O meio político em Minas Gerais amanheceu nesta sexta-feira (9) estremecido com mais um desdobramento da Operação Lava Jato. O vice-governador do Estado mineiro, Antônio Andrade (MDB), deputados e o empresário Joesley Batista foram presos apontados pela Polícia Federal como suspeitos de envolvimento em um esquema de pagamento de propina, cuja uma das maiores redes mineiras de supermercados, o Supermercados BH, participava.
A Operação Capitu – como foi batizado esse desdobramento da Lava Jato – foi deflagrada hoje em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba e Mato Grosso. No total, são 62 mandados de busca e apreensão, dos quais 26 apenas na capital mineira. Além do vice-governador e ex-presidente do MDB mineiro, Antônio Andrade, o deputado estadual em Minas João Magalhães, também emedebista, foi preso.
O BHAZ participou da coletiva de imprensa que detalhou o esquema investigado. O delegado responsável pela investigação, Mário Veloso, afirmou que o vice-governador mineiro recebeu cerca de R$ 15 milhões da gigante do ramo de alimentos JBS para repassar a deputados mineiros com o objetivo de eleger o ex-deputado federal Eduardo Cunha (MDB-RJ) à Presidência da Câmara dos Deputados. A quantia, segundo o delegado, era depositada pela indústria de alimentos na conta de seis escritórios de advocacia mineiros.
Os escritórios, por sua vez, “emitiam notas frias para justificar prestação de serviço que não existiu e assim tentavam obstruir a Justiça criando falsas provas”, contou o delegado. O dinheiro, então, era repassado a redes de supermercados, entre as quais, Supermercados BH, e, finalmente, chegava aos políticos mineiros. “A quantia, de aproximadamente R$ 9 milhões, era passada pelos supermercados como forma de doação de campanha [a políticos]”, explica Veloso. “As redes ganhavam prestígio diante dos políticos”, complementa. Outros benefícios serão investigados.
Segundo a PF, um dos sócios do Supermercados BH, Waldir Rocha, estava no Uruguai e, por isso, ainda não foi preso. Mas, de acordo com Veloso, o advogado do investigado afirmou que seu cliente vai se entregar ao retornar para o Brasil. O BHAZ tentou falar com o empresário, mas não obteve sucesso até a publicação desta reportagem, que será atualizada assim que receber o posicionamento do envolvido.
JBS
Ao todo, sempre conforme a PF, Joesley Batista teria desembolsado R$ 30 milhões para garantir a eleição de Cunha, preso atualmente em Curitiba (PR), também em decorrência das investigações da Lava Jato. Apesar de Antônio Andrade ter saído do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para se candidatar como vice-governador de Minas em 2014, atos ilegais continuaram sendo realizados pela JBS, como o pagamento mensal de R$ 250 mil para servidores do ministério.
Ao realizar os pagamentos, denominados de “Mensalinho” pelo delegado, a empresa queria obter decisões favoráveis no Mapa. Entre elas destaque para uma emenda na Medida Provisória 653/2014 que tinha o objetivo de federalizar a inspeção sanitária em frigoríficos. “Com isso o mercado seria concentrado na JBS, pois os pequenos produtores não conseguiriam atender as exigências do ministério”, afirma o delegado.
Capitu
Ao todo, 63 mandados de busca e apreensão e 19 de prisão temporária estão sendo cumpridos, a pedido do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Paraíba e no Distrito Federal.
Veja abaixo lista de presos na operação até o momento, de acordo com o G1.
– Antonio Andrade, vice-governador de Minas e ministro da Agricultura de março de 2013 a março de 2014
– Joesley Batista, sócio da J&F, dona da JBS
– Ricardo Saud, ex-executivo da J&F
– Demilton de Castro, ex-executivo da J&F
– João Magalhães, deputado estadual pelo MDB de MG
– Neri Geller, deputado federal eleito pelo PP de MT e ministro da Agricultura de março de 2014 a dezembro de 2015
– Rodrigo Figueiredo, ex-secretário de Defesa Agropecuária
– Mateus de Moura Lima Gomes, advogado
– Mauro Luiz de Moura Araújo, advogado
– Ildeu da Cunha Pereira, advogado
– Marcelo Pires Pinheiro
– Fernando Manoel Pires Pinheiro
– Walter Santana Arantes
– Claudio Soares Donato
– José Francisco Franco da Silva Oliveira
Mandados não cumpridos
– Waldir Rocha Pena, sócio do Supermercados BH, que estaria no Uruguai
– Florisvaldo Caetano de Oliveira, funcionário da JBS
– Odo Adão filho, advogado
Da Redação com BHAZ