A Petrobras designou Luís Fernando Nery como gerente executivo de Comunicação interino. Nery havia ocupado a mesma posição de forma permanente de 2015 a 2016, sendo responsável pela gestão do grande orçamento de publicidade da empresa estatal. No entanto, ele foi demitido em 2019 devido a suspeitas de corrupção. Naquela época, um processo administrativo interno revelou desvios de verbas destinadas à propaganda e a eventos.
A nomeação como gerente executivo interino ocorreu em 1º de outubro, de acordo com informações divulgadas pelo jornal O Globo. O uso do termo “interino” na nomeação permite à administração da Petrobras contornar as normas de conformidade da empresa, que foram aprimoradas após o escândalo do Petrolão e exigiriam uma avaliação pelo Comitê de Conformidade.
Nery havia sido indicado em abril pelo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, para assumir a Gerência Executiva de Comunicação como titular. No entanto, naquela ocasião, o Comitê de Conformidade da estatal bloqueou seu retorno devido às irregularidades do passado.
Luiz Fernando Nery possui vínculos com Wilson Santarosa, que liderou a Gerência de Comunicação da Petrobras de 2003 a 2015, durante os dois primeiros mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT). Ele é uma figura de confiança do PT e mantém boas relações com a FUP (Federação Única dos Petroleiros).
O executivo também possui proximidade com Prates. Após a recusa do Comitê de Conformidade, o presidente da estatal o nomeou como seu assessor especial na presidência. Isso representou a primeira manobra de contorno às regras de conformidade da própria empresa, uma vez que, para esse cargo, também não era necessária a avaliação do comitê.
Nery foi demitido no passado devido a acusações de irregularidades no uso de recursos da Petrobras. Isso incluiu gastos de mais de R$ 1 milhão com camarotes no carnaval da Bahia para políticos ligados a Dilma, bem como o patrocínio do trio elétrico de um parente do chefe de gabinete do ex-presidente da empresa, Sérgio Gabrielli. Ele chegou a um acordo com a Petrobras antes da conclusão das investigações em 2019, o que levou à sua demissão.
Além disso, Nery já havia sido envolvido em outro escândalo relacionado ao carnaval em 2012, quando era responsável pelos patrocínios a escolas de samba do Rio de Janeiro. Nesse ano, sua esposa, Patrícia Nery, foi nomeada rainha de bateria da Portela, apesar de não ter vínculos com a comunidade da escola.
Paralelamente, está em andamento uma mudança no estatuto social da Petrobras para facilitar as nomeações de políticos e membros da administração pública para cargos de alto escalão na estatal. Essa proposta já recebeu aprovação do Conselho de Administração e será submetida aos acionistas em uma assembleia marcada para 30 de novembro. A medida visa eliminar as restrições à nomeação de administradores estabelecidas na Lei das Estatais, que foram consideradas inconstitucionais por uma decisão monocrática do ministro aposentado do STF, Ricardo Lewandowski. Isso permitiria nomeações de administradores do alto escalão da companhia oriundos da administração pública.
Essas mudanças geraram preocupações no mercado, que teme que as alterações nos requisitos para nomeações possam resultar em maior escrutínio sobre a governança da empresa, levando-a a se distanciar da transparência nos processos. Quando a Petrobras anunciou essa proposta em 23 de outubro, a empresa perdeu R$ 32 bilhões em valor de mercado, e as ações da estatal caíram mais de 6% na Bolsa de Valores de São Paulo (B3).
da redação com informações de O Globo