O ditador Nicolás Maduro, sob pressão tanto interna quanto externa desde que foi declarado reeleito em uma eleição contestada no final de julho, apresentou um novo inimigo do chavismo na noite de segunda-feira (5).
“Vou romper relações com o WhatsApp”, declarou Maduro para centenas de apoiadores que o ouviam sob a chuva em frente ao Palácio Miraflores, sede do governo. “Estão usando o WhatsApp para ameaçar a Venezuela. Então eu vou eliminá-lo do meu telefone para sempre.”
Maduro anunciou que migrará seus contatos para os aplicativos Telegram e WeChat, com sedes nos Emirados Árabes Unidos e na China, respectivamente, e incentivou seus seguidores a fazerem o mesmo.
“Diga não ao WhatsApp! Fora da Venezuela!”, continuou o ditador, justificando seu pedido com base em supostas ameaças feitas a líderes populares por meio do aplicativo, por criminosos localizados em Miami, Peru, Colômbia e Chile.
Maduro frequentemente associa qualquer crítica ao seu regime a interesses estrangeiros e, após o anúncio de sua reeleição, enfrenta questionamentos até de líderes de esquerda da região, como o presidente chileno Gabriel Boric.
“É hora de definições. Ou você está com a violência ou com a paz; ou você está com os fascistas ou com a pátria; ou você está com o imperialismo ou com a Venezuela. (…) Vamos começar pelo WhatsApp. Estão ameaçando a família militar, os líderes da comunidade. Estão ameaçando todos que não apoiam o fascismo”, afirmou.
No mesmo dia, Maduro criticou novamente o WhatsApp em seu programa semanal “ConMaduro+”, que durou três horas e focou em questões relacionadas à internet. Em um momento, lia-se na tela: “Crônica de um golpe ciberfascista.”
“WhatsApp entregou a lista [de usuários] da Venezuela aos terroristas”, alegou Maduro, sem apresentar provas. “Estão atacando o governo, a família militar da Venezuela e a Polícia Nacional Bolivariana. Estão atacando a institucionalidade do país. Todos os cinco Poderes estão sob ataque do WhatsApp.”
Em seguida, pediu que uma câmera filmasse a tela de seu celular, onde apareciam ícones do Facebook, TikTok, X, Instagram e Threads, e desinstalou o aplicativo de mensagens ao vivo. “Você se foi, WhatsApp. Se te vi, não me lembro. Sou livre do WhatsApp. Estou em paz”, declarou, sendo aplaudido pela plateia.
Nos últimos dias, Maduro intensificou suas críticas às plataformas digitais, levantando temores sobre mais restrições à internet na Venezuela.
Na semana passada, Maduro acusou Elon Musk, dono da rede social X, de estar por trás de um suposto ataque hacker que teria atrasado a divulgação dos resultados detalhados das eleições presidenciais, causando uma troca de farpas entre os dois.
Segundo o regime, esse suposto ataque cibernético contra o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) é a razão pela qual as atas das urnas eletrônicas ainda não foram divulgadas. Diversos países, incluindo Brasil, Colômbia e Estados Unidos, pedem que a Venezuela disponibilize esses documentos para que a vitória de Maduro nas eleições possa ser verificada.
“Você quer briga? Vamos nessa, Elon Musk. Estou pronto. Sou filho de Bolívar e de [Hugo] Chávez. Não tenho medo de você. É só dizer onde”, desafiou Maduro. O bilionário, que havia declarado apoio à oposição e feito várias publicações sobre a Venezuela na rede social, respondeu em uma postagem que aceita o desafio e que o ditador “vai amarelar”.
com Folha de S. Paulo