A dor lombar, que afeta milhões de brasileiros todos os anos, pode ter diferentes origens — e, como mostra uma ampla revista científica publicada recentemente, nem todos os tratamentos disponíveis oferecem o alívio prometido.

O levantamento publicado no periódico BMJ British Medical Journal analisou 301 estudos clínicos com adultos que apresentavam dor lombar inespecífica — aquela que não tem uma causa anatômica clara, como hérnia de disco ou fratura. O objetivo foi comparar a eficácia de tratamentos não cirúrgicos e não intervencionistas (sem injeções ou procedimentos invasivos) em relação a placebos ou terapias simuladas.
Os pesquisadores identificaram 56 tipos de tratamento ou combinações diferentes. O resultado foi surpreendente: apenas 1 em cada 10 dessas abordagens mostrou-se realmente eficaz — e, mesmo nesses casos, o alívio da dor foi pequeno e de curta duração.
Tratamentos que funcionam (um pouco) — e os que não funcionam
Para os casos de dor lombar aguda (com menos de 12 semanas de duração), apenas os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) demonstraram algum benefício. Já em quadros crônicos (com mais de três meses), cinco tratamentos apresentaram pequenos efeitos positivos: exercícios físicos, terapia manipulativa da coluna, uso de bandagens terapêuticas, antidepressivos e substâncias que atuam nos receptores de dor (agonistas TRPV1). Todos com evidência considerada de certeza moderada.
Em contrapartida, terapias como o uso de paracetamol, antibióticos, injeções de glicocorticoides e anestésicos não mostraram eficácia além do placebo e são pouco recomendadas, de acordo com a revisão.
Para os demais tratamentos, os dados foram considerados inconclusivos, devido à baixa qualidade das evidências ou número reduzido de participantes nos estudos. Para o neurocirurgião Felipe Mendes, especialista em coluna vertebral e membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, a principal causa da lombalgia ainda é a forma inespecífica. “Na maioria das vezes, a dor lombar em adultos não tem uma causa anatômica bem definida. Entre as mais comuns estão tensões musculares, desgaste dos discos da coluna, artrose e problemas posturais”, explica.
O médico, que também atua no Hospital Municipal de Sete Lagoas, ressalta, no entanto, que há situações mais graves que precisam ser consideradas. “Fraturas, infecções, tumores ou doenças inflamatórias, como a espondilite anquilosante, são causas menos frequentes, mas importantes. A definição da causa é essencial para indicar o melhor tratamento.”
Tratamento conservador continua sendo o mais indicado
Apesar da eficácia limitada de algumas abordagens, o tratamento conservador — sem cirurgia — ainda é o mais indicado, especialmente nas fases iniciais da dor.
“O tratamento conservador é recomendado para a grande maioria dos casos, principalmente nos primeiros três meses. Os métodos mais eficazes incluem analgésicos, anti-inflamatórios, fisioterapia com exercícios supervisionados, terapia manual e incentivo à prática de atividades físicas regulares”, afirma Felipe.
Segundo ele, o ideal é adotar uma abordagem individualizada, ajustada às necessidades e condições de cada paciente. Isso evita a cronificação do problema e melhora a qualidade de vida.
Fisioterapia é aliada no controle da dor crônica
A revisão apontou os exercícios como um dos poucos recursos eficazes para dor lombar crônica, e o médico reforça essa ideia. “A fisioterapia é fundamental. Ela fortalece a musculatura, melhora a postura e aumenta a flexibilidade. Programas personalizados têm melhores resultados, e quando associados à terapia cognitivo comportamental, podem beneficiar ainda mais pacientes com fatores emocionais envolvidos.”
Nem toda dor nas costas é motivo de preocupação, mas existem sinais que exigem avaliação médica urgente. “Perda de peso inexplicada, febre, histórico de câncer, uso prolongado de corticoides, dor intensa à noite ou perda de força nas pernas são sinais de alerta.” Nesses casos, a orientação é procurar rapidamente um médico para investigação e exames complementares.
Diferenciar o tipo de dor também ajuda a escolher o tratamento mais adequado. “A dor mecânica, que é a mais comum, piora com esforço e melhora com repouso. Já a inflamatória é mais intensa pela manhã e melhora com o movimento. A neuropática, como a causada por hérnia de disco, provoca formigamento, queimação ou choques”, detalha o neurocirurgião.
Quando procurar um especialista em coluna?
A recomendação para procurar um especialista em coluna ocorre principalmente quando a dor não melhora após seis a oito semanas de tratamento conservador bem conduzido. Também é fundamental buscar avaliação especializada nos casos em que há sinais neurológicos — como perda progressiva de força nas pernas, dormência ou alterações no controle urinário e intestinal —, quando a dor é muito intensa e compromete a realização de atividades básicas do dia a dia, ou ainda diante da suspeita de causas mais graves, como tumores, fraturas e infecções.
Em pacientes com dor lombar recorrente, especialmente quando exames apontam alterações estruturais na coluna, a consulta com um especialista é essencial para um diagnóstico preciso e definição do tratamento mais adequado.