Aconteceu dia no último dia 4, a aula inaugural de dois projetos implantados na Associação de Proteção e Amparo ao Condenado (Apac), um centro de detenção que hoje abriga 65 condenados pela justiça. Destes, 50 assistidos terão a oportunidade de participar de um curso profissionalizante voltado para a operação de máquinas de confecção e também de concluir o ensino fundamental II (quinta à oitava série) através do Telecurso 2000. Após o término e o cumprimento das penas, os recuperandos poderão ser inseridos no Projeto Regresso, que tem como objetivo contribuir para a reinserção de egressos do sistema prisional no mercado de trabalho.

De acordo com Flávio Lúcio Batista Rocha, diretor da Apac no município, irão participar 20 internos do curso destinado a confecções e outros 30 – divididos em duas turmas – das aulas do ensino fundamental. Em parceria com o Sesi e Senai, os cursos terão duração de, respectivamente, três e 18 meses. “O curso de confecção foi implantado após uma pesquisa que apontou que esta é uma necessidade da região de Sete Lagoas. É um programa inédito na Apac local que pode marcar de forma muito positiva esta nova fase na vida dos condenados, que terão uma oportunidade de se qualificarem para o mercado de trabalho”, considera.
Marcos Aurélio Pinto, 27 anos, foi condenado a 24 anos e seis meses de prisão por latrocínio. Aprender a costurar será uma novidade para ele, que vê no curso a oportunidade de dar uma reviravolta em sua vida. “Já aprendi muita coisa boa aqui na Apac, como operar um computador e lidar com artesanato. Será mais uma profissão, uma nova habilidade a ser aprendida para conseguir um emprego logo que sair daqui. Fico feliz, já que é algo que nunca iria acontecer se estivesse nas ruas” conta.
Da mesma forma Wanderson Gomes Barbosa, 32, vê no benefício uma nova chance de reingressar nos estudos. Condenado a quase 10 anos por assalto a mão armada, parou de estudar quando ainda era menor de idade. “Me arrependo muito de não ter dado ouvidos a meus pais, que sempre me incentivaram a estudar. Hoje apareceu outra oportunidade e tenho certeza que vou conseguir. Sem formação, fica impossível arrumar emprego, tenho essa consciência”, afirma.
O gerente do Senai, Jorge Domingos Peixoto, garante que os novos aprendizes, após 200 horas de aulas, estarão habilitados para produzir uma variedade de produtos a partir de tecidos planos, de malharia e lycra. “São camisas, uniformes, shorts, bolas e acessórios. Nossa unidade móvel conta com toda tecnologia que é oferecida em nossa estrutura fixa. A proposta é atender a região, que necessita de mão-de-obra voltada para o mercado das confecções”, completa.
A iniciativa é do Instituto Minas pela Paz, lançado no dia 23 de junho pela Secretaria Estadual de Defesa Social através do Projeto Regresso. O coordenador do projeto, Enéas Melo, afirma que já tramita na Assembléia Legislativa projeto de incentivo a empresas que contratarem formalmente os egressos do sistema prisional. “A proposta é, para cada contratação, o Estado conceder à empresa subvenção de dois salários mínimos durante 24 meses. E o objetivo é que este programa transforme-se em uma política pública em Minas Gerais”, afirma.
Por Celso Martinelli
Foto: Jornal Sete Dias