A Índia enfrenta mais um desafio de saúde pública com o ressurgimento do vírus Nipah. Este patógeno, que faz parte da lista de prioridades da Organização Mundial da Saúde (OMS), suscita preocupações globais devido à sua letalidade e à falta de vacinas ou tratamentos disponíveis até o momento. O recente surto, com cinco casos confirmados sendo duas mortes no estado de Kerala, no sul da Índia, reacende o debate sobre a possibilidade de o Nipah se espalhar para outros países, incluindo o Brasil, e desencadear uma nova pandemia.
No entanto, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil destacam que, por enquanto, a probabilidade de uma disseminação rápida do Nipah é baixa. O vírus está restrito a regiões geográficas onde morcegos portadores do patógeno são encontrados. De acordo com a médica veterinária Helena Lage Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, “o Brasil não tem um risco atual para a introdução do Nipah”.
O virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, concorda que o risco de disseminação global é limitado, mas ressalta a importância de medidas efetivas para conter surtos em regiões específicas. “O mais importante está justamente em rastrear os pacientes e os contatos próximos deles, para evitar que uma pessoa com vírus se desloque para outros locais e crie novas cadeias de transmissão”, destaca Spilki.
- A situação atual na Índia
Nos últimos dias, Kerala enfrentou o fechamento de escolas e escritórios após cinco casos de infecção pelo Nipah serem confirmados. Duas pessoas perderam a vida, enquanto três pacientes, incluindo uma criança, permanecem hospitalizados. As autoridades locais estão tomando medidas para conter a disseminação, incluindo a observação de pessoas que estiveram em contato com as vítimas.
O ministro-chefe de Kerala, Pinarayi Vijayan, pediu à população que evite aglomerações e siga medidas preventivas, como o uso de máscaras. Embora enfatize que não há motivo para pânico, ele destaca a importância da vigilância constante.
- O Vírus Nipah: Origem e transmissão
O vírus Nipah foi identificado pela primeira vez em 1999 durante um surto na Malásia, originado em uma fazenda de suínos. Este patógeno, pertencente à família dos paramixovírus, compartilha semelhanças com vírus que causam caxumba e sarampo. Seu reservatório principal são morcegos frugívoros, particularmente do gênero Pteropus, também conhecidos como “raposas voadoras”. A transmissão para humanos ocorre por meio do contato direto com morcegos, fluidos corporais ou consumo de alimentos contaminados. Além disso, o Nipah pode ser transmitido de porcos infectados para seres humanos e outros animais.
A gravidade da infecção é alarmante, com uma taxa de letalidade de até 70%, contrastando com a Covid-19 e a gripe, que têm taxas significativamente mais baixas. Até o momento, não há vacina ou tratamento específico disponível para o Nipah, apenas tratamento de suporte para aliviar os sintomas.
- Histórico de surto e ameaça global
Desde 1999, surtos de Nipah ocorreram em vários países, incluindo Bangladesh, Índia, Singapura e outros. A OMS reconhece que países do Sudeste Asiático e da África também estão em risco, devido à presença de morcegos portadores do vírus.
A destruição de habitats naturais pelos seres humanos tem sido associada à disseminação do Nipah, à medida que morcegos frugívoros são atraídos para áreas habitadas. O Brasil, no entanto, não possui o tipo de morcego portador do vírus Nipah em seu território.
- Possibilidade de uma nova pandemia
Especialistas afirmam que, por enquanto, o risco de o Nipah se transformar em uma pandemia global é baixo. As autoridades indianas estão tomando medidas rigorosas para conter o surto atual, testando pessoas que tiveram contato direto ou indireto com as vítimas. Ações de vigilância global também são necessárias para monitorar indivíduos com sintomas sugestivos que tenham viajado para regiões afetadas.
Embora o Brasil tenha capacidade e estrutura para conter o Nipah, não há motivo para alarme imediato, de acordo com especialistas. A prevenção envolve evitar o contato com infectados e evitar o consumo de alimentos potencialmente contaminados em áreas afetadas.
No entanto, a comunidade global de saúde deve permanecer em alerta para responder prontamente a qualquer disseminação potencial do vírus, garantindo que o Nipah não se torne uma ameaça mais grave à saúde pública no futuro.
Da redação
Fonte: G1