
O prefeito Mário Márcio Campolina Paiva, o Maroca (PSDB), faz na entrevista a seguir um balanço do seus 100 dias de administração, que completam-se nesta sexta-feira, 10. Ele aborda as dificuldades que encontrou nos primeiros meses pelas dívidas herdades e pela queda na arrecadação municipal em razão da crise econômica mundial. Afirma que confia em sua equipe e vê exagero nas cobranças. “Estamos buscando os caminhos, também temos pressa para resolver os inúmeros problemas”, garante. Veja na página
SETE DIAS – Fazendo uma auto-avaliação, qual sua análise da nova administração municipal nesses 100 dias?
Maroca – A avaliação não é boa, mas confio na equipe que montei. Estes três primeiros meses não foram nada fáceis. Sobretudo porque não existiu transição de governo, o que prejudicou o trabalho. Conhecemos a prefeitura e agora é colocar em prática nosso projeto de governo. De toda forma, considero a cobrança exagerada. Mas estamos atentos e buscando soluções definitivas e não apenas paleativas.
SD – No início da gestão houve um diagnóstico inicial das dívidas e a situação herdada. Já é possível falar mais concretamente sobre a situação financeira da prefeitura e os reflexos da crise?
Maroca – Herdamos muitas dívidas para quitar a curto prazo. A administração passada deixou cerca de R$ 23 milhões pendentes, já conseguimos pagar R$ 13 milhões desse montante. Recebemos um caixa com apenas R$ 3 milhões. Os reflexos da crise são notórios. Houve queda de cerca de 20% na arrecadação mensal do município. A média, nos três primeiros meses do ano passado, era de R$ 25 milhões. Hoje não arrecadamos mais que R$ 19 milhões em janeiro e fevereiro, sendo que essa média deve ser mantida para março. A queda na arrecadação do ICMS foi grande com a paralisação das siderúrgicas, assim como o que foi repassado pelo Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
SD – A máquina não tem um gasto com folha dos servidores superior ao percentual exequível, levando-se em conta a receita do município?
Maroca – É excessivo. Já começamos a enxugar a máquina, cerca de 500 contratos não foram renovados, o que trouxe uma economia de R$ 1,2 milhão ao mês. Infelizmente, teremos que fazer mais cortes, mas que são necessários para a reforma administrativa. Se não baixarmos a folha de pagamentos, vamos infringir a Lei de Responsabilidade Fiscal.
SD – O que identificou de maiores vícios ou problemas no funcionamento da administração municipal que pretende atacar e como?
Maroca – A administração de forma geral é deficiente. Falta informatizar muitos setores, a coleta de dados é rudimentar. É preciso estruturar a máquina administrativa para podermos valorizar o funcionalismo. E já estamos fazendo isso. A reforma interna já começou e, em breve, enviaremos para a Câmara Municipal um projeto que visa modificações mais profundas na estrutura da administração pública.
SD – Há alguma notícia de retrocesso em outros investimentos na cidade e algum outro novo investimento previsto, além do anunciado pela Sada?
Maroca – Investimentos como a cervejaria da Ambev, a fábrica de cimentos da Brennand e o shopping estão com sua programação dentro do cronograma estipulado pelas próprias empresas. Outra boa notícia é que algumas empresas de autopeças têm grande interesse em se instalar no distrito industrial, próximo à Sada. Em contrapartida, cerca de 50 empresas que se instalariam próximo ao terreno da Iveco Fiat recuaram e não virão, neste momento, para Sete Lagoas.
SD – Sua eleição aconteceu cercada de muita expectativa de mudanças em relação às práticas políticas das administrações anteriores. No entanto a situação ainda é de conhecimento e organização da máquina, enquanto a população sempre quer uma resposta mais rápida às demandas, tendo em vista o grande número de problemas da cidade. Como vê essa questão?
Maroca – Vejo a cobrança, apesar de exagerada, de forma positiva. Trouxemos de volta a Sete Lagoas o verdadeiro sentido da democracia e da participação popular. Daí é natural que as cobranças ocorram de forma mais intensa. Estamos buscando os caminhos, também temos pressa para resolver os inúmeros problemas.
SD – A área da saúde foi colocada em sua campanha como uma das prioridades, no entanto ainda é fonte de muita reclamação. É possível resolver esse problema a curto prazo?
