A técnica de esmaltação em gel promete unhas fortes, de longa duração e até mesmo um alongamento. No entanto, por trás do resultado estético, o procedimento pode apresentar riscos à saúde.
Embora seja uma técnica relativamente recente, a ciência já alerta para os potenciais problemas de saúde associados ao uso de dispositivos de luz ultravioleta (UV), aos géis e a outros produtos, incluindo substâncias utilizadas para aumentar o tamanho das unhas ou prolongar a esmaltação. Esses problemas podem incluir alergias, lesões e até câncer.
“A aplicação desse tipo de procedimento não deve ser considerada rotineira para a população em geral, especialmente para aqueles mais suscetíveis a alergias”, afirma a dermatologista Anamaria da Silva Facina, professora da Unifesp.
O alerta da dermatologista é respaldado por estudos recentes que avaliam os potenciais danos à saúde. Pesquisas indicam que, além das alergias, podem ocorrer lesões decorrentes do trauma na parte abaixo da unha (leito ungueal), levando à queda da unha. Outra preocupação é a possível associação desse procedimento ao câncer de pele, que pode surgir até dez a 15 anos após a exposição à lâmpada ultravioleta.
Riscos associados aos raios ultravioletas
Um estudo publicado na revista Nature revelou que a exposição aos raios ultravioletas emitidos pelas lâmpadas usadas na secagem do gel pode ser cancerígena. Os pesquisadores observaram que esse efeito estava relacionado ao tempo de exposição, o que significa que o risco de câncer de pele aumenta com o uso a longo prazo.
“Para utilizar essa técnica de forma segura, é importante obter informações sobre o tipo de lâmpada utilizada, bem como os componentes do esmalte em gel e seu removedor. Em caso de dúvida, sempre consulte um dermatologista, fornecendo informações detalhadas sobre os produtos para receber orientações adequadas”, aconselha a dermatologista.
Alergias não podem ser ignoradas
Alergias são as complicações mais comuns e podem se manifestar como vermelhidão e coceira nas áreas próximas à aplicação, como dedos e mãos. No entanto, esses sintomas podem se espalhar para outras áreas do corpo, como as pálpebras, e a alergia pode não ser imediatamente diagnosticada. Além disso, algumas pessoas podem desenvolver alergias respiratórias.
Embora os efeitos da alergia possam ser percebidos durante o procedimento ou algumas horas depois, as alergias cutâneas secundárias, especialmente a certos tipos de metacrilatos e outros produtos, podem surgir após um período de uso. Um estudo recente indicou uma média de 30 meses para o desenvolvimento da alergia.
Daniel Soares de Sousa Dantas, médico infectologista formado pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas, enfatiza que qualquer alergia, ferida ou corte resultantes do procedimento devem ser diagnosticados e tratados. “Uma vez que a barreira natural da pele é comprometida, o risco de infecções bacterianas, fúngicas e outras doenças infecciosas, tanto agudas quanto crônicas, aumenta.”
Como se proteger?
Um dos aspectos mais preocupantes dos efeitos colaterais do uso do esmalte em gel é a falta de informação tanto por parte dos consumidores quanto dos profissionais de estética, que muitas vezes realizam o procedimento sem compreender os processos envolvidos e as potenciais complicações relacionadas a diferentes substâncias.
“O ideal é não utilizar o procedimento com frequência excessiva, usar luvas ou tecidos para proteger as mãos dos raios ultravioleta e expor apenas a parte da unha que está sendo tratada. Também é importante prestar atenção aos materiais utilizados na cola para adesão e certificar-se de que estão em conformidade com as regras sanitárias”, aconselha a dermatologista Renata Furtado, professora do Hospital Otávio de Freitas, em Recife. Além disso, é indicado aplicar protetor solar nas mãos antes do procedimento.
O infectologista Daniel Soares de Sousa Dantas enfatiza a importância da individualização do material, especialmente durante a higienização, lixamento e remoção da cutícula antes do procedimento, a fim de reduzir o risco de transmissão de doenças infecciosas crônicas, como hepatite B, hepatite C e o vírus HIV.
“Uma vez que esses materiais entram em contato com o sangue e não há garantia de que todos os instrumentos usados pelas manicures tenham sido adequadamente higienizados, é fundamental que cada pessoa leve seu próprio material de casa e garanta sua higienização e uso individual. Não compartilhe seus materiais com familiares ou amigos para evitar o uso de material contaminado.”
Avaliar a qualidade e procedência de todos os produtos envolvidos no procedimento de unhas em gel pode ser desafiador para aqueles que não estão familiarizados com o processo. Portanto, é aconselhável pesquisar quais produtos são autorizados pelos órgãos regulatórios.
Como os produtos de unhas em gel são relativamente novos no mercado, é importante acompanhar as regulamentações em constante evolução e, principalmente, estar atento a recalls de produtos. Em 2020, por exemplo, houve um recall na Inglaterra de um removedor de gel para unhas devido à presença de uma substância cancerígena.
“O diclorometano afeta o sistema nervoso central e pode causar câncer quando inalado, o que representa um risco para o cliente e para o profissional que realiza o procedimento”, explica Facina.
Há contraindicações?
Esse tipo de procedimento, devido à exposição a substâncias químicas e à luz ultravioleta, não é recomendado para gestantes, lactantes ou crianças.
Para aqueles que optam por realizar o procedimento e não apresentam sintomas adversos, Renata Furtado ressalta a importância de não manter o esmalte em gel por períodos prolongados, a fim de preservar a saúde das unhas naturais. Ela recomenda seguir as orientações fornecidas pelos profissionais e observar regularmente o estado das unhas antes e depois do procedimento.
Da Redação com UOL