Os dispositivos móveis como celulares e tablets estão sendo cada vez mais utilizados por crianças e adolescentes, gerando muitos debates e discussões nos últimos anos. São ferramentas úteis para a comunicação, aprendizado e para obtenção de informações de forma rápida e prática. Por outro lado, pode haver efeitos negativos como exposição a conteúdo impróprio e tempo prolongado de uso de tela, com risco de dependência.
Além disso, outro risco recentemente trazido para esse debate é a possível associação entre a utilização excessiva de celulares, má postura e o desenvolvimento de problemas na coluna vertebral, como dores. Um estudo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP – e publicado na revista Healthcare constatou alguns fatores de risco que podem comprometer a saúde da coluna, a saber, utilização por mais de três horas ao dia, pouca distância entre a tela e o rosto, utilização dos aparelhos em posição de barriga para baixo e na posição sentada.
Foram avaliados 1.628 estudantes de 14 a 18 anos de idade, matriculados no ensino médio na cidade de Bauru (SP), por meio da aplicação de um questionário com o objetivo de pesquisar sobre a dor da coluna torácica – aquela dor que surge no meio das costas. O trabalho foi iniciado em 2017, sendo 1.393 alunos reavaliados em 2018. Demonstrou-se que a prevalência de dor nas costas entre os estudantes foi de 38,4% e a incidência – número de novos casos em um ano – foi de 10,1%. Os grupos com maior risco de desenvolver dores foram do sexo feminino. Fatores como problemas psiquiátricos associados, distância do celular em relação aos olhos superior a 20cm e utilizar os celulares/tablets na posição sentada ou deitada de bruços podem estar associados à a dor em coluna torácica.
Segundo o médico neurocirurgião, especialista em procedimentos minimamente invasivos da coluna e chefe da equipe de neurocirurgia do Hospital Municipal de Sete Lagoas, Felipe Mendes, além dos fatores de risco como excesso de peso, envelhecimento e falta de atividades físicas de fortalecimento, a postura incorreta é algo que deve ser levado em consideração quando o assunto é dor nas costas.
“A má postura pode afetar a biomecânica da coluna vertebral e dos músculos que a sustentam, principalmente nas regiões cervical e lombar. Essa postura viciosa faz os músculos da coluna ficarem em um estado de contração contínuo – trabalhando mais – para manter a estabilidade, o que leva à fadiga e dor. Além disso, pode haver uma maior compressão nos discos vertebrais, que funcionam como um amortecedor entre as vértebras, acelerando o processo de desgaste. Com o tempo, caso essa sobrecarga persista, até mesmo as curvas de alinhamento natural da coluna podem ser afetadas, intensificando o processo de dor e desconforto”.
O neurocirurgião explica que no caso da postura típica de quem fica ao celular com o pescoço para baixo e para frente, pode haver um aumento de até cinco vezes sobre o peso que a cabeça exerce sobre a coluna.
“Na posição neutra – orelhas alinhadas com os ombros – a cabeça de uma pessoa adulta pesa em torno de cinco quilos. Uma postura incorreta, com inclinação de mais de 60 graus da cabeça, aumenta esse peso para até 30 quilos.”
Segundo Felipe, infelizmente, o uso indiscriminado desses aparelhos tem gerado outro problema: pessoas se exercitando menos ou então com comportamento totalmente sedentário. “Esse tipo de atitude pode piorar ainda mais os problemas na coluna vertebral, intensificando o desenvolvimento de dores persistentes ou crônicas.”
A pesquisa é relevante, segundo o neurocirurgião especializado em coluna, já que faz com que pais, mães e responsáveis tenham mais informações a respeito de como o uso desses aparelhos pode prejudicar a vida de seus filhos, além de alertar escolas e professores para que criem programas educativos individuais e coletivos com o foco na promoção da saúde.
Com Inspira