A presença de chumbo nos copos térmicos da marca Stanley causou polêmica nas redes sociais nas últimas semanas. Vários usuários, principalmente nos Estados Unidos, realizaram testes rápidos que supostamente detectaram a substância nos produtos.
A fabricante confirmou que os copos têm, de fato, chumbo em sua composição. O metal é utilizado como material de vedação na base do copo, mas, segundo a empresa, um revestimento de aço inoxidável impede o contato direto com o consumidor.
Segundo o toxicologista e patologista clínico Álvaro Pulchinelli, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SPBC/ML), se o chumbo estiver isolado do consumidor, não há risco.
“Para que haja intoxicação, é preciso haver exposição efetiva da pessoa ao chumbo”, afirma.
O especialista acrescenta que o material é muito utilizado na indústria de tintas e vernizes, e na preparação de baterias. “O chumbo é usado em vários processos, e se houver sistema que isole o contato com o ambiente, não há perigo. A bateria de carro, por exemplo, tem chumbo, mas não fica em contato conosco”, diz.
Pulchinelli recomenda cuidado caso o copo térmico tenha algum dano físico, como trincos e rachaduras, que possam expor o seu interior ao contato humano.
“Se o copo está íntegro, não sofreu nenhuma queda, ele pode ser utilizado. Não havendo exposição, não há intoxicação”, afirma.
As formas mais comuns de intoxicação por chumbo são por ingestão oral ou de forma inalatória. O metal pesado leva décadas para ser eliminado do organismo, mesmo após a interrupção da exposição. Ele afeta vários sistemas do corpo, como neurológico, cardiovascular, gastrointestinal e hematológico, sendo especialmente prejudicial a crianças pequenas.
“Como muitas tintas têm chumbo em sua base, existem muitos casos de intoxicação de crianças que pegaram alguma casquinha e levaram à boca”, diz o profissional.
A absorção pode ser até cinco vezes maior em crianças do que em adultos, de acordo com o CDC (centros de controle e prevenção de doenças do governo americano). Em gestantes, o chumbo pode atravessar a placenta e atingir o cérebro do feto.
Um relatório de 2020 do Unicef, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) voltado para a infância, aponta que 800 milhões de crianças -ou uma a cada três- em todo o mundo têm níveis de chumbo no sangue iguais ou superiores a 5 microgramas por decilitro. Tal índice de contaminação demonstra a necessidade de intervenções globais e regionais, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O metal é uma potente neurotoxina e a exposição na infância causa danos irreparáveis. Os maiores riscos são para bebês e crianças menores de 5 anos, podendo provocar deficiências neurológicas, cognitivas e físicas, além de danos à saúde mental, de acordo com o Unicef.
No caso das crianças mais velhas, as consequências da contaminação incluem um risco aumentado de danos renais e doenças cardiovasculares, diz o relatório. Um estudo publicado em setembro passado na revista científica The Lancet Planetary Health estimou que 5,5 milhões de adultos morreram de doenças cardiovasculares em 2019 devido à exposição ao chumbo.
Da redação com o Folhapress