Em média, 633 crianças e adolescentes são vítimas de crimes contra a dignidade sexual por mês em Minas Gerais. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) publicados por O Tempo, entre janeiro e setembro deste ano, foram registradas 5.699 vítimas com idades entre 0 e 17 anos. Esse número representa uma redução de 3% em relação ao mesmo período de 2023, quando foram contabilizados 5.875 casos. Especialistas alertam, no entanto, que a realidade pode ser ainda mais alarmante, já que muitos casos não chegam ao conhecimento das autoridades.
Com o objetivo de intensificar o combate a suspeitos de abusar de crianças e adolescentes, a operação Hagnos foi deflagrada em todo o Brasil nesta quarta-feira (6 de novembro) e continuará ao longo de todo o mês. Durante a operação, foi preso um dos parentes do “Maníaco de Contagem”, suspeito de cometer violência física, psicológica e moral contra sua própria filha. A prisão ocorreu na região Oeste de Belo Horizonte, onde o acusado era membro de uma facção criminosa envolvida com tráfico de drogas.
Os crimes contra a dignidade sexual estão previstos na Lei nº 12.015/2009 e incluem estupro, violação sexual mediante fraude, assédio sexual, exploração sexual e tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. Segundo o especialista em segurança pública Jorge Tassi, a perversidade é um dos principais fatores que motivam a prática desses crimes. “Este comportamento está presente em psicopatas e está voltado justamente ao cometimento de tais crimes”.
Jorge Tassi alerta para o grande número de casos onde há proximidade do criminoso com a vítima: “É um pai, avô, tio e até um funcionário da escola. Ou seja, uma pessoa que deveria zelar pela integridade da vítima”, exemplifica. Para combater o crime, Tassi cita como exemplo a necessidade de se falar sobre sexo com crianças e adolescentes.
“Sabemos que é difícil falar sobre isso, mas o diálogo é preciso. Tem que se levar o assunto para a mesa de debate. Conversar que ninguém tem a permissão para tocar no corpo dela por nenhum motivo que seja, pois o corpo não é algo livre. É preciso mostrar que existe a vulnerabilidade”, afirma.
Tassi destaca que o estupro, por exemplo, é “fruto de processos”. “Primeiro passa a ter intimidade e depois toca. Se a vítima já tiver sido preparada para o enfrentamento, você estará instrumentalizando-a para buscar ajuda: seja com choro, seja com grito”.
Como muitos casos não são notificados, isso também prejudica as autoridades a perceberem o estado real da situação no estado. “Em muitos dos casos a criança se cala. Ela deixa de contar e, consequentemente, de pedir ajuda pois tem vergonha e, como já dito, em alguns dos casos o agressor é aquele ao qual ela está submetida ao cuidado”.
Tassi alerta para as consequências imensuráveis na vida das vítimas. Além da dor física, o abalo na saúde mental provavelmente seja o mais grave. Assim, o especialista aponta a assistência médica sempre é necessária. As penas para os crimes contra a dignidade sexual podem chegar a 30 anos.
Da Redação com O Tempo