Alice Ramos, de 62 anos, residente em Israel há três décadas, enfrenta momentos de angústia e apreensão enquanto seu país é assolado pelo maior ataque já sofrido por Israel, bem como a maior contraofensiva declarada pelo país, no conflito recente. Sua voz treme com emoção ao relatar a experiência de ter seu filho caçula, o jovem Raphael Ramos, de 26 anos, entre os 360 mil reservistas convocados para essa batalha devastadora que já ceifou a vida de mais de 2.700 pessoas.
Desde a última quarta-feira (11), Raphael está destacado em Kfar Aza, uma região próxima da fronteira com a Faixa de Gaza, onde o conflito teve início no sábado (7), com um ataque-surpresa promovido pelo grupo extremista Hamas. Alice, enquanto falava com nossa reportagem por telefone, teve que lidar com o constante som das sirenes ao longe, que alertavam sobre o lançamento de foguetes, amplificando ainda mais a sua preocupação.
Alice, natural de Belo Horizonte, testemunhou três guerras durante suas três décadas em Israel, mas esta se destaca como a mais desafiadora. Não apenas por causa da magnitude do ataque a Israel, mas também porque seu filho está diretamente envolvido. Raphael, que possui cidadania dupla e vive em Israel desde os 2 anos de idade, já havia cumprido seu serviço militar obrigatório há três anos e, até recentemente, trabalhava em bares em Tel Aviv, onde compartilhava a moradia com a mãe e o padrasto israelense.
“É uma regra, eles (israelenses) não costumam ‘fugir’ da convocação para o serviço militar”, explica o irmão de Raphael, Flávio Ramos Soares do Amaral, 40 anos, que reside em Belo Horizonte, juntamente com os avós e tios da família. “Eles têm que ir, e ele foi com confiança. No entanto, minha preocupação é que ele possa ser forçado a entrar em Gaza por via terrestre.”
Alice está repleta de apreensão e esperança, expressando: “Ele partiu sorrindo e, espero, retornará sorrindo.”
Raphael, nascido em Belo Horizonte e criado em Israel, tem enfrentado o conflito, juntamente com inúmeras outras famílias israelenses, que estão apreensivas com o maior ataque já vivenciado em sua nação, mas mantêm a fé de que tudo se resolverá.
“Ele vai, mas voltará, meu filho. Peço apenas orações para que Raphael regresse da mesma forma que partiu. Peço a Deus que proteja a todos e conforte os corações das mães e famílias que estão sofrendo. E que a paz venha logo”, conclui a mãe.
Apesar do cenário de tensão e incerteza, a família de Alice Ramos não tem planos de deixar Israel, pois, além de lidar com a convocação de seu filho para a guerra, Alice tem dedicado seus últimos dias em Tel Aviv a prestar apoio a outros brasileiros que buscam deixar o país. Ela descreveu momentos de pânico quando a sirene soou, obrigando todos a correrem em busca de refúgio.
Mesmo com a tensão, Alice destaca que Tel Aviv permanece relativamente tranquila em comparação com áreas mais próximas da Faixa de Gaza. Ela compartilha a confiança de que o exército israelense, com seu forte sistema de defesa aérea, tem conseguido neutralizar a maioria dos ataques, minimizando o impacto direto sobre a população civil.
Quando a sirene soa, ela e outros moradores se refugiam na entrada de suas casas, que, por estar situada sob uma escada, serve como um bunker improvisado. Alice mora perto da praia, que atualmente está deserta, e relata que as ruas e a movimentada feira local estão vazias devido à atual situação de guerra.
Da redação com O Tempo