Desde o início da pandemia pela COVID-19, ao conhecer a estrutura do novo coronavírus, constatamos infelizmente que seria muito difícil erradicar a doença. E o Brasil, nas últimas semana, mais uma vez assiste a multiplicação de casos em associação com a presença de novas subvariantes do vírus. Uma das mais recente é a BQ.1, uma sublinhagem de BA.5, da Ômicron, que carrega mutações em pontos importantes, que conferem resistência aos anticorpos neutralizantes tanto gerados pela vacina, quanto por pessoas com infecção prévia.
A OMS aponta que a BQ.1 tem se espalhado mundialmente, já detectada em 65 países, incluindo o Brasil, e aqui, já apresenta uma prevalência de 9%. A Europa, a China e os Estados Unidos têm visto recete elevação do número de diagnósticos positivos e de internações. No Brasil, se confirmada uma nova onda, será a terceira registrada no país em menos de uma ano – todas ocasionadas pela Ômicron.
Sabemos que todos os vírus mudam com o tempo e o vírus da COVID-19, o SARS-Cov-2, sofre mutações a uma velocidade vertiginosa. Quanto menos o vírus for transmitido, menores as chances de ele sofrer mutações. Por isso, as medidas de proteção como usar máscaras e higienizar as mãos com sabão e álcool em gel, evitar aglomerações e manter o distanciamento social, além de completar o esquema vacinal contra a COVID-19, são iniciativas que funcionam contra todas as variantes da COVID-19.
Pelo menos cinco estados já registram casos da subvariante no país: São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Amazonas. A flexibilização de medidas de prevenção como o uso de máscaras, a higienização das mãos e o isolamento dos casos sintomáticos, ao lado de eventos que favorecem aglomerações como a Copa do Mundo e as festa de natal e ano novo, podem potencializar a transmissão do vírus e o surgimento de um novo pico da doença no país.
Esperamos que não tenhamos uma doença tão grave como em 2020 e 2021, mas de novo estar diante do aumento do número de casos e de internações pode trazer consequências muito graves a um país como o nosso que deverá entrar em uma agenda de reconstrução nos próximos meses. Temos que evitar mais uma vez o grave impacto socioeconômico da COVID-19 em um momento no qual ainda lidamos com a COVID longa e suas complicações e com todo o impacto negativo no sistema de saúde, que ainda enfrenta os problemas criados pela pandemia, como consultas, procedimentos e atendimentos que foram postergados por falta de recursos.
As vacinas já administradas (Pfizer, AstraZeneca, Coronavac, têm apenas proteção parcial contra a nova variante, com nível menor de eficácia. As novas versões ou mutações do vírus fazem com que a vacina desenvolvida com base em uma variante anterior não tenha eficácia tão alta contra essa nova variante.
A Pfizer e a Moderna anunciaram que o reforço da vacina bivalente contra a COVID-19 adaptada para as subvariantes BA.1 e BA.5 gerou uma forte resposta imune sendo já aprovada e aplicada na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e no Chile. O Brasil ainda não adquiriu essas vacinas, enquanto o mundo corre à frente para evitar uma explosão de casos. Devemos nos lembrar que nosso país até hoje, após 689.000 mortes pela COVID-19, não tem disponível para rede pública medicamentos comprovadamente eficazes contra a doença. Nosso país é o ambiente ideal para o vírus se multiplicar, porque tem uma população vulnerável de 69 milhões de brasileiros que não tomaram sequer a primeira dose de reforço contra a COVID-19. Aproximadamente 33 milhões de pessoas deveriam ter recebido a segunda dose de reforço contra a doença, e não o fizeram. Infelizmente, esses números retratam o negacionismo que marcou a condução da pandemia no Brasil e a falta de campanhas em massa para influenciar a população.
O Brasil precisa tomar as medidas necessárias para evitar um novo desastre social por essa doença. Considerando o momento atual de elevação de casos, recomendamos a todos que completem seu esquema de vacinação, que mantenham o uso de máscaras especialmente em locais de aglomeração, que mantenham o distanciamento social e o isolamento dos casos sintomáticos, suspeitos e confirmados. Sem as novas vacinas disponíveis e com uma população ainda com uma baixa adesão ao esquema vacinal, não devemos promover festas e reuniões fechadas.
O novo Brasil que esperamos desenhar em breve vai unir a população e as lideranças em torno da Ciência em busca da promoção da saúde plena a todos.
Da Redação com Prof.ª Ludhmila Hajjar/O Globo.