A divulgação de um vídeo em que o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) manda um “recado” a alguns professores da Fundação João Pinheiro (FJP) com críticas a forma como conduzem as aulas levou a instituição a suspender as atividades na terça-feira (30). De acordo com a assessoria de imprensa, a previsão é que nesta quarta-feira a rotina esteja normalizada.
Em nota, a fundação repudia a forma como Bolsonaro se dirige aos professores, “não condizente com os valores civilizatórios e com o Estado democrático de direito”. A entidade informa que registrou ocorrência sobre o episódio no Ministério Público para que o fato seja apurado.
O vídeo começou a circular em grupos de WhatsApp na segunda-feira, mas não é possível saber quando ele foi gravado. Mas, dadas às características físicas de Bolsonaro após o atentado que sofreu em 6 de setembro, não parece ter sido feito nos últimos dias.
O presidente eleito usa uma bolsa de colostomia atualmente, além de estar mais magro. No vídeo, ele usa roupa social e cinto, o que não é recomendado a pacientes com esse tipo de procedimento. E parece estar em um dos restaurantes da Câmara.
Nas imagens ele cita nominalmente oito professores que são do corpo docente da FJP e direciona críticas porque estariam defendendo regimes autoritários, como da Coréia do Norte e Cuba. E afirma que acredita “na recuperação” deles, além de dizer que é “muito melhor” do que como os professores estariam se referindo a ele. O vídeo foi gravado após suposta acusação de que os docentes estariam fazendo críticas as frases e posturas do novo presidente, assim como ideias explicitadas por ele.
“Se nós vivêssemos no regime que vocês defendem, você não estaria vendo esta mensagem através deste aparelho maravilhoso, que não é fabricado na Coreia do Norte ou Cuba. Caiam na real! Parem de se enganar a si mesmos. Tenho certeza que, agindo desta maneira, vocês não serão só mais respeitados, bem como poderemos trabalhar por um Brasil melhor. Podem não concordar comigo, mas na maioria das coisas eu sou muito melhor do que aquilo o que vocês ensinam”, disparou.
Em nota a Fundação João Pinheiro afirmou que a fala do presidente eleito revela manifestação de intransigência.
“A Fundação João Pinheiro não pode aceitar que manifestações de intransigência se voltem contra seus servidores de maneira desrespeitosa à liberdade de expressão garantida pela Constituição cidadã de 1988. Fiel ao legado constitucional, a Escola de Governo da FJP tem como uma de suas pedras angulares a manutenção de um ambiente diverso, plural, suprapartidário, de respeito à liberdade de pensamento e opinião e de controle à intolerância”, informa a nota assinada pelo presidente da FJP, Roberto de Nascimento Rodrigues.
Reação
A fala de Bolsonaro também provocou reação dos alunos da Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho, ligada à Fundação João Pinheiro. Em posicionamento, publicado no perfil do D.A no Facebook, os alunos afirmam não reconhecer qualquer linha de doutrinação e repudiam as palavras de Bolsonaro.
“Nós, alunos, não reconhecemos nenhum tipo de doutrinação ou imposição de pensamento por parte do corpo docente da Fundação João Pinheiro. O ambiente educacional é composto por pessoas de diversas ideologias políticas e diferentes opiniões, essenciais para a construção de um pensamento crítico independente, base para a formação de pessoas que buscam atender o interesse público”, afirmam na postagem.
Eles ainda afirmam que defendem a pluralidade de ideias no ambiente acadêmico. “Prezamos pela liberdade de expressão e por um espaço no qual o diferente seja sempre aceito e respeitado e nos esforçamos todos os dias para que isso seja possível. Repudiamos, portanto, qualquer tentativa de minar essa construção, essencial para a democracia”, diz o comunicado dos alunos.
A reportagem não conseguiu contato com ninguém da equipe de Jair Bolsonaro para comentar as circunstâncias da mensagem.
Com EM