Um brasileiro foi sentenciado à prisão por 22 anos no Reino Unido por drogar e abusar sexualmente de dois homens no país. Segundo as investigações, ele escolhia especificamente homens heterossexuais para cometer os crimes, porque acreditava que eles dificilmente denunciariam o caso à polícia — o que se provou errado, já que as duas vítimas o acusaram. Os abusos ocorreram em 2021 e ele foi julgado em julho de 2022.
A imprensa local foi a primeira a afirmar que o homem é de origem brasileira. A Polícia de Thames Valley, que conduziu as investigações, não detalhou qual era a ocupação dele no país ou quando ele se mudou para o Reino Unido. A reportagem entrou em contato com a corporação e aguarda retorno.
O primeiro crime foi cometido em novembro por Luiz Inácio da Silva Neto, 36, em uma casa na cidadezinha Middle Barton. O agressor misturou drogas na bebida da vítima, que perdeu a consciência. Silva Neto utilizou GHB, droga conhecida por ser utilizada por estupradores para dopar as vítimas, e ele próprio admitiu, no julgamento, o porte de substâncias ilícitas. Quando a vítima acordou, o homem já havia iniciado uma investida sexual contra ela, que não conseguia se mover.
“Até agora, oito meses depois, eu não consigo contar para minha família ou qualquer amigo o que aconteceu. Como eu poderia? Que palavras eu poderia usar? Então, vivo sozinho com isso todos os dias. Eu sou heterosexual. Sou católico. [O abuso] teve um grande impacto nesses aspectos da minha vida. Eu sinto que isso já afeta e continuará a afetar meus relacionamentos”, disse a primeira vítima, em depoimento à polícia britânica disponibilizado no site da corporação. O homem também relatou ter sido diagnosticado com Transtorno de Estresse Pós-Traumático.
Um mês depois, em dezembro de 2021, Silva Neto fez mais uma vítima. Ela estava bebendo em um bar em Londres e, quando tentou encontrar um táxi, encontrou Silva Neto em um veículo. Sua próxima lembrança, segundo ela, foi acordar na mesma casa onde a primeira vítima foi abusada. A vítima foi drogada e estuprada por Silva Neto, concluíram as investigações.
“Ligar para minha esposa chorando e gritando no telefone é uma memória que ela nunca vai esquecer e que a traumatizou. As semanas seguintes foram incrivelmente difíceis para mim e para todos ao meu redor, foram noites sem dormir e a ansiedade severa obrigou que eu e minha esposa tirássemos uma licença do trabalho”, depôs a vítima.
Os investigadores trabalham com a hipótese de que Silva Neto tenha cometido outros estupros e incentivam que as vítimas entrem em contato para denunciá-lo. “Ele é um predador sexual e um homem muito perigosos, por isso as ruas estão muito mais seguras com ele atrás das grades”, afirmou o inspetor e detetive James Holden-White, à frente do caso.
Violência sexual contra homens
No Brasil, pelo menos 1,8 milhão de homens sofreram violência sexual em algum momento da vida, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os agressores costumam ser outros homens e a maioria das vítimas são crianças e adolescentes. Segundo especialistas, muitas vezes os abusos são silenciados por décadas.
“A maioria dos homens que atendemos é heterossexual e faz sexo com mulheres, mas as violências são majoritariamente cometidas por outros homens. É grande o medo das vítimas de que isso os ‘torne gays’, como se a violência pudesse provocar isso. Isso faz com que os homens vítimas de outros homens falem muito menos sobre o assunto”, detalha o idealizador do projeto “Memórias Masculinas”, que acolhe vítimas, o psicólogo Denis Ferreira.
Com O Tempo