Maroca – Temos urgência e estamos correndo atrás, principalmente, para resolver a questão do Hospital Municipal. Para isso estamos reorganizando as unidades do Programa Saúde da Família (PSF) na cidade, vamos completar todas as equipes, que chegarão a 40. O PSF funcionando bem pode barrar muitos procedimentos que hoje são realizados no municipal. Outra medida que vamos tomar é organizar melhor os PA´S e construir mais dois. Assim como o Hospital Regional, que será em breve uma realidade. Também estamos adquirindo dois novos equipamentos para o Pronto Socorro Municipal – um tomógrafo e um arco-cirúrgico – que vão evitar que diversos pacientes de Sete Lagoas sejam levados até Belo Horizonte para serem atendidos. Em relação à dengue, já temos resultados das ações implantadas. É só comparar o número de casos registrados este ano em relação ao mesmo período do ano passado.
SD – Outra proposta sua de campanha foi implantar em Sete Lagoas um órgão gestor do trânsito semelhante à BHTrans em Belo Horizonte.? Como está essa proposta?
Maroca – Já estamos em entendimento com empresas especializadas. Já houve um primeiro contato com técnicos da BHTrans no sentido de implantar em Sete Lagoas mecanismos que permitam organizar e monitorar nosso trânsito, que cresce assustadoramente.
SD – Também entre suas propostas de campanha estava um maior apoio às micro e pequenas empresas? Está elaborando algum programa nesse sentido?
Maroca – A Secretaria de Indústria e Comércio está se organizando para dar mais apoio aos micro e pequenos empresários de Sete Lagoas.
SD – Qual sua posição a respeito da questão da água e do esgoto. A vinda da Copasa ainda é cogitada ou não? Com ou sem Copasa, o uso de água do rio das Velhas deve acontecer?
Maroca – Não se fala em Copasa, e sim na reestruturação do SAAE. Caso não consigamos, aí sim vamos estudar outras alternativas. Mas o certo é que não venderemos a autarquia municipal. A captação de água superficial do Rio das Velhas deve acontecer, mas precisamos estar conscientes em relação aos recursos a serem financiados e do que realmente precisamos. Vale lembrar que é necessário, primeiro, um estudo hidrogeológico da cidade.
SD – Como está a situação do PAC em Sete Lagoas?
Maroca – As obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foram reiniciadas na segunda-feira. O consórcio Prefisan Ltda e Global Engenharia será responsável pela construção de 240 casas no bairro Belo Vale II, área denominada de “Jardim dos Pequis”, para abrigar famílias que moram em áreas de risco nos bairros Kwait e Iraque.
SD – Há muitos comentários na cidade de que haveria um rompimento seu com o vice-prefeito, Dr. Ronaldo João. Como está essa relação?
Maroca – A relação é ótima, não temos o menor problema. Mais uma vez a “central de boatos” se faz presente na cidade.
SD – Que análise faz do seu secretariado, está satisfeito?
Maroca – É prematuro analisar em apenas três meses de governo. Confio na capacidade de minha equipe. As críticas por parte da população, como a ausência de um relacionamento mais humano, já estão sendo contornadas.
SD – É muito esperada a participação do arquiteto Flávio de Castro em seu governo. Ele vai fazer parte?
Maroca – O Flávio vai sim ser incorporado à administração, a partir do dia 1º de maio. Não está em tempo integral conosco ainda porque vem finalizando projetos já iniciados junto ao Ministério de Desenvolvimento Social. Ele será integrado à Secretaria de Planejamento. As responsabilidades da pasta serão divididas e o Flávio vai assumir uma parcela significativa dessas atribuições, que não são poucas.
SD – E em relação à Câmara, acha que o diálogo está bom? Por que só agora escolheu seu líder no Legislativo, e qual a razão da escolha do Renato Gomes (PV)?
Maroca – O diálogo com o Legislativo é bom, mas precisa melhorar. Em relação à escolha de Renato Gomes como nosso líder, fizemos uma consulta junto aos partidos da base de apoio do governo. O Renato é um vereador sério, que vem fazendo um bom trabalho e tem muito a acrescentar para um melhor relacionamento com a Câmara. Foi um nome que surgiu naturalmente.
SD – Como sua rotina de vida mudou ao assumir o cargo de prefeito?
Maroca – Tenho consciência que ser prefeito é temporário. Estou procurando não mudar, dentro do possível, minha rotina de vida.
SD – O que a população pode esperar de ações a curto prazo da prefeitura na cidade?
Maroca – Peço à população que leve em conta o difícil período que estamos atravessando. Tenho consciência dos problemas e as soluções vão aparecer: umas de forma mais imediatas, outras a médio e longo prazos. Peço confiança, que os resultados, em breve, aparecerão.