Prevê-se que todos os moradores que estiveram no apartamento onde as crianças foram encontradas nos últimos 12 meses prestem depoimento na delegacia.
A Polícia Civil de Belo Horizonte está investigando um caso de cárcere privado envolvendo duas crianças, de 6 e 9 anos, encontradas em um apartamento no bairro Lagoinha. A maioria dos depoimentos está sendo colhida na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), com a expectativa de ouvir todas as pessoas que residiram no apartamento nos últimos 12 meses.
As únicas pessoas ouvidas fora da delegacia foram as crianças, que ainda estão internadas no hospital, acompanhadas por assistentes sociais e psicólogos. A mulher acusada de manter os meninos em cárcere privado ainda está sendo procurada, e o pai das crianças, que se acreditava ter morrido de Covid-19 em 2020, está sendo procurado pela polícia, já que seu atestado de óbito ainda não foi encontrado.
Entenda o caso
O resgate
Duas crianças, de seis e nove anos, foram resgatadas em Belo Horizonte, trancadas em um apartamento no bairro Lagoinha, após ficarem três dias sem alimentação. Elas estavam com sintomas de desnutrição e febre, magras e vestindo roupas sujas, em um ambiente escuro e sujo. As crianças foram levadas para o hospital Odilon Behrens após o resgate.
A denúncia
Uma vizinha, Poliana Pereira dos Santos, de 37 anos, fez uma denúncia à polícia depois de perceber que as crianças estavam sozinhas e sem auxílio de familiares em um apartamento no bairro Lagoinha.
Um dos meninos sentiu o cheiro de churrasco e pediu comida ao sobrinho da vizinha, dizendo estar com fome. A vendedora contou que o menino sugeriu colocar o churrasco em uma sacolinha para que coubesse no buraco, já que a porta estava trancada com cadeado e correntes. Ele mencionou estar acompanhado da avó, mas voltou a pedir comida mais tarde, o que levantou suspeitas de que as crianças estivessem sozinhas.
O local em que as crianças foram encontradas
O local foi descrito pela denunciante como um ambiente insalubre, onde havia uma vasilha de comida contaminada. O cenário era de extrema sujeira e mau cheiro, tão forte que os próprios policiais não conseguiram suportar. A denunciante relatou ter ficado emocionada ao ver os dois menores de idade, aparentemente subnutridos e debilitados. As condições do ambiente eram precárias, com sujeira e mofo por todos os lados, incluindo uma vasilha de comida com insetos e um colchão no chão.
Quem são os responsaveis pelas crianças?
Durante a investigação, foi descoberto que as crianças resgatadas são filhas de Kátia Cristina, de 30 anos, que foi presa no início do mês por maus-tratos a outro filho, que veio a falecer em 6 de fevereiro. O pai biológico das crianças teria falecido de Covid-19 em 2019, mas como seu atestado de óbito ainda não foi encontrado, as autoridades continuam em busca dele. Uma das vítimas relatou que elas haviam chegado de São Joaquim de Bicas uma semana antes do resgate e que a avó havia passado a noite de sábado, dia 18, com elas, mas não retornou.
Em uma carta, a mãe das crianças resgatadas pediu ao seu irmão, que mora na região metropolitana, que protegesse seus filhos. Além dos dois meninos, a mulher também tem duas meninas de 1 e 2 anos, que atualmente se encontram em um abrigo em São Joaquim de Bicas.
Em um texto exclusivo divulgado pelo jornal O TEMPO, a mãe das crianças resgatadas pediu perdão ao seu irmão e pediu que ele cuidasse dos filhos dela, que estão internados com sinais de desnutrição em um hospital. Ela afirmou que assinaria a guarda caso o irmão quisesse. Advogados acreditam que ela e sua família foram vítimas de uma quadrilha que pratica trabalho análogo à escravidão, a mulher teme pela vida de seu irmão.
A investigação
A Polícia Civil está investigando o caso de abandono de crianças, mas ainda não identificou nem prendeu a mulher responsável. O Ministério Público de Minas Gerais está acompanhando o caso, que segue em sigilo.
Da redação, Djhessica Monteiro.
Fonte: O Tempo.