O presidente Jair Bolsonaro (PSL) publicou no Twitter na noite desta terça-feira (5) um vídeo de um episódio de nudez pública de dois homens, em que um deles inclusive urina no outro, dizendo que “é isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro”.
“Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conclusões”, escreveu Bolsonaro no post, feito às 20h08.
Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conclusões:
O vídeo veiculado pelo presidente começa com um homem com as nádegas de fora dançando em cima de um ponto de táxi. Em seguida, ele se abaixa e um outro homem urina em sua cabeça.
Segundo relatos de usuários do Twitter, o caso teria ocorrido no Blocu, bloco de carnaval que passou ontem por ruas do centro de São Paulo. O vídeo publicado por Bolsonaro mostra um prédio e um ponto de táxi que ficam na Rua Boa Vista, uma das que faziam parte do trajeto do bloco.
Poucas horas após a publicação do vídeo por Bolsonaro, usuários do Twitter defenderam que o tweet fosse denunciado por conteúdo impróprio. Segundo as regras de uso do Twitter, a publicação de “conteúdo adulto criado ou compartilhado sem o consentimento das pessoas retratadas” está sujeita a remoção, e pode ter a conta bloqueada temporariamente. Por volta das 23h20, a gravação já tinha quase 1 milhão de visualizações.
Além de críticas ao fato de Bolsonaro ter divulgado um vídeo de conteúdo adulto, alguns internautas consideraram que o presidente estaria violando a Lei do Impeachment (lei 1.079, de 1950). O parágrafo 7º do artigo 9º diz que “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo” é crime de responsabilidade contra a probidade na administração pública.
Já outros usuários defenderam a iniciativa do presidente. “Eu queria não ter visto esse vídeo que o Bolsonaro compartilhou. É um absurdo o presidente da república postar uma coisa dessas no seu perfil oficial? É. Mas pra mim uma cena daquelas em público é algo infinitamente pior. Acho que a revolta tá sendo com a coisa errada”, escreveu a usuária @itsmichss.
Após a publicação, hashtags sobre o assunto entraram nos assuntos do momento do Twitter no Brasil e no mundo. Até as 9h30 do dia seguinte, a hashtag “#goldenshowerpresident” era a terceira mais tuitada no Brasil e as hashtags #ImpeachmentBolsonaro e #BolsonaroTemRazão constavam no primeiro e segundo lugar mundial da rede, respectivamente.
Em outro tuíte, Bolsonaro questionou o que era “golden shower”.
Por e-mail, o UOL perguntou à Secretaria de Comunicação da Presidência da República como o presidente teve acesso ao vídeo; quem gravou as imagens; quando elas foram gravadas; e em que local. O órgão respondeu que o Planalto não comentaria o assunto.
Procurada para comentar o conteúdo do vídeo e o post de Bolsonaro, a organização do Blocu disse em nota que “não é responsável pelas ações de cidadãos em local público e repudia qualquer calúnia e difamação sobre as boas práticas do bloco de trazer alegria, música e bem-estar aos participantes.Nenhum problema de segurança ou ofensa foi reportado durante o transcurso da festa.”
BLOCOS PROTESTAM CONTRA PRESIDENTE
A publicação do vídeo é o mais recente capítulo de uma série de eventos envolvendo o nome de Bolsonaro no Carnaval.
Nos últimos dias, blocos em várias cidades do país serviram de palco para protestos contra o presidente. Em Olinda, bonecos gigantes representando Bolsonaro e a primeira-dama Michelle Bolsonaro foram hostilizados. Manifestações também foram registradas no Rio, São Paulo, Salvador e Belo Horizonte.
Na capital mineira, a Polícia Militar chegou a proibir que integrantes do bloco Tchanzinho Zona Norte protestassem contra Bolsonaro. O Ministério Público e a Defensoria Pública de Minas Gerais cobraram que a PM garantisse a liberdade de expressão no Carnaval no estado.
O presidente também envolveu-se em uma polêmica particular com Caetano Veloso e Daniela Mercury, cuja música “Proibido o Carnaval” defende as liberdades sexual e de expressão, além de ironizar a declaração da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, de que “menino veste azul e menina veste rosa”.
Hoje de manhã, pelas redes sociais, Bolsonaro criticou “dois ‘famosos'” que estariam acusando o presidente de querer acabar com o Carnaval. “A verdade é outra: esse tipo de “artista” não mais se locupletará da Lei Rouanet”, publicou o presidente sem mencionar os nomes de Caetano e Daniela.
O texto foi acompanhado do vídeo de uma marchinha de carnaval cujo cantor diz: “Essa marchinha vai para o nosso querido Caetano Veloso e a nossa querida Daniela Mercury. Chupa.” A letra da música diz que “tem gente ficando doida sem a Lei Rouanet” e que “o nosso Carnaval não está proibido, mas com dinheiro do povo não será mais permitido”.
Daniela Mercury rebateu dizendo que, em 20 anos, usou R$ 1 milhão para projetos culturais por meio da Lei Rouanet, o que representaria cerca de 10% do custo com seus trios elétricos sem cordas (gratuitos para o público) no Carnaval de Salvador.
“Essa fake news sobre a Lei Rouanet criada na eleição não pode continuar sendo usada para desmerecer o trabalho sofrido e suado dos artistas brasileiros”, disse a cantora.
A mulher e empresária de Caetano Veloso, Paula Lavigne, afirmou ao UOL que o cantor não responderia ao post do presidente.
A Lei Rouanet é de 1991 e continua em vigor. Por meio dela, empresas podem destinar 4% de seu imposto de renda para projetos culturais.
Com Portal UOL