A variante delta do coronavírus deve se tornar majoritária em Minas Gerais em algumas semanas. Esta é a avaliação dos principais especialistas que trabalham no combate à pandemia de Covid-19 no Estado, segundo a reportagbem. As previsões para que isso ocorra giram em torno da primeira e segunda quinzena de setembro.
Atualmente, conforme a Secretaria de Estado da Saúde (SES), há 91 casos identificados de infecção pela variante delta em Minas. Duas mortes, uma em Rio Novo e outra em Uberaba, são investigadas, mas não tiveram, ainda, confirmação de relação com a cepa. O Ministério da Saúde, por outro lado, informou, que, nesta terça-feira (24), Minas chegou a 94 casos identificados.
As perspectivas em relação à delta estão ligadas às características dela – tão transmissível quanto o ebola e a catapora, de acordo com documentos do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos. Isso equivale a quase duas vezes o potencial de transmissibilidade do vírus original.
Casos da delta no Brasil, conforme Ministério da Saúde
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O professor de genética da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Renan Pedra, que está envolvido no sequenciamento genômico de parte das amostras virais no Estado, afirma que, apesar de ter, há um mês, um “pensamento conservador” em relação ao avanço da variante, os números mostraram que não era o caso.
“Eu tinha uma postura conservadora quanto a isso, até um mês atrás, e esperava uma certa resistência da variante gama. A chegada da delta não era para ser tão avassaladora, pensava. O que os números estão mostrando para gente, seja em Minas, ou em outros Estados, é que está crescendo, porém”, narra o pesquisador.
Pedra elenca dois possíveis cenários preocupantes para Minas Gerais. O primeiro é em relação às pessoas que estão parcialmente imunizadas – seja por aplicação das primeiras doses de vacinas contra Covid-19, seja por contração natural da doença. O risco é “muito aumentado” para esse grupo, ressalta o professor, devido à alta virulência da cepa.
O segundo ocorre em pessoas que passaram pelo ciclo de imunização completo – com duas aplicações de imunizantes, ou aplicação única. Para essas pessoas, argumenta Pedra, pode haver um sentimento de que “a pandemia acabou” o que gera potencial risco tanto a elas, quanto às pessoas que não foram completamente imunizadas ainda.
“Observando o que ocorreu em outros países, como Estados Unidos, Israel e Reino Unido, vemos é que o número de casos aumentou mesmo com a imunização mais avançada do que a do Brasil. A delta tem uma maior facilidade de infectar pessoas já imunizadas, seja pela vacina, seja pela imunização natural. A crescente da cepa nos volta para as medidas anteriormente determinadas: continuar a vacinação e continuar com as medidas de isolamento, usando máscara”, alerta.
A variante liga um “sinal amarelo para toda a população mineira”, discorre o especialista, que clama: “a pandemia não está sob controle, e ainda não acabou. Queiramos ou não”. Há indícios de que pessoas imunizadas, apesar de terem grandes chances de não desenvolverem a doença, podem transmitir a delta com muito mais facilidade do que outras variantes.
Por isso, Renan Pedra diz que, a depender do cenário epidemiológico das próximas semanas, gestores públicos deverão repensar as reaberturas feitas em municípios e no Estado.
“Neste momento, ou no passado mais imediato, caminhou-se para flexibilizar. Vamos sentir, em poucas semanas, qual será o passo da dança, para volta do fechamento, ou não. Se houver aumento dos indicadores, o poder público vai ter que repensar. Vamos cobrar paciência da população de entender que as decisões não são finais nessa história”, conclui.
Sem intervenções, delta pode explodir
Unaí Tupinambás, membro do Comitê de Enfrentamento À Pandemia da prefeitura de Belo Horizonte, infectologista e professor da UFMG, detalha como, em um cenário sem intervenções e adoção de medidas de distanciamento social, a delta pode avançar.
Considerando dez ciclos de infecção – ou seja, quando o vírus circula de uma pessoa até alcançar dez, que, por sua vez, transmitem a outras pessoas, – a cepa majoritária na capital, hoje, atingiria 9,5 mil pacientes. Fosse a delta, com transmissibilidade considerada entre RT 5 e RT 8, o número pode ser de até 60 milhões.
“[O crescimento da delta] É muito mais exponencial. O que temos que considerar é isso. Manter as medidas não farmacológicas e avançar na vacinação. Essas medidas conseguem conter a transmissão, mas é preciso mantê-las”, afirma o médico.
Outra forma de controlar a cepa é coordenar a vigilância genômica das cepas, defende Jorge Pinto, professor titular da escola de Medicina da UFMG e infectologista.
