Frigoríficos do Brasil promovem, desde o final de semana, um boicote ao Carrefour, após uma declaração realizada pelo CEO global da gigante do varejo francesa de não comprar carnes vindo do Mercosul.
A marca Carrefour possui 150 lojas em todo o país e é proprietário de marcas como Atacadão (presente em Sete Lagoas) e Sam’s Club – no momento, apenas a marca global seria o principal alvo. Desde sábado (23), frigoríficos como JBS, Marfrig e Masterboi suspenderam o envio de mercadorias e é previsto que até quarta-feira (27) haja desabastecimento na rede francesa.
O imbróglio começou quando Alexander Bompard, CEO do Carrefour, declarou na semana passada que a rede não venderia mais carnes vindas do Mercosul por esta não ter “exigências adequadas”. Em carta endereçada ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores franceses, o executivo ainda diz que o projeto de acordo de livre comércio entre União Europeia (UE) e Mercosul traz um risco de “inundação” no mercado francês, de uma carne que “não respeita as exigências e normas”.
Seguindo também o Carrefour, o Grupo Les Mousquetaires, proprietário da rede de supermercados francesa Intermarché e Netto, também aderiu ao boicote: “Em apoio ao setor agrícola, o Grupo Les Mousquetaires assumiu o compromisso de não comercializar carne bovina, suína e aves originárias de países da América do Sul. Essa medida será aplicada em todos os balcões tradicionais das redes Intermarché e Netto”, disse em nota o grupo na quinta-feira (21).
Em nota enviada à imprensa, o Carrefour afirma que é improcedente a alegação de que há desabastecimento de carne nas lojas do Grupo Carrefour Brasil. “Tal alegação, veiculada sem identificação de fonte, contribui para desinformação. A comercialização do produto ocorre normalmente nas lojas. Nenhuma loja está desabastecida”, diz a empresa.
Ação poderia ser reação a acordo UE – Mercosul
Há cerca de 20 anos, um acordo entre os blocos econômicos europeu e sul-americano tenta destravar a tarifação de 92% de produtos do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela (suspensa do Mercosul) vendidos no mercado do Velho Continente. A União Europeia é favorável ao acordo, que quer ser fechado ainda em 2024, mas a França é contra.
Agricultores franceses e o próprio governo de Emmanuel Macron já se posicionaram insatisfeitos com o acordo, que promoveria uma “competição desigual”. Produtores rurais de Espanha e Bélgica também protestaram contra a negociação.
Governo brasileiro responde Carrefour
Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) rechaçou o posicionamento do CEO do Carrefour: “O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, disse em nota.
A nota ainda diz que o ministério não acredita em um movimento orquestrado por parte de empresas francesas visando dificultar a formação do acordo Mercosul – UE, discutido no G20. A pasta destacou que o Brasil atende todos os padrões regulatórios e que as carnes produzidas no Brasil são consumidas pela UE há mais de 40 anos. “O Mapa lamenta tal postura que, por questões protecionistas, influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações”, afirma.
Além do posicionamento oficial do Mapa, o próprio ministro Carlos Fávaro se pronunciou. Diferente da nota publicada, ele disse que parece uma ação orquestrada por companhias francesas e lembrou o caso da Danone. Na visão de Fávaro, as empresas procuram encontrar alguma forma de pressionar o Governo francês a não assinar o acordo.
com informações de MoneyTimes