O prefeito de Sete Lagoas, Leone Maciel Fonseca, renunciou ao cargo na manhã desta quinta-feira (7). De acordo com a prefeitura, o vice-prefeito Duílio de Castro (PMN) vai assumir o mandato.
Na carta de renúncia protocolada pela Câmara Municipal da cidade, Leone afirma que a crise financeira enfrentada pelo estado de MG é um dos motivos de sua decisão (leia a carta de renúncia na íntegra no fim desta reportagem). “Desde que os repasses começaram a ser retidos, todo o planejamento do governo foi inviabilizado”, disse o ex-prefeito no documento.
O político – que não está filiado a nenhum partido – afirmou ainda que estava sofrendo perseguições políticas, com “calúnias, difamações e até mesmo ataques pessoais diante de um problema criado diretamente pelo governo estadual”.
Leone Maciel foi eleito com mais de 50 mil votos em 2016 e tem mais de 40 anos de atuação política em Sete Lagoas.
Em dezembro do ano passado, os mandatos de Leone Maciel e do vice-prefeito Duílio de Castro (PMN), que agora assumirá a prefeitura, foram cassados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Minas Gerais. A decisão da Justiça Eleitoral ainda está sujeita a recursos, que devem ser julgados nos próximos dias.
Leia a carta de renúncia na íntegra:
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara,
Tenho mais de 40 anos de vida pública e, durante todo esse período, vários feitos históricos marcaram minha atuação política. Fui vereador por vinte anos e presidente da Câmara por dez anos. Também fui vice-prefeito em duas gestões. Em 2016, fui eleito para o meu segundo mandato como prefeito, juntamente com o vice-prefeito Duílio de Castro, apoiado por um grande grupo político graças a minha trajetória pessoal, política e capacidade de liderar. Durante todo esse tempo, trabalhei arduamente em prol de Sete Lagoas.
Quando fui eleito dessa vez, não foi diferente. Depois de ter sido escolhido por mais de 50 mil eleitores, trabalhei dia e noite para fazer de Sete Lagoas uma cidade melhor, mesmo diante de todas as dificuldades. Assim que assumi, firmei e cumpri o compromisso com o funcionalismo público e em um ano paguei 16 folhas de salários. Ainda em campanha, propus quitar o salário todo dia 28 e assim o fiz enquanto existia condições, de forma antecipada. Investi na área da saúde e reabri o PA do Belo Vale logo no primeiro dia da minha gestão. Devolvi o Parque da Cascata para a população. Estou realizando o sonho da casa própria para 500 famílias e regularizando a moradia para outras mais de 1400. Além disso, minha atuação foi fundamental para trazer o investimento de mais de R$1 bilhão para a instalação de outra fábrica da AmBev. Minha família, amigos, servidores municipais e a classe política são testemunhas da tentativa diária de fazer o bem, o certo e o melhor para o município e nossa gente.
Contudo, Sete Lagoas atualmente vive um momento muito difícil em que governar tornou-se quase uma missão impossível. Instaurou-se uma crise financeira devido a irresponsabilidade do Estado que confiscou mais de R$ 125 milhões de Sete Lagoas. Desde que os repasses começaram a ser retidos, todo o planejamento do governo foi inviabilizado. Com recursos próprios, assumimos custos antes não previstos, principalmente, nas áreas da educação e da saúde para que a população não ficasse sem atendimento. Contudo, mesmo diante de todos os problemas, o meu objetivo era continuar e batalhar para que a situação fosse regularizada.
No entanto, devido a essa forte crise financeira que atingiu Sete Lagoas, se instaurou também uma crise política. Venho sofrendo calúnias, difamações e até mesmo ataques pessoais diante de um problema criado diretamente pelo governo estadual. Sempre fui homem de palavra e cumpri com minhas promessas, não posso deixar que a falta de compromisso do Estado e de todos aqueles que o representa apague uma história de trabalho árduo e honesto por Sete Lagoas.
Aproveitando dessa fragilidade da cidade, grupos se formaram, até mesmo compostos por pessoas que antes eram aliadas, com a intenção de minar, inviabilizar os projetos e criar obstáculos para a administração. E, infelizmente, tudo isso ocasionou um cenário de ingovernabilidade, o que impossibilitou que qualquer operação fosse realizada para minimizar os efeitos da crise.
Governar Sete Lagoas é conviver diariamente com decisões que influenciam na vida de milhares de pessoas. Mas, sem dúvida, hoje tomo a decisão mais difícil de minha vida.
Neste momento, renuncio ao cargo de prefeito de maneira irrecorrível e irretratável. Saio de cabeça erguida, com a certeza de ter feito o que pude enquanto estive na vida pública. Preciso zelar por mim e, principalmente, pela segurança da minha família.
Acredito que uma nova liderança à frente do município possa mudar esse cenário obscuro que tomou conta de nossa querida Sete Lagoas. Tenho convicção que, sem qualquer motivo, me tornei alvo dos ataques covardes vindos de quem pensa somente em questões pessoais. Nunca pautei minha vida pública no interesse pelo poder e sim pelo bem comum. Por isso, com esse ato de coragem espero que ocorra um consenso e que a classe política volte a trabalhar para o benefício da cidade.
Agradeço mais uma vez a minha família que caminhou ao meu lado em todos os momentos, inclusive nesse tão difícil. Agradeço os políticos sérios que estiveram ao meu lado, os servidores que atuam em diversas áreas da administração e aos mais de 50 mil sete-lagoanos que depositaram em mim a confiança para fazer uma Sete Lagoas melhor.
Leone Maciel Fonseca
Da redação Com G1 e Prefeitura e Sete Lagoas