contrapartida, nas 2.053 cidades em que houve candidatas para o Executivo municipal, apenas 663 foram eleitas prefeitas.
Na eleição precedente, em 2016, houve 3.740 municípios sem candidaturas femininas para a administração municipal. Entre as 1.828 cidades que tiveram candidatas mulheres, apenas 636 se tornaram gestoras.
Quando se analisa a corrida por vagas nas câmaras municipais, todos os municípios brasileiros apresentaram candidatas tanto em 2016 quanto em 2020. Há sete anos, 1.300 cidades não elegeram nenhuma vereadora. Já no pleito de 2020, 944 municípios elegeram exclusivamente homens para o legislativo municipal.
Em Minas Gerais, em 2016, apesar de todas as cidades apresentarem candidatas femininas para o Legislativo, 279 delas não elegeram mulheres para suas câmaras municipais. Na eleição subsequente, o número de cidades sem vereadoras eleitas diminuiu para 189. No total, foram 76.106 candidaturas para os legislativos municipais mineiros em 2020, sendo que 26.312 delas foram de mulheres, resultando em 1.183 eleitas. No pleito anterior, foram 73.742 candidaturas totais, com 24.457 mulheres concorrendo aos cargos e 920 sendo eleitas.
Cota
A legislação prevê a cota de 30% de candidaturas femininas nas chapas que concorrem aos legislativos. A regra passou a ser obrigatória a partir de 2009.
‘A política não é reconhecida como um lugar de mulher’
Para a pesquisadora Ana Paula Salej, do Grupo de Pesquisa Estado, Gênero e Diversidade da Fundação João Pinheiro (FJP), as estatísticas evidenciam um cenário de sub-representação relacionado a uma série de valores arraigados na sociedade e que colocam as mulheres afastadas dos locais de poder. Nessa perspectiva, segundo ela, o espaço adequado para a mulher seria o espaço privado.
“À medida que a mulher sai de casa e vai para o mercado de trabalho, a gente observa que ela chega nesses lugares em desvantagem e observa uma divisão sexual do trabalho. Nem sempre as mulheres são consideradas aptas para algumas atividades. Quando falamos, por exemplo, em mecânica, você não pensa em uma mulher, você pensa na mulher como enfermeira, e essa divisão sexual do trabalho também se reflete na política”, explica a especialista.
“A política não é reconhecida como um lugar de mulher, é um espaço de poder ao qual a mulher não teve acesso durante muito tempo. Garantir a presença das mulheres na política, nesses espaços, é uma luta que tem vários anos; e um elemento muito evidente que materializa essa ausência é o fato de que muitas câmaras e assembleias não tinham nem mesmo banheiros femininos, porque ali não era o lugar delas”, acrescentou Ana Paula Salej.
Da Redação com O Tempo