Preso pela Polícia Federal na manhã desta quarta-feira (9) em operação que apura interferência nas eleições de 2022, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques pode ter a aposentadoria cassada se ficar comprovada a tentativa de mudar o resultado das urnas com bloqueios em rodovias para impedir o trânsito de eleitores do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
A possibilidade foi confirmada à Globonews pelo corregedor-geral da PRF, Vinícius Behrmann. Segundo ele, a cassação da aposentadoria pode ser uma das consequências do processo administrativo que tramita junto à Corregedoria-Geral da União (CGU) e apura a conduta de Silvinei no contexto das eleições de 2022.
Silvinei ingressou na PRF em 1995 e fez parte da corporação por 27 anos. Em dezembro de 2022, no fim do governo de Jair Bolsonaro (PL), recebeu aposentadoria voluntária integral – ou seja, sem perda de salário. Silvinei estava com 47 anos quando exonerado do cargo de diretor-geral por Bolsonaro dias antes. Atualmente, ganha R$ 18 mil menais.
Silvinei Vasques usou as redes sociais para, na véspera do dia da votação de 2022, declarar voto em Bolsonaro. Publicou uma imagem da bandeira do Brasil com as frases “Vote 22. Bolsonaro presidente”. Vasques é réu por improbidade administrativa nesse episódio.
PF encontrou mensagens sobre mapa de blitze em celulares de agentes da PRF
Peritos da PF encontraram imagens em telefones celulares de policiais rodoviários com o mapeamento das cidades onde o então candidato Lula teve mais de 75% dos votos no primeiro turno no Nordeste, região que é o maior reduto eleitoral do petista. Foi justamente nessas localidades que a PRF concentrou as blitze em 30 de outubro, dia da votação do segundo turno do pleito de 2022.
Essa é uma das provas coletadas pela PF que levaram à operação deflagrada nesta quarta para coletar mais informações sobre a investigação sobre suposta intervenção na eleição do ano passado. Agentes prenderam Silvinei Vasques, por tempo indeterminado. Ele estava em casa, em Florianópolis (SC), e será transferido para Brasília ainda nesta tarde.
A informação sobre o conteúdo encontrado em celulares de agentes da PRF são do G1. O portal de notícias da Globo também revelou que, em suas investigações, a PF localizou conversas tratando de uma reunião da cúpula da PRF na qual Silvinei Vaques teria determinado um “policiamento direcionado” no dia do segundo turno nas cidades do Nordeste onde Lula teve mais de 75% dos votos no primeiro turno.
Ex-dirigentes da PRF fiéis a Silvinei também são alvo da operação
Além de Silvinei Vasques, dirigentes da corporação que trabalhavam com ele também são alvo da operação deflagrada pela PF na manhã desta quarta. A equipe de O TEMPO em Brasília apurou que os demais investigados são:
Wendel Benevides, ex-corregedor-geral;
Djairlon Henrique Moura, ex-diretor de Operações;
Luis Carlos Reischak, ex-diretor de Inteligência;
Rodrigo Cardozo Hoppe ex-diretor de Inteligência Substituto;
Anderson Frazão, ex-coordenador-geral de Gestão Operacional;
Antonio Melo Schlichting Junior, ex-coordenador-geral de Combate ao Crime;
Bruno Nonato, ex-PRF e hoje na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
A PF cumpre 10 mandados de busca e apreensão contra ex-subordinados dele, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Rio Grande do Norte.
Os mandados para a operação desta quarta foram expedidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A operação também contou com o apoio da Corregedoria-Geral da PRF, que determinou também a oitiva de 47 policiais rodoviários federais.
Durante a votação do segundo turno das eleições, em 30 de outubro, a PRF realizou mais de 500 operações no transporte de eleitores em diversas estradas do país. As ações foram suspensas após ordem da Justiça Eleitoral, na tarde daquele dia.
Plano para blitz começou a ser elaborado um mês antes, diz PF
Segundo a PF, o objetivo da operação desta quarta é esclarecer o suposto uso da máquina pública para interferir no processo eleitoral. De acordo com as investigações, integrantes da PRF teriam “direcionado recursos humanos e materiais com o intuito de dificultar o trânsito de eleitores no dia 30 de outubro de 2022”.
“Os crimes apurados teriam sido planejados desde o início de outubro daquele ano, sendo que, no dia do segundo turno, foi realizado patrulhamento ostensivo e direcionado à região Nordeste do país”, acrescenta a PF em nota.
“Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de prevaricação e violência política, previstos no Código Penal Brasileiro, e os crimes de impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio e ocultar, sonegar, açambarcar ou recusar no dia da eleição o fornecimento, normalmente a todos, de utilidades, alimentação e meios de transporte, ou conceder exclusividade dos mesmos a determinado partido ou candidato, do Código Eleitoral Brasileiro”, completa.
O nome da “Operação Constituição Cidadã” é uma referência à Lei Maior do Brasil, promulgada em 1988, a qual, pela primeira vez na história do país, garantiu a todos os cidadãos o direito ao voto, maior representação da democracia.
Com O Tempo