Uma das temáticas filosóficas de presença garantida no ENEM diz respeito ao embate (disputa) entre Racionalistas e Empiristas – ocorrido entre os séculos XVII (dezessete) e XVIII (dezoito). Esses dois grupos de cientistas possuíam uma clara divergência quanto à origem do nosso conhecimento: segundo os racionalistas, o conhecimento seguro provém da razão (do pensamento); enquanto, segundo os empiristas, a segurança viria dos nossos cinco sentidos. Não entendeu? Então vamos aos exemplos!
Um matemático está entre os racionalistas, visto que, para ele, as abstrações dos números são fontes seguras para conhecer as coisas. Já um biólogo de laboratório, que utiliza as observações (o olhar, o olfato, o tato…) para chegar à teoria, seria um empirista. Hoje lidamos bem com ambos os grupos, diríamos que são complementares, mas na época… era uma luta constante para saber quem tinha a ‘verdade’!
Bem, já sabemos os conceitos básicos (lembrando que saber conceitos primários no ENEM garante resolver uma questão de Ciências Humanas com mais rapidez e precisão). Agora, vamos nos informar quem foram os principais representantes dessas teorias.
Racionalismo
Do lado dos racionalistas temos René Descartes, conhecido como pai da teoria. Em sua obra denominada “As meditações” ele chega à formulação clássica do chamado cogito ou “Penso, logo existo”. Claramente se mostra um racionalista, pois, segundo Descartes, o pensamento é a certeza “clara e distinta” (ou verdade verdadeira, 100% segura)! Segue um pequeno resumo da obra, considerada por muitos como o início da era moderna.
As Meditações
Data da obra: 1641
Objetivo: estabelecer o que podemos conhecer com segurança, sem quaisquer vestígios de erros.
Estrutura: Seis meditações divididas em temas distintos
Contexto: o autor encontra-se na velhice e percebe que as coisas que tomara como verdadeiras, na verdade, não são.
Objetivo da obra
Qual conhecimento é “claro e distinto” e que podemos ter 100% de certeza?
Estrutura
A) Dúvida hiperbólica: colocar todas as coisas a nossa volta em “suspenso”, analisando cada conhecimento.
B) Como seria um trabalho “infinito”, o autor analisa três grandes alicerces do conhecimento…
1. Os sentidos trazem a verdade?
2. A realidade é verdadeira?
3. Deus é verdadeiro?
Ao analisar os pontos acima, Descartes percebe que os sentidos não trazem sempre a verdade; a realidade pode ser confundida com o sonho; Deus pode ser questionado. Ou seja, nenhum dos três “alicerces” considerados são, de fato, 100% certos – pois, caso fossem, não teríamos dúvidas.
Eu duvidei dos conhecimentos… Eu duvidei dos sentidos… Eu duvidei da realidade… Duvidei até de Deus… E vi que tudo parece demasiadamente falso. Se eu duvidei eu penso… Se eu penso… EU EXISTO!
Cogito, ergo sum (penso, logo existo)
Conclusões da obra
*A primeira certeza que podemos ter é a existência do nosso pensamento – e da nossa existência.
* Perceba que Descartes nega que nosso corpo possua um conhecimento seguro, já que ele depende dos sentidos.
* Por colocar o SUJEITO no centro, o filósofo é conhecido como “o pai da Filosofia Moderna”.
Empirismo
Do lado do empirismo temos dois autores clássicos – John Locke (sim, o iluminista que dizia que o Estado deveria garantir direitos básicos. Mas essa é outra história…) e David Hume. Vamos conhecer um pouco sobre as teorias destes autores?
John Locke (Wringtown, 29 de agosto de 1632 — Harlow, 28 de outubro de 1704) foi um filósofo inglês, considerado o pai do empirismo. Sua principal obra é denominada Ensaio acerca do entendimento humano, na qual discute acerca das origens do nosso conhecimento.
Principais teorias:
1. A nossa mente é uma folha em branco (tabula-rasa), que vai sendo preenchida com nossas experiências – evidenciando a grande tendência empírica do autor.
2. Segundo Locke, nosso conhecimento parte da experiência externa e os objetos conhecidos são transferidos para a mente (experiência interna), fazendo operações mentais (reflexões).
3. Distingue dois tipos de ideias: as ideias simples, material básico fornecido pelos sentidos (por exemplo, algo verde, redondo, ácido); e ideias complexas, ou seja, a formação do objeto como um todo (limão).
David Hume (Edimburgo, 7 de Maio de 1711 — Edimburgo, 25 de Agosto de 1776) foi um filósofo, historiador e ensaísta escocês que se tornou célebre por seu empirismo . Ao lado de John Locke e George Berkeley, Hume compõe a famosa tríade do empirismo britânico – sua principal obra é denominada Investigação sobre o Entendimento Humano.
1. Sua teoria básica aproxima-se da fornecida por Locke. Hume divide nosso conhecimento em impressões (dados fornecidos pelos 5 sentidos) e ideias (representações da mente).
2. Segundo Hume, a causalidade (teoria de que toda causa produz um efeito, como jogar um pincel para cima e – necessariamente – ele vir a cair) não passa de uma crença baseado no hábito. De fato, segundo nosso autor, “a relação de causa e efeito é uma crença baseada na experiência habitual de fatos semelhantes”; assim, a ciência não tem bases racionais – e sim habituais.
Pois bem…
Agora que você já sabe sobre racionalismo, empirismo e as teorias dos principais representantes, que tal vermos algumas questões? Partiu!
Questão ENEM 2012
TEXTO I
Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez.
DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
TEXTO II
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita.
HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).
Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume
A. defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo.
B. entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica.
C. são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento.
D. concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos.
E. atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento.
E a resposta correta é…
Letra E! Enquanto um é Racionalista o outro é empirista, lembra? Portanto, eles dizem (“atribuem”) que o conhecimento provém de lugares diferentes – um do pensamento (Descartes) e outro das sensações (Hume).
Questão ENEM 2015
Todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do que a faculdade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos e a experiência. Quando pensamos em uma montanha de ouro, não fazemos mais do que juntar duas ideias consistentes, ouro e montanha, que já conhecíamos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de conceber a virtude a partir de nossos próprios sentimentos, e podemos unir a isso a figura e a forma de um cavalo, animal que nos é familiar.
HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.
Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impressão ao considerar que
A. os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação.
B. o espírito é capaz de classificar os dados da percepção sensível.
C. as ideias fracas resultam de experiências sensoriais determinadas pelo acaso.
D. os sentimentos ordenam como os pensamentos devem ser processados na memória.
E. as ideias têm como fonte específica o sentimento cujos dados são colhidos na empiria.
E a resposta correta é…
Letra A! Embora a questão induza ao erro, por conter a palavra sentimento no texto de Hume, lembremos que o autor é um empirista… logo, as ideias tem origem na sensação.
Ficou fácil? Então, corra para estudar e treinar – ainda dá tempo. Lembre-se que um guerreiro tem de conhecer seu inimigo antes de enfrentá-lo! Conheça, portanto, a prova (fazendo as edições anteriores), observe seus erros e… sucesso!
Vamos que vamos!
Danilo Švágera da Costa (Panda) – Professor de Filosofia do Elite Master