No início de setembro, milhares de médicos de todo o mundo se reuniram em Londres, Reino Unido, para participar do Congresso Europeu de Cardiologia. Um dos destaques do evento foi a divulgação das novas diretrizes para hipertensão, que orientam o diagnóstico e o tratamento da pressão alta.
O novo consenso simplifica conceitos, introduz uma nova categorização dos pacientes e recomenda um tratamento mais agressivo logo nos primeiros estágios da doença. As novas diretrizes classificam:
- Pressão arterial não elevada: abaixo de 120 por 70 mmHg (12 por 7);
- Pressão arterial elevada: entre 120 por 70 mmHg e 139 por 89 mmHg;
- Hipertensão arterial: acima de 140 por 90 mmHg.
Esses valores são baseados em medições feitas no consultório médico. Anteriormente, os cardiologistas dividiam os níveis de pressão em seis categorias: ótimo, normal, pré-hipertensão, e hipertensão em três estágios. A nova classificação, especialmente a introdução da “pressão arterial elevada”, visa tratar a pressão alta precocemente, evitando riscos cardiovasculares futuros, como infarto e AVC.
Segundo os especialistas, as diretrizes refletem o fato de que a hipertensão não surge de repente; é uma progressão gradual. Isso é particularmente relevante para subgrupos com risco aumentado de doenças cardiovasculares, que podem se beneficiar de um tratamento mais intenso antes que a pressão atinja os níveis de hipertensão.
Além das mudanças nas classificações, as novas diretrizes também modificam o esquema de tratamento medicamentoso e reforçam a importância de mudanças no estilo de vida, como a prática de exercícios físicos, redução de sal e aumento do consumo de potássio.
Hipertensão
A hipertensão é o principal fator de risco para infartos, AVCs, insuficiência cardíaca e renal, cegueira e até demência. No Brasil, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte. Contudo, grande parte da população não reconhece a gravidade da hipertensão. Estima-se que 1,2 bilhão de pessoas sofram de hipertensão no mundo, e mais da metade não sabe que tem a doença. Apenas uma pequena parte dos diagnosticados consegue controlar sua pressão adequadamente.
Essas novas diretrizes europeias influenciarão a atualização das diretrizes brasileiras, prevista para o primeiro semestre de 2025. O objetivo é reforçar que o ideal agora é manter a pressão abaixo de 120 por 70 mmHg, que se torna o “novo normal”.
No entanto, as mudanças também geram críticas. Alguns especialistas, como o médico Luiz Bortolotto, argumentam que a nova categoria de “pressão elevada” pode confundir tanto a população quanto os médicos, e que a classificação anterior, com termos como “pré-hipertensão”, era mais clara.
Para os hipertensos, a recomendação é um tratamento medicamentoso e mudanças no estilo de vida. Já para quem se enquadra na nova categoria de “pressão elevada”, a diretriz sugere a “estratificação de risco”, onde o médico avalia outros fatores de saúde para determinar a necessidade de iniciar o tratamento medicamentoso ou apenas monitorar e adotar mudanças no estilo de vida.
As novas diretrizes enfatizam a importância dos exercícios físicos, como treinos isométricos e de resistência, e do aumento do consumo de potássio para controlar a pressão, com cautela para pacientes renais. Também recomendam iniciar o tratamento com dois medicamentos de classes diferentes, aumentando as chances de controle. Por fim, destacam a necessidade de medir a pressão fora do consultório, usando o Mapa ou MRPA, para evitar diagnósticos incorretos, como a “hipertensão do jaleco branco” ou “hipertensão mascarada”.
Da Redação com BBC News