Enquanto nos aproximamos do auge do verão, com temperaturas altas, roupas frescas, decotes, braços e pernas de fora, grifes se dedicam totalmente à criação da coleção de inverno – que será lançada nos grandes eventos de moda do país no início do próximo ano. Conceitos e temas são analisados, tendências estudadas, tecidos e aviamentos testados… ao mesmo tempo, pesquisas apontam o que será hit de vendas na próxima estação. Não há espaço para erros, já que uma coleção mal estruturada afasta lucros e destrói perspectivas de boas criticas. Longe do glamour dos editoriais, a indústria da moda corre contra seu próprio tempo.
O que se vê nas passarelas muda muito quando aparece nas lojas meses depois. Em grande parte dos grandes desfiles de lançamento, as idéias apresentadas aparecem como conceitos – não são formas prontas para enfrentarem as ruas. Para serem visualizadas por críticos, jornalistas e compradores, as peças devem ser chamativas e diferenciadas – o básico não atrai. As composições expressivas despertam o desejo de compra, instigam a imaginação. Releituras, inspirações em tempos passados, modelagens já antes usadas… sem importar a lógica, a roupa precisa ser “fresh”, aguçando os sentidos.
Para entender uma coleção de lançamento de moda, numa perspectiva de fashionista crítico e antenado, preconceitos devem ser deixados de lado. O gosto pessoal perde a força e a dúvida central passa a ser se a moda apresentada funciona ou não. Esqueça seu corpo, esqueça seu estilo pessoal e pense no todo – no resultado que aquelas formas podem exercer no público-alvo da grife e no poder daquela coleção dentro de seu tempo.
Atente-se as estampas, texturas, formatos… veja o que predomina na coleção, o que chama mais atenção. Decotes recorrentes, comprimentos que se repetem… é a partir disso que as tendências são analisadas. Quando algo aparece várias vezes, percebe-se que há uma certa vontade das grifes de verem aquelas peças nas lojas… mas não por acharem bonito ou adequado, mas sim por acreditarem que tal detalhe acarretará em boas e lucrativas vendas – ou então, críticas positivas. Mas, tudo que aparece como “must have” pega?! Não necessariamente. Entre a aprovação e as boas vendas, tem muito o que acontecer.
A moda pede seu tempo, é como uma pirâmide, há quem dite moda e quem siga as referências. Consumidores e criadores dançam com uma mesma música: alguns se baseiam em cópias, outros se jogam na autenticidade. A moda é uma indústria que busca sobreviver em meio a enorme concorrência e grande pressão. Compreender e aceitar o caminho que segue o setor requer tempo e paixão às roupas como elas são: ora história, ora comércio, mas sempre uma representação da cultura de seu tempo.
Amanda Medeiros
Consultora de Estilo
www.amandamedeiros.com
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