“Essa epidemiologia molecular está pouca estrutura no Brasil. Não que não haja expertise, há vários laboratórios capacitados, mas faltou organização nacional do combate à epidemia. Além disso, precisamos assegurar a vacinação da população, em especial àqueles mais vulneráveis”, diz.
Principais sintomas da Delta
Os principais sintomas ocasionados pela variante delta são febre, dor de cabeça, coriza e dor de garganta. Foi identificado que infecções causadas pela cepa costumam ter menor ocorrência de tosse e perda de paladar e olfato. Isso, em comparação a outras variantes do coronavírus, pode levar o paciente a confundir com os sintomas de um resfriado comum.
Outra característica da cepa, conforme estudo da Fundação Oswaldo Cruz, é de que existe maior risco de reinfecção em indivíduos infectados pela variante gama e beta, respectivamente identificadas primeiro em Manaus e África do Sul.
Além de Minas Gerais, casos de infecção pela delta foram registrados no Maranhão, no Rio de Janeiro, no Paraná, em Goiás, em São Paulo, em Pernambuco e no Distrito Federal. Transmissão comunitária foi confirmada em São Paulo e Rio de Janeiro.
Variantes do Sars-Cov-2
Variante Alfa
– Presente em quase todos os países do mundo, originária do Reino Unido;
– Primeira a ser detectada no mundo
– Responsável pela segunda onda do coronavírus no mundo
– Maior risco de hospitalização e mortalidade
– Todas as vacinas são eficazes
Variante Beta
– Presente em mais de 58 países, identificada na África do Sul
– Menos transmissível que a Alfa
– Pode ser mais letal
– Janssen e Pfizer são mais eficazes, mas há indícios que a Astrazeneca perde eficácia
Variante Gama
– Presente em mais de 48 países, foi identificada em Manaus
– É uma das mais transmissível
– Cerca de 98% dos novos casos de covid-19 no Brasil são ocasionados pela variante
– Gravidade ainda é estudada
– Há provas de eficácia da Coronavac e Astrazeneca
Variante Zeta
– Presente em mais de 48 países, descoberta no Rio de Janeiro
– É a mutação da P1. (de Manaus)
– Ainda não se sabe se ela pode ser mais transmissível ou mais letal
– A vacina da Janssen já se mostrou eficaz
Variante Delta
– Presente em mais de 100 países, identificada na Índia
– Pode ser de 50% a 100% mais transmissível do que as demais cepas
– Risco alto de internação
– A Pfizer afirmou que o imunizante possui eficácia reduzida contra variante. Já a AstraZeneca se mostrou 92% eficaz contra hospitalização pela cepa. O Butantan iniciou recentemente um estudo para medir a eficácia da CoronaVac, mas dados iniciais do fabricante indicam que a vacina consegue atuar contra a mutação. A Janssen anunciou que a vacina Janssen protege contra a variante por até oito meses
Variante P.4
– Ainda não há informações sobre abrangência mundial, identificada em Itirapina, São Paulo
– Ainda não há estudos sobre transmissibilidade, letalidade ou eficácia maior ou menor de vacinas contra esta variante
SES muda nomenclatura de casos da delta em Minas
A Secretaria de Estado da Saúde (SES) mudou nesta terça-feira a forma como comunica os casos de infecção pela variante Delta do coronavírus em Minas. Antes, a pasta afirmava haver “12 casos confirmados e 79 prováveis” e, agora, todos eles são tratados como “casos identificados”.
Por telefone, a assessoria de imprensa da SES alegou que para que uma infecção seja considerada “confirmada”, há diversos protocolos, que estão ligados, também, ao Ministério da Saúde, que devem ser seguidos.
Por isso, a secretaria optou pela nova nomenclatura. Com isso, o Estado passa a ter, oficialmente, 91 casos identificados da variante delta, com transmissão comunitária na maioria absoluta deles.
Ministério da Saúde
Em nota, o Ministério da Saúde informou que, nesta terça-feira, o país soma 1.405 casos de infecção pela variante delta do coronavírus.
São três em Alagoas, cinco em Amapá, seis no Amazonas, 62 no Ceará, 125 no Distrito Federal, sete no Espírito Santo, 26 em Goiás, sete no Maranhão (sendo seis identificados no navio que esteve no estado e um caso de viajante), 94 em Minas Gerais, dois no Pará, 58 no Paraná, sete em Pernambuco, 505 no Rio de Janeiro, 161 no Rio Grande do Sul, 43 em Santa Catarina, 266 em São Paulo e um em Tocantins.
Dentre os casos, 50 evoluíram para óbito. Mortes foram computadas em Goiás (1), Maranhão (1), Minas Gerais (2), Paraná (19), Pernambuco (1), Rio de Janeiro (10), Rio Grande do Sul (11), Santa Catarina (1) e no Distrito Federal (4).
Da Redação com OTempo